R.C.Wachowicz (maszynopis)
Aspectos políticos e ideológicos da imigração polonesa no Brasil (1869-1964)
0 desencadeamento da imigração polonesa para o Brasil não foi expontâneo. Foi provocado em 1869 por duas persona1idades: Sebastião Edmundo Wos Saporski e o padre Antônio Zielinski. Do encontro dessas duas pessoas no vale do Itajaí, mais precisamente emGaspar (SC), surgiu a idéia de tentar provocar a vinda de imigrantes poloneses para o Brasil.
Saporski era um silesiano que fugiu para a Inglaterra e depois para a América do Sul, a fim de evitar o serviço militar obrigatório no exército prussiano. 0 padre Zielinski incorporou-se como capelão dos poloneses que foram enviados ao México, a fim de sustentar militarmente o trono do imperador imposto, de origem austríaca, Maximiliano.
Logo de início, Zielinski abandonou Saporski com os "seus" imigrantes, depois de muitos problemas, esses conseguiram fixar-se definítivamente em Pilarzinho, nos arredores de Curitiba (1871). A colônia de Abranches (1873) é conseqüência da vinda de parentes e amigos dos pioneiros de 1869.
Até o movimento imigratório ocorrido para o Brasil após a abolição da escravatura (1888), que na Polônia convencionou-se chamar de "febre brasileira", os imigrantes poloneses no Brasil ficaram como que abandonados e quase esquecidos. Poucos preooupavam-se com a sua sorte, inclusive na Polônia. Mesmo o grande movimento provocado pela política de Adolfo Lanenha Lins (1875-1876), trazendo milhares de poloneses para os arredores de Curitiba Colônias de Sta. Cândida, Tomás Coelho, Lamenha, D. Pedro, Orleans, Sto. Inácio, D. Augusto etc), não despertou responsabilidades entre os intelectuais poloneses.
Até então milhares de aldeãos haviam deixado o território polonês sem despertar maiores atenções nas classes íntelectualizadas. No Brasil, os imigrantes ficaram como que abandonados ao seu próprio destino.
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Na Polônia apenas um segmento da sociedade demonstrou algum interesse pelos milhares de poloneses no Brasil. Era a hierarquia católica. A religiosidade do aldeão fazia chegar, às au toridades eclesiásticas polonesas, insistentes pedidos de padres poloneses.
Para organizar esses imigrantes no Paraná, as autoridades civis e eclesiásticas brasileiras adotaram o modelo aplicado pelos norte-americanos: capelanias para as nacionalidades, e não paróquias, restritas a um território determinado.
Já em 1875 foi criada a capelania de Abranches e mais tarde as de Orleans, Murici e Tomás Coelho para os poloneses, e Sta. Felicidade para os Italianos.
Foram esses padres seculares, nem todos com razoável nível cultural, os elementos poloneses mais representativos. Vieram para o Brasil, mais interessados em "fazer Araerioa" do que em liderar comunidades. Esses padres no Brasil, até a "febre brasileira" podem ser estimados em cerca de duas dezenas.
Foi preciso um grande movimento imigratório para o Brasil, para que após 25 anos as altas esferas polonesas tomassem conhecimento de sua existência. Desde então vários grupos começaram a se preocupar com os imigrantes poloneses no Brasil.
