segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Aspectos. R. Wachowicz.

R.C.Wachowicz (maszynopis)
Aspectos políticos e ideológicos da imigração polonesa no Brasil (1869-1964)
0 desencadeamento da imigração polonesa para o Bra­sil não foi expontâneo. Foi provocado em 1869 por duas persona1idades: Sebastião Edmundo Wos Saporski e o padre Antônio Zielinski. Do encontro dessas duas pessoas no vale do Itajaí, ma­is precisamente emGaspar (SC), surgiu a idéia de tentar pro­vocar a vinda de imigrantes poloneses para o Brasil.
Saporski era um silesiano que fugiu para a Inglaterra e depois para a América do Sul, a fim de evitar o serviço militar obrigatório no exército prussiano. 0 padre Zielinski incorporou-se como capelão dos poloneses que foram enviados ao México, a fim de sustentar militarmente o trono do imperador imposto, de origem austríaca, Maximiliano.
Logo de início, Zielinski abandonou Saporski com os "seus" imigrantes, depois de muitos problemas, esses consegui­ram fixar-se definítivamente em Pilarzinho, nos arredores de Curitiba (1871).  A colônia de Abranches (1873) é conseqüência da vinda de parentes e amigos dos pioneiros de 1869.
Até o movimento imigratório ocorrido para o Brasil após a abolição da escravatura (1888), que na Polônia convencionou-se chamar de "febre brasileira", os imigrantes poloneses no Brasil ficaram como que abandonados e quase esquecidos.  Poucos preooupavam-se com a sua sorte, inclusive na Polônia. Mesmo   o grande movimento provocado pela política de Adolfo Lanenha Lins (1875-1876), trazendo milhares de poloneses para os arredores de Curitiba Colônias de Sta. Cândida, Tomás Coelho, Lamenha, D. Pedro, Orleans, Sto. Inácio, D. Augusto etc), não despertou responsabilidades entre os intelectuais poloneses.
Até então milhares de aldeãos haviam deixado o território polonês sem despertar maiores atenções nas classes íntelectualizadas. No Brasil, os imigrantes ficaram como que abandona­dos ao seu próprio destino.
2
Na Polônia apenas um segmento da sociedade demonstrou algum interesse pelos milhares de poloneses no Brasil. Era a hierarquia católica. A religiosidade do aldeão fazia chegar, às au toridades eclesiásticas polonesas, insistentes pedidos de padres poloneses.
Para organizar esses imigrantes no Paraná, as autori­dades civis e eclesiásticas brasileiras adotaram o modelo apli­cado pelos norte-americanos: capelanias para as nacionalidades, e não paróquias, restritas a um território determinado.
Já em 1875 foi criada a capelania de Abranches e ma­is tarde as de Orleans, Murici e  Tomás Coelho para os polone­ses, e  Sta. Felicidade para os Italianos.
Foram esses padres seculares, nem todos com razoável nível cultural, os elementos poloneses mais representativos. Vieram para o Brasil, mais interessados em "fazer Araerioa" do que em liderar comunidades.  Esses padres no Brasil, até a "febre brasileira" podem ser estimados em cerca de duas dezenas.
Foi preciso um grande movimento imigratório para o Brasil, para que após 25 anos as altas esferas polonesas tomas­sem conhecimento de sua existência. Desde então vários grupos começaram a se preocupar com os imigrantes poloneses no Brasil.
Praticamente todo o espectro político-ideológico existente na sociedade polonesa, refletir-se-ia no Brasil:
1- elementos representantes dos latifundiários poloneses percorreram o Brasil ou escreveram negativamente  so­bre a imigração, a fim de deter o movimento para o Brasil, pois o mesmo vinha encarecendo a mão de obra rural na Polônia. Nesta categoria podemos classificar Adolf Dygasinski, MikolaJ Glinka, Pe. Zygmunt Chelmicki (todos estes membros da Sociedade Agrícola de Varsóvia), Marja Konopnicka etc.  Esse grupo não teve longa duração. Dissolveu-se no início do século XX;
2-  grupo de intelectuais nacionalistas que se agruparam em torno da revista "Przegląd Emigracyjny", editada pela Sociedade Comercial e Geográfica. Esta revista depois foi chamada de "Gazeta Handlowo-Geograficzna" e finalmente "Polski Przegląd Emigracyjny". A sede do grupo era em Lwów (atual Lemberg). Este grupo iniciou uma forte atividade no Brasil, visando no futuro  a instalação de uma "Nova Colônia". Estiveram ligados a esse grupo: Stanislau Klobukowski, Antônio Hempel, José Siemieradzki, Antônio Z. Bodziak, Stanislau Zielinski, José Okolowicz (este último fundador do "Przegląd Emigracyjny" e, a partir de 1900, responsável pela redação da "Gazeta Polska", em Curitiba);
            3
            3- grupos de intelectuais de formação esquerdista. 0 surgimento desse segmento no Brasil, foi liderado por Casemiro Warchalowski, chegando ao país em 1901. Em 1904, começava a funcionar em Curitiba o jornal "Polak w Brazylji" sob sua orientação. Esse grupo deu início ao  Tow. Szkoły ludowej" (Soc. Escolas Popula­res), Warchalowski esteve ligado à maçonaria e conse
quentemente próximo do governo brasileiro da época. Foi reconhecido oficialmente como representante da Polônia durante a Primeira Guerra Mundial. A esse grupo pertenceu o médico Simão Kossobudzki, professor da jovem Universidade do Paraná e fundador do jornal "Swit", considerado o mais progressista dos jornais em língua polonesa no Brasil;
            4- grupo dos padres católicos. A partir de 1903 chegaram ao Paraná sacerdotes poloneses regulares, da Congrega­ção da Missão (CM) e da Sociedade do Verbo Divino (SVD), que passaram a ocupar várias paróquias nos es­tados do sul do Brasil. Evidentemente era esse grupo
que exercia maior influ
ência sobre os imigrantes   e seus descendentes no Brasil.  Paralelamente a essas organizações eclesiásticas masculinas, chegaram tam­bém as femininas, destacando-se as irmãs de São Vi­cente de Paulo e as da Sagrada Família.
Na última década do século passado, as conseqüências da "febre brasileira" manifestavam-se no Brasil:
1-            milhares de imigrantes estabeleciam-se nas colônias
situadas preferencialmente no interior dos Estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul;
2 - intelectuais poloneses destacavam-se sobretudo   no Paraná e Rio Grande do Sul;

