PROFESSOR SIMÃO KOSSOBUDZKI
MIROSLAU CONSTANTE BARANSKI (*)
A 28 de outubro de 1969 foi comemorado em Curitiba o centenário do nascimento do Professor Simão Kossobudzki. Através das suas instituições mais representativas - Assembléia Legislativa, Câmara Municipal, Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Paraná, Santa Casa de MisericcVdia e Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná - o Paraná tributou à sua memória, várias homenagens. A nós coube representar a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná na Comissão que se encarregou da organização das homenagens e proferir, em nome dela, alocução alusiva à efeméride, junto ao túmulo do Prof. Simão, no Cemitério Municipal de Curitiba. O resumo biográfico que ora escrevemos ressalta os traços mais marcantes dessa personalidade invulgar e a sua inestimável contribuição à nossa Faculdade de Medicina, ao Hospital da Santa Casa de Misericórdia, ao Paraná e às coletividades polonesa e polono-brasielira, radicadas no Brasil.
O ESTUDANTE
Nasceu Simão Kossobudzki a 28 de outubro de 1869 em Plock, na época a principal cidade da Mazóvia do Norte, às margens do rio Vístula, na Polônia. Filho de Ludovico e Cecília Kossobudzki, fêz os estudos primários na cidade natal e os secundários em Czesto-chowa.
Ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Var-sóvia em 1889. Tomou sempre parte muito ativa na vida estudantil e com atitudes, ditadas pelo seu grande patriotismo, atraiu sobre si perseguições políticas. Na época a parte da Polônia em que se situava Varsóvia pertencia à Rússia, sendo obrigatória a língua russa na administração e nas escolas.
Em 1894, quando aluno da quinta série e presidente da Associação Estudantil, foi sentenciado a degredo de cinco anos na Rússia. Seu comportamento e sua inquebrantável resistência valeram-lhe a boa vontade dos seus algozes que lhe permitiram terminar o curso de Medicina na Universidade de Kasan. Aí, doutorou-se com brilho invulgar ("cum exímia laude"), a 30 de novembro de 1895.

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O MÉDICO
Administrou e dirigiu pequeno hospital rural com apenas 18 leitos na vila de Lipowka, província de Orei, na Rússia oriental. Terminado o período de degredo, regressou à Varsóvia, em meados de 1899.
Trabalhou como primeiro assistente de técnica cirúrgica do professor W. AAaksymow na Faculdade de Medicina da Universidade de Varsóvia e como médico do Hospital do Menino Jesus (serviço do Prof. B. Sawicki), nosocômio do qual mais tarde chegou a ser Diretor. Tentou introduzir a língua polonesa nas observações clínicas, evoluções e receituários hospitalares. Empreendeu na época, várias viagens de estudo, para aperfeiçoamento, trabalhando em Wroclaw com o prof. J. Mikulicz, em Cracóvia com o prof. Kader, em Praga com o professor Karol Maydl, em Bech sur Mer com o prof. Menard, em Paris com o prof. Kirmisson, em Stuttgart corn o prof. Sonder e em Berlim com o Prof. Ludloff.
Fundou em 1903 em Varsóvia, com cinco outros colegas de profissão, o Instituto Cirúrgico Omega. Dedicou-se já, naquela época, a estudos de cirurgia experimental, relacionados com os grandes vasos da base do coração, publicados em língua russa na revista médica "Medycyna" (1903). Revelou-se, desde então, grande estudioso dos problemas médicos e cirúrgicos, que o credenciavam à pesquisa. Todavia, sua ideologia socialista, com participação ativa em prol dos trabalhadores, sua afiliação co Partido Polonês Socialista (P.P.S.) e sua luta pela independência da Polônia, levaram-no, uma vez mais, ao turbilhão revolucionário.
A fracassada revolução anti-tzarista de 1905 na Polônia teve nele ardoroso adepto e profissional devotado aos compatriotas feridos e necessitados. Esta nova atuação patriótica obrigou-o a deixar sua terra natal em 1906. Escolheu o Brasil como a sua segunda Pátria.