Praticamente todo o espectro político-ideológico existente na sociedade polonesa, refletir-se-ia no Brasil:
1- elementos representantes dos latifundiários poloneses percorreram o Brasil ou escreveram negativamente sobre a imigração, a fim de deter o movimento para o Brasil, pois o mesmo vinha encarecendo a mão de obra rural na Polônia. Nesta categoria podemos classificar Adolf Dygasinski, MikolaJ Glinka, Pe. Zygmunt Chelmicki (todos estes membros da Sociedade Agrícola de Varsóvia), Marja Konopnicka etc. Esse grupo não teve longa duração. Dissolveu-se no início do século XX;
2- grupo de intelectuais nacionalistas que se agruparam em torno da revista "Przegląd Emigracyjny", editada pela Sociedade Comercial e Geográfica. Esta revista depois foi chamada de "Gazeta Handlowo-Geograficzna" e finalmente "Polski Przegląd Emigracyjny". A sede do grupo era em Lwów (atual Lemberg). Este grupo iniciou uma forte atividade no Brasil, visando no futuro a instalação de uma "Nova Colônia". Estiveram ligados a esse grupo: Stanislau Klobukowski, Antônio Hempel, José Siemieradzki, Antônio Z. Bodziak, Stanislau Zielinski, José Okolowicz (este último fundador do "Przegląd Emigracyjny" e, a partir de 1900, responsável pela redação da "Gazeta Polska", em Curitiba);
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3- grupos de intelectuais de formação esquerdista. 0 surgimento desse segmento no Brasil, foi liderado por Casemiro Warchalowski, chegando ao país em 1901. Em 1904, começava a funcionar em Curitiba o jornal "Polak w Brazylji" sob sua orientação. Esse grupo deu início ao “Tow. Szkoły ludowej" (Soc. Escolas Populares), Warchalowski esteve ligado à maçonaria e conse
quentemente próximo do governo brasileiro da época. Foi reconhecido oficialmente como representante da Polônia durante a Primeira Guerra Mundial. A esse grupo pertenceu o médico Simão Kossobudzki, professor da jovem Universidade do Paraná e fundador do jornal "Swit", considerado o mais progressista dos jornais em língua polonesa no Brasil;
quentemente próximo do governo brasileiro da época. Foi reconhecido oficialmente como representante da Polônia durante a Primeira Guerra Mundial. A esse grupo pertenceu o médico Simão Kossobudzki, professor da jovem Universidade do Paraná e fundador do jornal "Swit", considerado o mais progressista dos jornais em língua polonesa no Brasil;
4- grupo dos padres católicos. A partir de 1903 chegaram ao Paraná sacerdotes poloneses regulares, da Congregação da Missão (CM) e da Sociedade do Verbo Divino (SVD), que passaram a ocupar várias paróquias nos estados do sul do Brasil. Evidentemente era esse grupo
que exercia maior influência sobre os imigrantes e seus descendentes no Brasil. Paralelamente a essas organizações eclesiásticas masculinas, chegaram também as femininas, destacando-se as irmãs de São Vicente de Paulo e as da Sagrada Família.
que exercia maior influência sobre os imigrantes e seus descendentes no Brasil. Paralelamente a essas organizações eclesiásticas masculinas, chegaram também as femininas, destacando-se as irmãs de São Vicente de Paulo e as da Sagrada Família.
Na última década do século passado, as conseqüências da "febre brasileira" manifestavam-se no Brasil:
1- milhares de imigrantes estabeleciam-se nas colônias
situadas preferencialmente no interior dos Estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
situadas preferencialmente no interior dos Estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
2 - intelectuais poloneses destacavam-se sobretudo no Paraná e Rio Grande do Sul;
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3 - incrementava-se o intercâmbio entre a imprensa- polonesa e a imprensa surgida no Brasil;
4- estabeleciam-se ordens religiosas que tendiam a substituir o clero secular, até então exclusivo;
Em conseqüência direta desta maior atividade dos imigrantes poloneses no Paraná tivemos o surgimento de dois problemas históricos de primeira monta:
1- participação dos poloneses na revolução federalista
através do "Batalhão Gumercindo Saraiva", liderado por
Antônio Bodzíak, estabelecido como comerciante em S.
Mateus do Sul;
através do "Batalhão Gumercindo Saraiva", liderado por
Antônio Bodzíak, estabelecido como comerciante em S.
Mateus do Sul;
2- conflitos entre os padres e a intelectualidade polone-
sa, com as autoridades eclesiásticas brasileiras.
sa, com as autoridades eclesiásticas brasileiras.
A participação dos poloneses ao lado das forças "maragatas" na revolução federalista prende-se às péssimas condições da fixação à terra que o imigrante experimentou nos primeiros anos da República.
Por outro lado, estimulados pelo grupo da "Sociedade Comercial e Geográfica” de Lwów, algumas lideranças polonesas resolveram lutar por um espaço político na administração paranaense e brasileira, espaço este praticamente vedado a qualquer imigrante e seus descendentes no Brasil. A aventura política dos poloneses na revolução federalista esboroou-se com a derrota militar dos revolucionários.