4

3 - incrementava-se o intercâmbio entre a imprensa- polonesa e a imprensa surgida no Brasil;
4- estabeleciam-se ordens religiosas que tendiam a subs­tituir o clero secular, até então exclusivo;
Em conseqüência direta desta maior atividade dos imi­grantes poloneses no Paraná tivemos o surgimento de dois proble­mas históricos de primeira monta:
1-           participação dos poloneses na revolução federalista
através do "Batalhão Gumercindo Saraiva", liderado por
Antônio Bodzíak, estabelecido como  comerciante em  S.
Mateus do Sul;
2-           conflitos entre os padres e a intelectualidade polone­-
sa, com as autoridades eclesiásticas brasileiras.
A participação dos poloneses ao lado das forças "maragatas" na revolução federalista prende-se às péssimas condições da fixação à terra que o imigrante experimentou nos primeiros anos da República.                                                  
Por outro lado, estimulados pelo grupo da "Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów, algumas lideranças polonesas resolveram lutar por um espaço político na administração paranaen­se e brasileira, espaço este praticamente vedado a qualquer imi­grante e seus descendentes no Brasil. A aventura política dos poloneses na revolução federalista esboroou-se com a derrota mili­tar dos revolucionários.
Com o crescimento da imigração para o Paraná, sobretudo na última década do século XIX, esses começaram a incomodar as elites luso-brasileiras. As autoridades eclesiásticas, por exemplo, começaram a temer a força do clero e a pressão demográfi­ca dessa nacionalidade. Para diminuir esta influência, as autoridades eclesiásticas de comum acordo com as autoridades civis, apesar da separação da Igreja do Estado a partir de 1889, começaram a esvaziar as antigas capelanias e a enviar os padres poloneses para paróquias de população predominantemente brasileira e padres brasileiros para as regiões colonizadas por poloneses.
Os poloneses já melhor organizados do que no tempo do império, resolveram contradizer o representante do bispo de S. Paulo, o vigário geral, padre Alberto Gonçalves.