BRASIL
Após curta permanência em Campinas, no Estado de São Paulo, resolveu radicar-se no Paraná, já então sede de importante colônia de emigrados poloneses. Em nosso Estado, trabalhou inicialmente em São Mateus do Sul, posteriormente em Ponía Grossa e finalmente em Curitiba.
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PARANÁ
Assim, chegou Kossobudzki ao Paraná em 1907, mas só fixou residência em Curitiba, em 1912. Exatamente no ano em que o Paraná se preparava para tornar realidade a idéia pioneira de Rocha Pombo — a Universidade do Paraná, concretizada aos 19 dias de dezembro de 1912, como a primeira Universidade Brasileira e obra máxima de Vitor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo.
Teve o nosso Estado a felicidade de recebê-lo de braços abertos e de abrigá-lo durante vinte e sete anos, como a tantos outros emigrados poloneses, das mais variadas profissões e classes sociais.
Esta sempre hospitaleira receptividade por parte do povo e governo brasileiros representa uma enorme dívida do emigrante polonês, provindo de um País por tantas vezes partilhado pelos seus inimigos.
Teve essa dívida no professor Kossobudzki o seu mais significativo pagador. Sempre representou na comunidade polonesa e polono-brasileira do Paraná a figura ímpar de líder inconteste.
Com a sua invejável e inesgotável capacidade de trabalho, com o polifacetismo da sua personalidade invulgar, trouxe êle benefícios imensos ao País e ao Estado, que o acolheram, como naturalizado da sua coletividade, como ilustre médico e exímio cirurgião, como douto professor de medicina, jornalista ardoroso e polêmico, poeta, e acima de tudo, patriota.
Kossobudzki partilhava sempre o fanático amor pela sua Pátria natal com o patriótico apego ao Brasil, e particularmente ao Paraná, sua terra adotiva. Fêz do Brasil a sua segunda Pátria e naturalizou-se brasileiro. Foi nomeado major da Guarda Nacional em 1915.
FACULDADE DE MEDICINA
Nos primórdios do seu funcionmento, teve a Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná no Professor Simão Kossobudzki um dos seus Mestres mais ilustres e mais capacitados.
Trouxe êle para a nossa primeira Escola de Medicina, enorme bagagem de conhecimentos adquiridos na Polônia e na Rússia em seus estudos médicos e em estágios posteriores em importantes Clínicas Cirúrgicas da Europa, na mesma Polônia, na França, na Tche-coslováquia e na Alemanha.
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Lecionou êle na Faculdade de Medicina desde a primeira turma de médicos que nela ingressou em 1914. Foi professor de Clínica Propedêutica Cirúrgica da terceira série e de Clínica Cirúrgica da quarta e quinta séries, tendo sido nomeado lente catedrático da primeira em 1918 e das duas últimas em 1920. Além disso,interinamente, substituiu, nos seus impedimentos, os professores de Clínica Cirúrgica Pediátrica e Ortopédica, de Clínica Otorrinolaringológica e de Clínica Oftalmológica (5).
Esta simples enumeração dos dados oficiais pertinentes à carreira de professor universitário do Prof. Kossobudzki deixam bem evidente a sua ampla cultura médica em todos os seus setores, particularmente naqueles relacionados com a ciência e a arte cirúrgicas.
Com a posterior extinção da cadeira de Clínica Propedêutica Cirúrgica, lecionou até poucos meses antes de sua morte as Clínicas Cirúrgicas da quarta e quinta séries do Curso de Medicina.
Dedicou à Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná dezoito anos da sua laboriosa vida, com toda a sua capacidade de trabalho, sua inteligência privilegiada, sua honestidade profissional, sua consciência de cirurgião e sua esmerada técnica operatória.
Pelo inexcedível valor moral da sua personalidade deixou exemplo digno de ser seguido aos seus discípulos, alguns deles, ainda atualmente, dos mais ilustres e antigos professores das nossas Escolas Médicas.
No ano do seu falecimento, foi paraninfo da turma de médicos formandos, mas a morte o colheu na metade do ano letivo (8 de julho de 1934), impedindo o seu comparecimento às solenidades de formatura.