Com o crescimento da imigração para o Paraná, sobretudo na última década do século XIX, esses começaram a incomodar as elites luso-brasileiras. As autoridades eclesiásticas, por exemplo, começaram a temer a força do clero e a pressão demográfica dessa nacionalidade. Para diminuir esta influência, as autoridades eclesiásticas de comum acordo com as autoridades civis, apesar da separação da Igreja do Estado a partir de 1889, começaram a esvaziar as antigas capelanias e a enviar os padres poloneses para paróquias de população predominantemente brasileira e padres brasileiros para as regiões colonizadas por poloneses.
Os poloneses já melhor organizados do que no tempo do império, resolveram contradizer o representante do bispo de S. Paulo, o vigário geral, padre Alberto Gonçalves.
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Tão acirradas foram as discussões entre os poloneses e a hierarquia católica brasileira, que o Vaticano resolveu criar a diocese de Curitiba, para facilitar a solução desses problemas, mesmo porque os contactos com São Paulo eram difíceis e morosos.
Com a criação da diocese em 1892 predominou o diálogo. Desta forma uma posição intermediária acabou prevalecendo:
1- as capelanias supra-regionais seriam extintas;
2- os imigrantes seriam organizados em paróquias;
3- os padres poloneses seriam designados preferencialmen
te para as paróquias de maioria polonesa, mas pelo bis_
po diocesano;
te para as paróquias de maioria polonesa, mas pelo bis_
po diocesano;
4- os bens paroquiais seriam escriturados para a diocese.
Para melhorar o nível do clero polonês no Paraná, o bispado trouxe para a região inicialmente duas ordens religiosas ligadas aos poloneses: a Congregação da Missão de São Vicente de PauIo (CM) em 1903 e a Sociedade do Verbo Divino (SVD), também em 1903. Na primeira dessas congregações os padres eram eseencialmente poloneses e na segunda era forte a presença alemã e holandesa.
Os padres da Congregação da Missão vieram para o Paraná dispostos a assumir a liderança da colônia polonesa. Em apenas dois anos visitaram todas as colônias e começaram a organizar suas populações em torno das paróquias e capelas. Segundo sua visão, era preciso contrabalançar a influência "esquerdista". Seus métodos eram muito incisivos, desconhecidos para os brasileiros; eram chefiados pelo padre Hugo Dylla. Estabeleceram-se na colônia Tomás Coelho e em dois anos realizaram "missões" em praticamente todas as colônias polonesas.
Tamanho foi o entusiasmo desses padres e sua penetração entre as populações não só polonesas como também luso-brasileiras, que conseguiram irritar a maçonaria paranaense, então muito ligada ao governo do Estado. Esta "irritação” estendeu-se mais ainda para com os "esquerdistas", dentro da própria imigração polonesa. Era um problema de disputa de liderança e hegemonia.
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Foram então os padres da CM denunciados às autoridades
brasileiras pelo grupo do jornal “Polak w Brazylji". A denúncia foi que eles exercia atividades anti-brasileiras. 0 superior Pe. Hugo Dylla foi preso por seis semanas em Rio Negro e posteriormente enviado para os Estados Unidos. Desta forma, Warchalowaki e a maçonaria conseguirão "esfriar" o entusiasmo dos padres da CM.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914) e as possibilidades da restauração da Polônia como nação livre e soberana, fizeram diminuir a temperatura desses conflitos no Brasil. As atenções se voltaram para o desfecho desse conflito bélico e na possibilidade da restauração do Estado polonês.
No período de entre guerras (1919-1939) foi o mais fecundo em termos de trabalho e organização da comunidade polono--brasileira. Ocorreram nesta fase importantes transformações na comunidade:
1- o ressurgimento do Estaco polonês e o conseqüente sur
gimento de autoridades diplomáticas desse país no Brasil;
gimento de autoridades diplomáticas desse país no Brasil;
2- o desaparecimento ou diluição do grupo organizado em I.wów e que tinha pretensões políticas definidas. Este grupo de certa forma caducou com a restauração da Polônia;
3- a bi-polarização da comunidade entre os grupos: "clerical" e "esquerdista".
Os"esquerdistas" se agruparam em torno da Sociedade "Kultura” que tinha por finalidade organizar as escolas polonêssas e difundir a instrução entre os imigrantes e seus descendentes. Possuíam como principal veículo de difusão o jornal "Swit" e em parte a "Gazeta Polska w Brazylij". A escola secundária Nicolau Copérnico, de Marechal Mallet, é uma de suas grandes realizações.