5
Tão acirradas foram as discussões entre os poloneses e a hierarquia católica brasileira, que o Vaticano resolveu cri­ar a diocese de Curitiba, para facilitar a solução desses problemas, mesmo porque os contactos com São Paulo eram difíceis e mo­rosos.
Com a criação da diocese em 1892 predominou o diálogo. Desta forma uma posição intermediária acabou prevalecendo:
1-           as capelanias supra-regionais seriam extintas;
2-           os imigrantes seriam organizados em paróquias;
3-           os padres poloneses seriam designados preferencialmen­
te para as paróquias de maioria polonesa, mas pelo bis_
po diocesano;
4- os bens paroquiais seriam escriturados para a diocese.
Para melhorar o nível do clero polonês no Paraná, o bispado trouxe para a região inicialmente duas ordens religiosas li­gadas aos poloneses: a Congregação da Missão de São Vicente de PauIo (CM) em 1903 e a Sociedade do Verbo Divino (SVD), também   em 1903. Na primeira dessas congregações os padres eram eseencialmente poloneses e na segunda era forte a presença alemã e holandesa.
Os padres da Congregação da Missão vieram para o Paraná dispostos a assumir a liderança da colônia polonesa. Em apenas dois anos visitaram todas as colônias e começaram a organizar su­as populações em torno das paróquias e capelas. Segundo sua  vi­são, era preciso contrabalançar a influência "esquerdista". Seus métodos eram muito incisivos, desconhecidos para os brasileiros; eram chefiados pelo padre Hugo Dylla. Estabeleceram-se na colô­nia Tomás Coelho e em dois anos realizaram "missões"  em prati­camente todas as colônias polonesas.
Tamanho foi o entusiasmo desses padres e sua penetra­ção entre as populações não só polonesas como também luso-brasileiras, que conseguiram irritar a maçonaria paranaense, então muito ligada ao governo do Estado. Esta "irritação estendeu-se mais ainda para com os "esquerdistas", dentro da própria imigra­ção polonesa. Era um problema de disputa de liderança e hegemo­nia.
6
Foram então os padres da CM denunciados às autoridades
brasileiras pelo grupo do jornal Polak w Brazylji". A denúcia foi que eles exercia atividades anti-brasileiras.  0 supe­rior Pe. Hugo Dylla foi preso por seis semanas em Rio Negro  e posteriormente enviado para os Estados Unidos.  Desta forma, Warchalowaki e a maçonaria conseguirão "esfriar" o entusiasmo  dos padres da CM.
Com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914) e  as possibilidades da restauração da Polônia como nação livre e soberana, fizeram diminuir a temperatura desses conflitos no Brasil. As atenções se voltaram para o desfecho desse conflito bélico e na possibilidade da restauração do Estado polonês.
No período de entre guerras (1919-1939) foi o mais fecundo em termos de trabalho e organização da comunidade polono--brasileira. Ocorreram nesta fase importantes transformações na comunidade:
1-            o ressurgimento do Estaco polonês e o conseqüente sur
gimento de autoridades diplom
áticas desse país no Brasil;          
2-            o desaparecimento ou diluição do grupo organizado em I.wów e que tinha pretensões políticas definidas. Es­te grupo de certa forma caducou com a restauração da Polônia;
3-    a bi-polarização da comunidade entre os grupos: "clerical" e "esquerdista".
Os"esquerdistas" se agruparam em torno da Sociedade "Kultura que tinha por finalidade organizar as escolas polonêssas e difundir a instrução entre os imigrantes e seus descendentes. Possuíam como principal veículo de difusão o jornal "Swit" e em parte a "Gazeta Polska w Brazylij". A escola secundá­ria Nicolau Copérnico, de Marechal Mallet, é uma de suas gran­des realizações.
0 grupo "clerical" organizou-se em torno dos padres da Congregação da Missão e Verbo Divino. Para influir nas esco­las de origem polonesa foi fundada a organização "wiata", concorrente da "Kultura", tendo seu principal veículo de difusão o jornal Lud. Para facilitar aos jovens do interior o prossegui­mento nos estudos, foi organizada a "Bursa" (Internato) em Curi­tiba.  Elementos ligados à Sociedade do Verbo Divino fundaram também em Curitiba a Escola Secundária Henrique Sienkiewicz.