Ao proferir a oração de despedida ao Mestre e Amigo, quando do seu sepultamento, o Prof. Mário Braga de Abreu, enfatizava: "A obra de um homem com as vossas qualidades e com o vosso espírito guarda o selo da eternidade. Morrem, porque o ciclo da vida é morrer, mas vivem sempre na lembrança, nos fatos e na imagem do trabalho. Sois estes homens de vida imortal" (').
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
Ensinando Clínica Cirúrgica no então hospital-escola da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná, representado pela Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, é impossível separar na obra
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de Kossobudzki aquilo que realizou como professor, daquilo que fêz como cirurgião da Santa Casa, durante mais de vinte anos de desempenho dessa última função. As duas obras se completam para um mesmo fim: o ensino tão objetivo e prático quanto possível da Clínica Cirúrgica, desde a sua propedêutica, através do diagnóstico, até a execução operatória. Em todas essas fases, Kossobudzki foi inexcedível nos cuidados da semiologia, do diagnóstico e da técnica operatória esmerada. Dava enorme importância à assistência pessoal e carinhosa aos doentes e não permitia deslizes na execução do ato cirúrgico, valorizando a vida humana ao máximo.
Foi médico efetivo da Santa Casa de Misericórdia desde 1914 até o ano do seu falecimento. Foi chefe do Departamento de Cirurgia da Santa Casa e no período de 1930 a 1932 foi seu Diretor Clínico. Mandou construir na época um novo Departamento de Cirurgia.
Foi pioneiro no Paraná e também no Brasil de muitas técnicas operatórias, na época realizadas apenas na Europa. Eis que de lá trazia vasto cabedal de conhecimentos cirúrgicos.
CLÍNICA PARTICULAR
Montou na rua Vicente Machado n.° 27, em Curitiba, uma Casa de Saúde particular. Teve na época a maior Clínica Cirúrgica particular de Curitiba. Não obstante, com grande desapego aos bens materiais, faleceu possuidor de modestas posses. Teve necessidade de trabalhar como cirurgião e como professor até quase os últimos momentos de sua vida. A maior parte do que ganhou com seu trabalho dispendeu êle na ajuda aos seus conterrâneos emigrados ao Brasil, na redação e publicação de jornais e periódicos em línguas polonesa e portuguesa e no auxílio à Pátria natal distante.
ASSOCIAÇÕES MÉDICAS
Foi sempre colaborador dos mais operosos das associações da classe médica do Paraná. Foi sócio fundador das três associações que deram origem, em 2 de julho de 1933, à atual Associação Médica do Paraná: a Sociedade de Medicina do Paraná, com sede na Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná, fundada em 19 de agosto de 1914; a Sociedade Médica dos Hospitais do Paraná, fundada em 19 de dezembro de 1930; e o Sindicato Médico do Paraná, fundado em 3 de setembro de 1931. Até os últimos meses de sua existência, participou como membro dos mais ativos de quase todas as diretorias dessas associações. Excepcionalmente, dei-
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xava de comparecer as reuniões científicas e sociais das sociedades médicas paranaenses. Também só deixou de fazê-lo regularmente, poucos meses antes da sua morte. Naquelas a que comparecia, nunca deixava de participar ativamente, quer lendo trabalhos pessoais, quer comentando sistemática e inteligentemente trabalhos apresentados por seus colegas.
Foi colaborador assíduo dos periódicos médicos do Paraná — "Paraná Médico" e "Revista Médica do Paraná". Foi redator-chefe e editor da publicação médica mensal 'Paraná Médico", no período de 1925 a 1928.
TRABALHOS CIENTÍFICOS
A simples enumeração, que adiante fazemos, dos trabalhos científicos escritos pelo Prof. Kossobudzki, em várias línguas (português, polonês, russo e theco) e publicados em periódicos médicos do Brasil e do estrangeiro, revela a sua grande, para a época, contribuição científica (*).