0 grupo "clerical" organizou-se em torno dos padres da Congregação da Missão e Verbo Divino. Para influir nas escolas de origem polonesa foi fundada a organização "Oświata", concorrente da "Kultura", tendo seu principal veículo de difusão o jornal “Lud”. Para facilitar aos jovens do interior o prosseguimento nos estudos, foi organizada a "Bursa" (Internato) em Curitiba. Elementos ligados à Sociedade do Verbo Divino fundaram também em Curitiba a Escola Secundária Henrique Sienkiewicz.
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Com o correr do tempo, a atuação do consulado polonês em Curitiba foi paulatinamente atraindo esses dois grupos-, tornando-se uma espécie de "fiel da balança". Da concorrência e rivalidade desses grupos e da interferência do oconsulado como uma espécie de "divisor de águas” entre ambos, surgirão novas instituições :
1- a organização da Sociedade de Educação Física "Junak"
que passou a contar com aproximadamente 100 núcleos
espalhados pelo sul do país;
que passou a contar com aproximadamente 100 núcleos
espalhados pelo sul do país;
2- uma Sociedade de Cultura Teatral;
3- entidades que congragavam os professores das escolas;
4- tentativa de Organizar um banco dentro da comunidade
a fim de estimular a agricultura, comércio e indústria etc;
a fim de estimular a agricultura, comércio e indústria etc;
5- tentativa de instalar no Brasil uma Igreja Nacional Polonesa para dividir os "clericais" etc.
Visando eliminar as rivalidades e as disputas entre os grupos, agora mais conhecidos por "Kultura" e "Oświata", sob o patrocínio do Consulado de Curitiba, surgiu em 1930 o "Centralny Związek Polaków" (União Central Polonesa).
Essa nova entidade tinha por objetivo básico centralizar e administrar todas as organizações polonesas no Brasil. Tanto a "Kultura" como a "Oświata" dela passaram a fazer parte, mas transcorridos dois anos, a "Oświata" com todas as suas organizações desfiliou-se e continuou sua trajetória prórpria.
A nacionalização de 1937-1938, promovida em pleno Estado Novo, desarticulou essas organizações. A deflagração da Segunda Guerra Mundial foi o golpe decisivo em toda esta estrutura surgida dentro da imigração polonesa.
Terminada a guerra, grande parte dessas instituições deixaram definitivamente de existir. As que sobreviveram foram aquelas que tinham em seus quadros associativos um razoável contingente de elementos já nascidos no Brasil. Os descendentes de imigrantes já em segunda ou terceira geração nascidos no Brasil,
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pela primeira vez tiveram uma oportunidade.
Os antigos "líderes” como que se evaporaram. A falta de Estímulos financeiros de parte da pátria distante tê-los desaparecerem da vida social comunitária.
Os despejos de toda esta antiga estrutura foram recolhidos por indivíduos na sua grande maioria já brasileiros e descendentes de imigrantes.
Identificamos dois períodos na história do após guerra:
1- de 1945 até 1964;
2- após 1964.
Até 1964 predominou a desorganização e o desinteresse nas organizações que sobreviveram à nacionalização do Estado Novo. Neste período as poucas lideranças existentes aproveitaram dessas organizações para finalidades políticas elettorfcisapessoais. Pouco se zelou pelas instituições em si. Diminutas foram as iniciativas de se tentar construir ou modificar qualquer coisa, a não ser a fusão da Sociedade "Zwiazek Polski" (União Polonesa) com o "Junak", da qual resultou a atual Sociedade União Juventus.
A partir do início da década de 1960, uma nova fase foi inaugurada através da Sociedade União Juventus, que começava a se destacar e a liderar a comunidade brasileiro-polonesa, especificamente no Paraná.
BIBLIOGRAFIA
ANAIS DA COMUNIDADE BRASILEIRO-POLONESA. Curitiba. 8 vol. 1970-1977.
GLUCHOWSKI, Ka/imierz. Wśród pionierów polskich na antepodach. Warszawa, Nakładem Instytutu Naukowego do Badań Emigr. i kolonizacji. 1927. 352 p.
KULA, Marcin. Polônia brazylíjska. Warszawa, Ludowa Spółdzielnia Wydawnlcza. 1981. 232 p
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