            7

Com o correr do tempo, a atuação do consulado polonês em Curitiba foi paulatinamente atraindo esses dois grupos-,  tor­nando-se uma espécie de "fiel da balança". Da concorrência e rivalidade desses grupos e da interferência do oconsulado como uma es­pécie de "divisor de águas entre ambos, surgirão novas institui­ções :
1-     a organização da Sociedade de Educação Física "Junak"
que passou a contar com aproximadamente 100 núcleos
espalhados pelo sul do país;
2-     uma Sociedade de Cultura Teatral;
3-     entidades que congragavam os professores das escolas;
4-     tentativa de Organizar um banco dentro da comunidade
a fim de estimular a agricultura, comércio e indútria etc;
5-            tentativa de instalar no Brasil uma Igreja Nacional Polonesa      para dividir os "clericais" etc.
Visando eliminar as rivalidades e as disputas entre os grupos, agora mais conhecidos por "Kultura" e "Oświata", sob  o patrocínio do Consulado de Curitiba, surgiu em 1930 o "Centralny Związek Polaków" (União Central Polonesa).
Essa nova entidade tinha por objetivo básico centrali­zar e administrar todas as organizações polonesas no Brasil. Tan­to a "Kultura" como a "Oświata" dela passaram a fazer parte, mas transcorridos dois anos, a "Oświata" com todas as suas organizações desfiliou-se e continuou sua trajetória prórpria.
A nacionalização de 1937-1938, promovida em pleno Es­tado Novo, desarticulou essas organizações. A deflagração da Se­gunda Guerra Mundial foi o golpe decisivo em toda esta estrutura surgida dentro da imigração polonesa.
Terminada a guerra, grande parte dessas instituições deixaram definitivamente de existir. As que sobreviveram foram aquelas que tinham em seus quadros associativos um razoável con­tingente de elementos já nascidos no Brasil. Os descendentes  de imigrantes já em segunda ou terceira geração nascidos no Brasil,

            8
pela primeira vez tiveram uma oportunidade.
Os antigos "líderes” como que se evaporaram. A falta de Estímulos financeiros de parte da pátria distante tê-los de­saparecerem da vida social comunitária.
Os despejos de toda esta antiga estrutura foram reco­lhidos por indivíduos na sua grande maioria já brasileiros e des­cendentes de imigrantes.
Identificamos dois períodos na história do após guer­ra:
1-  de 1945 até 1964;
2-  após 1964.
Até 1964 predominou a desorganização e o desinteresse nas organizações que sobreviveram à nacionalização do Estado Novo. Neste período as poucas lideranças existentes aproveitaram dessas organizações para finalidades políticas elettorfcisapessoais. Pouco se zelou pelas instituições em si. Diminutas foram as iniciativas de se tentar construir ou modificar  qualquer coisa, a não ser a fusão da Sociedade "Zwiazek Polski" (União Polonesa) com o "Junak", da qual resultou a atual Sociedade União Juventus.
A partir do início da década de 1960, uma nova fase foi inaugurada através da Sociedade União Juventus, que começava a se destacar e a liderar a comunidade brasileiro-polonesa, espe­cificamente no Paraná.
BIBLIOGRAFIA
ANAIS DA COMUNIDADE BRASILEIRO-POLONESA. Curitiba. 8 vol. 1970-1977.
GLUCHOWSKI, Ka/imierz. Wśród pionierów polskich na antepodach. Warszawa, Nakładem Instytutu Naukowego do Badań Emigr. i kolonizacji. 1927. 352 p.
KULA, Marcin. Polônia brazylíjska. Warszawa, Ludowa Spółdzielnia Wydawnlcza. 1981. 232 p

Nenhum comentário:

Postar um comentário