1897 - Do tratamento das feridas infectadas, sobretudo das gangrenadas, com a assim chamada glicerina terebentinada. Em língua russa. "Medycyna" 14-8-1897.
1899 - Dois casos de encarceramento do útero grávido retrofletido.
"Dermatitis scarlatiniformis benigna". Em língua russa. "Medycyna l.°-4-1899, p.4.
Casos raros de prática hospitalar e de ambulatório: 1) Caso de ressecção da extremidade distai da tíbia por necrose após osteomielite aguda; 2) Dois casos de imperfuraçio congênita com malformação retal; 3) Prolapso do reto por aumento brusco da pressão intra-abdominal. Em língua russa. "Medycyna", 2-9-1899.
1900 - Contribuição ao tratamento de feridas infectadas. Em língua
russa. "Medycyna", 16-3-1900, p.3.
1901 - Três casos de envenenamento com tintura e extrato fluido
de "Canabis indica". — Em língua russa. "Medycyna", 22-2-1901, p. 3.
Tratamento da tuberculose pulmonar pelo ciamato de sódio. Apresentação de 38 casos tratados. Em língua russa. "Medycyna", 19-4-1901, p. 30.

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1902 - Contribuição para a casuística dos traumatismos da caixa
toráxica. Compressão da caixa toráxica. Síndrome de Per-thes. Em língua russa. "Medycyna", 18-7-1902.
1903 - Phenomenos observados "Post-Combustio Vaginae". Em
tcheco.
1910 - Algumas considerações sobre as feridas por tiro de carabi-nas militares modernas. Brasil Médico. 24 (33): 323-325 e 24 (34): 33-335, 1910.
1916 - Estreitamento absoluto do esophago. Gastrostomia pelo mé-
todo de Kacker-Ullmann-Souligoux, depois de 28 dias de fome. Paraná Médico ,1 (2): 17-20. Em língua portuguesa.
1917 - Algumas considerações sobre therapêutica cirúrgica da hér-
nia inguinal. Em língua portuguesa. Paraná Médico, 2 (1): 207-213.
Ferimento penetrante com prolapso de epiplon e de intestino. Paraná Médico, 1 (11): 177. Em língua portuguesa.
1918 - Reinaldo Machado como Cirurgião. Paraná Médico,
27-8-1918. Em língua portuguesa.
1925 - Operação plástica de esfinter anal. Paraná Médico, 7 (1):
9-11. Em língua portuguesa.
1926 - Mais um processo de tratamento radical da hérnia inguinal.
Paraná Médico, 7 (11-12): 145-146. Em língua portuguesa.
1927 - Malária ("Zimnica"). Em língua polonesa. Separata de 16
páginas do jornal "Swit", 1927. Escrito em decorrência da epidemia de malária na região de Cândido de Abreu, vale do Ivaí, nos anos de 1926-1927. Destinado a familiarizar os colonos daquela região com o quadro clínico, a profilaxia e o tratamento da doença.
1931 - Considerações sobre a appendicite em Curityba. Rev. Méd.
Paraná, 1 (1): 46-47, 1931. Em língua portuguesa.
1932 - Invaginações intestinaes. Rev. Méd. Paraná, 1 (2):97-102. Em
língua portuguesa.
Da contribuição científica do Prof. Kossobudzki ressaltam, como mais importantes, a originalidade dos conceitos emitidos e a contribuição ao aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas vigentes.
Foi um dos pioneiros na previsão da possibilidade de atuação cirúrgica sobre o coração. Executou pessoalmente, em Varsóvia, trabalhos de cirurgia experimental relacionados ao coração e aos grandes vasos da base.
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CONFERÊNCIAS
Durante os 27 anos de residência no Brasil, numa só ocasião, em 1922-1923, Kossobudzki, visitou a Polônia. Na oportunidade proferiu duas conferências, em Varsóvia: uma sobre o Brasil e outra sobre "A luta contra a ancilostomose; contribuição à epidemiologia e higiene dos países subtropicais", na Sociedade dos Médicos Poloneses.
LITERATURA E POESIA
Nas horas vagas, Kossobudzki foi também poeta e literato de grande sensibilidade. Entre as suas obras literárias, contam-se:
"W pamietna noc" (Na noite memorável). Em língua polonesa. Peça teatral em um ato. Impressa no jornal "Swit", Curitiba, 1928, 16 páginas. Escrita para comemorar a data da proclamação da Independência da Polônia (11 de novembro de 1918). Dedicada à exma. esposa do Marechal José Pilsudski, sra. Alexandra Pilsudska. Na primeira representação desta peça, a 11 de dezembro de 1927, fêz Kossobudzki o papel do personagem principal — Marechal José Pilsudski.
"Tu i tam. Odglosy paranskie" (Aqui e lá. Ecos do Paraná). Em língua polonesa. Coletânea de poesias. Impressa no jornal "Swit", 122 páginas.
Traduziu para a língua polonesa: "O caçador de esmeraldas" de Olavo Bilac ("Kultura", março de 1933), a "Pátria" de Olavo Bi-lac, o "Hino Nacional Brasileiro" ("Swit", 22-4-1925), "À Polônia" de Leôncio Correia, todos da língua portuguesa. Traduziu também do russo "Szarza polskich ulanów" de S. Golubincew; do ucraíno "Urywek" de P. Karmanskiej, e do alemão "Do robotnikow" (Aos trabalhadores) de H. Lerche.
JORNALISMO
Durante todos os anos da sua vida no Paraná, Kossobudzki consagrou-se, com ardor, às lides jornalísticas, tanto em língua portuguesa quanto polonesa.
De 1925 a 1926, editou em língua portuguesa o mensário "Eco da Polônia", no qual procurava esclarecer e defender os problemas poloneses. Em língua polonesa, foi redator do semanário "Niwa" fundado em 1912 e da publicação mensal "Kultura"; e redator e editor de 1924 a 1928 do jornal semanário "Swit" (Aurora).
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Foi sempre ardoroso defensor da ideologia do Marechal José Pilsudski, do qual foi sempre amigo e admirador incondicional.
Ainda em língua portuguesa, escreveu, em vários jornais de Curitiba, artigos por vezes polêmicos, defendendo com entusiasmo seus pontos de vista. A 30-12-1930 publicou na "Gazeta do Povo" resposta a artigo ofensivo aos poloneses do político e jornalista italiano Francisco Nitti ("Estado de São Paulo" de 21-12-1930). Isso valeu-lhe um atentado a bomba à sua residência, à rua Visconde do Rio Branco, na noite de 14 a 1 5 de janeiro de 1931. Felizmente, desse atentado resultaram apenas danos materiais.
Nunca foi ingrato è terra que o acolheu. Dedicou-lhe todo o seu idealismo e patriotismo. Defendeu na imprensa brasileira a obrigatoriedade do serviço militar e o ensino da língua polonesa nas escolas particulares do Paraná. Batalhou pela necessidade da participação ativa dos cidadãos de etnia polonesa no Brasil na vida social e política do País. Combateu veementemente a intromissão de elementos vindos do além-mar na vida social da colônia polonesa aqui radicada. Defendeu a integração desta colônia na comunidade brasileira, que a acolheu, bem como a seus filhos, muitos deles já aqui nascidos.
Em 1927, foi fundador e tomou parte ativa na primeira diretoria da Associação de Imprensa do Estado do Paraná.
ATIVIDADES SOCIAIS E POLÍTICAS
Grande parte das obras sociais realizadas pelos emigrados poloneses e seus filhos no Paraná e no Brasil, entre 1907 e 1934, tiveram no Prof. Kossobudzki inteligente idealizador e ardente in-centivador.
Assim coube a êle, em 1911, a presidência da Sociedade K. Pulaski, em São Mateus, e em 1912, da Sociedade "Óswiata" em Ponta Grossa. No ano em que começou a I Grande Guerra (1914) foi ardente defensor da Independência da Polônia, após 123 anos de contínuo jugo estrangeiro. Assim em 1914, foi presidente do Comitê de Defesa Nacional, da Associação em prol da Independência e da União dos Democratas Poloneses da América do Sul. Neste último cargo recepcionou o primeiro cônsul da Polônia Independente — K. Gluchowski.
Em 1921, foi presidente da União das Sociedades Progressistas Cultura à qual pertenciam as Sociedades — Escolas polonesas que mantinham escolas bilíngües no Brasil. De 1925 a 1927 e novamente em 1931, foi presidente da Sociedade da Escola Popular Marechal
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José Pilsudski, em Curitiba, onde fiz meu curso primário. Recordo-me ainda hoje da sua altivez de porte e de maneiras, de sua sizu-dez e severidade. Severo consigo mesmo, exigia dos outros um alto nível de compreensão dos seus deveres. No fundo, porém, sabíamos que era extremamente justo.
Importante pelo vulto numérico dos seus representantes (48131 no período de 1871 a 1934), a emigração de colonos poloneses para o Paraná nem sempre foi considerada de boa produtividade, por proceder de um território dominado, durante longos anos, por governos estranhos e despóticos (15). A criação de boas escolas se fazia premente, e para tanto grande foi a contribuição de Kossobudzki e de intelectuais outros, refugiados também da revolução anti-tzaris-ta de 1905. No início do atual século, vieram para o Estado do Paraná, além de Kossobudzki, os Profs. Júlio Szymanski, Miroslau Szeli-gowski, Antônio L Rydygier, Gabriel Nowicki, Casemiro Warcha-lowski, e outros, a constituir plêiade de intelectuais a quem muito o Paraná ficou a dever. Tanto isso é verdade, que o Prof. David Carneiro (4) acentuou, ao escrever a biografia do Prof. Kossobudzki: "Aqueles críticos que clamam contra o baixo nível de instrução e de capacidade anímica da massa de colonos poloneses trazidos ao Paraná esquecem que um homem da estatura moral e da capacidade intelectual do Dr. Simão Kossobudzki, pode redimir a insuficiência das massas, mesmo que esse ficasse isolado no meio de seus antigos patrícios, o que não é o caso".
Foi Kossobudzki presidente da secção polono-brasileira do Partido Republicano do Paraná de 1926 a 1930.
Pelas suas atividades em prol da Independência da Polônia foi condecorado com a Medalha da Independência, a Cruz Legionária e a Ordem da "Polônia Restituta".
Foi grande incentivador do crescente interesse pelo teatro por parte da colônia polonesa e polono-brasileira do Paraná. Em 1927, a unificação dos já existentes grupos de amadores teatrais, levou ao surgimento da Sociedade de Cultura Teatral- Coube à esposa do Prof. Simão, dona Halina e ao prof. Tadeu Morozowicz a direção da Sociedade.
VULTO PARANAENSE
Constitui indiscutivelmente personalidade de grande vulto na história de nosso Estado. Kossobudzki legou seu nome à uma das ruas da Capital do Estado, sua biografia consta do livro do Prof. David Carneiro "Grandes Vultos do Paraná. Galeria de ontem e de ho-
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je" (4) e dos "Perfis de Personalidades Paranaenses" de autoria do Prof. Ruy Christovam Wachowicz, na História do Paraná, da Gra-fipar (13).
VIDA FAMILIAR
Veio ao Brasil casado em segundas núpcias com dona Halina Kossobudzki, do qual teve dois filhos — Simão Luty e Adão Polan, ambos médicos diplomados pela Faculdade de Medicina da qual êle foi Professor e residentes no Brasil. Do primeiro matrimônio teve uma filha — Cecília, residente na Polônia.
FALECIMENTO
Faleceu em Curitiba em 8 de julho de 1934, após doença maligna do aparelho digestivo ("linitis plástica"). E a cirurgia que em suas mãos tantas vidas salvou, foi impotente para curá-lo.
Quando do seu sepultamento, discursaram, junto ao seu túmulo, os professores Erasto Gaertner (6), Mário Braga de Abreu (') e José Pereira de Macedo (') e também alguns dos seus mais íntimos colaboradores no trabalho social em prol da colônia polonesa no Paraná (2).
Em sessão da Assoiação Médica do Paraná de 30 de julho de 1934, dedicada à sua homenagem póstuma, falou o prof. Alô Guimarães- n.
PREITO DE HOMENAGEM, DE RECONHECIMENTO E DE SAUDADE
No centenário do seu nascimento (28 de outubro de 1969), diretor e professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná estiveram presentes, junto ao seu túmulo, para depositar uma coroa de flores, descerrar uma placa alusiva à efeméride e recordar os traços mais marcantes da sua personalidade. E como testemunho do reconhecimento dos seus méritos, os Anais da Faculdade de Medicina a que êle pertenceu como Mestre inesquecível, publicam este esboço biográfico. É que, numa época em que se costumam homenagear mediocridades, vultos da envergadura do Prof. Kossobudzki devem ser lembrados e reiteradamente enaltecidos. E também por que a Faculdade de Medicina da nossa Universidade, que hoje forma no primeiro plano das Faculdades brasileiras de outras Universidades, possuindo um patrimônio enorme de tradição, deve muito ao Prof. Simão Kossobudzki.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1) - Abreu, Mário Braga de: Discurso pronunciado por ocasião do sepultamento
do Prof. S. Kossobudzki. Rev. Méd. Paraná, 3 (7): 297-298, 1934.
2) - Baranski, João: "Wspomnienie pozgonne Prof. S. Kossobudzkiego" (Recorda-
ção póstuma do Prof. S. Kossobudzki). Oração não publicada, 1934.
3) - Brasil Médico: 24 (33): 323-325 e 24 (34): 333-335, 1910.
4) - Carneiro, David — Grandes vultos do Paraná. — Galeria de ontem e de hoje.
Livro primeiro — Livro de ontem. Editora Vanguarda, Curitiba, 1963, 563 pág.
5) - Dados Oficiais da Secretaria da Faculdade de Medicina da Universidade do Paraná.
6)- Gaertner, Erasto: Discurso proferido por ocasião do sepultamento do Prof.
S. Kossobudzki. Rev. Méd. Paraná. 3 (7): 295-297, 1934.
7) - Guimarães, Alô: Homenagem póstuma da Associação Médica do Paraná. Ses-
são de 30 de julho de 1934. Rev. Méd. Paraná, 3 (8): 319-325, 1934.
8)- Kossobudzki, Simão Luty: Comunicação pessoal ao autor.
9) - Macedo, José Pereira de: Professor Simão Kossobudzki. Rev. Méd. Paraná, 3
(8): 327-329, 1934.
10)- Paraná Médico: Vários números citados nos seus trabalhos científicos.
11) - Revista Médica do Paraná: Vários números citados nos seus trabalhos cientí-
ficos.
12) - Separatas dos trabalhos do Prof. Simão Kossobudzki, em língua russa e tcheca.
14) - Wachowicz, Ruy Christovam: As escolas da colonização polonesa no Brasil,
14) - Wachowicz, Ruy Christovam: As escolas da colonização polonesa no Brasil,
do Paraná, 3.° volume. Editora Grafipar, pág. 280-281. Curitiba.
14) - Wachowicz, Ruy Christovam: As escolas da colonização polonesa no Brasil,
1966. Trabalho apresentado para o concurso do Milênio Cristão da Polônia.
15) - Santos, José Nicolau dos: Primeiro Centenário da Emancipação Politica do
Paraná, pág. 94.
16) - Wójcik, Wladyslaw:75 lat prasy polskiej w Brazylji. Wspomnienia i refleksje.
("75 anos de imprensa polonesa no Brasil. Recordações e reflexões"). Rocznik czasopismiennictwa polskiego, T. Vil, z.2, nadbitka. Polska Akdemia Nauk, stron. 261-274.
17) - Wójcik, Wladyslaw: Dr. Szymon Kossobudzki. Kalendarz "Switu", na rok 1929.
(Anuário do jornal "Swit" para o ano 1929"), pág. 81-84, Curitiba, 174 pág.
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