segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A situação dos polonesês em Curitiba. O. Ianni.


Octavio Ianni
A SITUAÇÃO SOCIAL DO POLONÊS EM CURITIBA
(Projeto de estudo)

1. Introdução
No longo e complexo processo de europeização do mun­do, que se iniciou com os grandes descobrimentos marítimos dos sé­culos XV e XVI, nem sempre os europeus têm logrado pleno êxito. Não somente no contacto com ordens sôcio-culturais não européias,  mas também com aquelas fundadas por europeus nas  "áreas novas",  eles têm enfrentado problemas mais ou menos graves, que puseram em evi­dência o caracter peculiar de cada cultura.
Muitas são as investigações sociológicas que têm fo­calizado as condições e os resultados  do contacto sócio-cultural entre os europeus e os outros povos. Particularmente no século XX, estes estudos multiplicaram-se rapidamente.  Este projeto se desti­na a levantar alguns problemas ligados ao contacto  sócio-cultural entre um certo tipo de europeu - o polonês - com os  "brasileiros" (1) de Curitiba.  Mais precisamente, procuraremos examinar alguns problemas sociológicos,  suscetíveis de  serem focalizados por uma investigação empírica restrita, que será realizada em uma comunida­de onde os poloneses  entraram em contacto com uma sociedade funda­da e organizada segundo modelos culturais e sociais  europeus. No longo processo de europeização do mundo, pois, os europeus têm sido colocados na contingência de ajustar-se  também a europeus mais ou menos transformados, nos seus padrões culturais, nas suas institui­ções e patrimônio étnico.
Os problemas e as diretrizes que serão apontados e dis­cutidos neste projeto de estudo foram levantados à base do material empírico colhido por nós, diretamente, nas diversas ocasiões em que estivemos na comunidade. As nossas preocupações com outros fenôme­nos sociais (2) levaram-nos a conhecer as linhas gerais da complexa situação de contacto inter-racial vigente em Curitiba, da qual pre­tendemos destacar, agora, a situação do polonês e seus descendentes.
Conforme  pudemos verificar,  diversos  elementos  sócio-culturais  põem em evidência  a peculiaridade da situação em que se encontram esses imigrantes. 0 contacto com a comunidade, o conhe­cimento dos estereótipos correntes ali, os dados e as explicações fornecidas por alguns informantes selecionados, ao lado do conheci­mento da distribuição dos poloneses e seus descendentes no conjunto da estrutura social, revelam-nos a existência de um "problema so­cial", cujos caracteres pretendemos conhecer, dado o seu interesse prático e eventual importância teórica. Tanto no quadro da situação apresentada pelo contacto entre negros e brancos, como com respeito às relações com alemães, italianos, brasileiros, etc, a  situação social dos poloneses deve ser considerada peculiar. Deveremos, portanto, levar em conta também a composição heterogênea da comunidade, seja no que diz respeito aos europeus que participam da vida de Curi­tiba, seja com relação aos seus descendentes mais ou menos híbridos, étnica e culturalmente.
Antes de passarmos à proposição e discussão dos objeti­vos centrais da pesquisa, vejamos duas questões preliminares que devem ser levantadas inicialmente. Uma delas diz respeito a alguns conceitos básicos que serão utilizados neste projeto, enquanto que a outra se liga ao método interpretativo que pretendemos utilizar no desenvolvimento da investigação.
A seguir discutiremos suscintamente as hipóteses dire­trizes que elaboramos com vistas à realização da reconstrução e  in­terpretação do fenômeno proposto. Finalmente, examinaremos os  prin­cipais itens da pesquisa, em conexão com os procedimentos de observa­ção a serem manipulados na investigação propriamente dita.



2. Conceitos básicos
Já que o nosso objetivo será a investigação do  proces­so de integração social do imigrante  polonês em Curitiba,  devemos, inicialmente, esclarecer o que se entenderá por "imigrante" e  "po­lonês" daquí por diante. Entenderemos por imigrante, em geral,  como sendo aquele indivíduo proveniente de comunidade alienígena,  seja o polonês, o alemão, o italiano, etc. Listinguiremos, quando necessá­rio, o imigrante de primeira geração, que é aquele que vem de  outro país, daquele de segunda fração, que é o filho, nascido no Brasil, de pais poloneses. Imigrante de terceira geração seria o neto destes; e assim sucessivamente. Do mesmo modo, a expressão polonês será uti­lizada para denominar o imigrante de primeira, segunda ou terceira geração, sendo que, na medida do necessário, serão dados os qualifi­cativos adequados ao rigor da expressão. Justifica-se o uso da expressão "polonês", mesmo para indivíduos descendentes nascidos no Brasil, porque, segundo os elementos empíricos reunidos por nós, em Curitiba é distinguido socialmente como tal, tanto o indivíduo natural da Po­lônia como aquele descendente nascido no Brasil, inclusive, às vezes, alguns mestiços de poloneses e brasileiros ou membros de outras  et­nias. Trata-se de uma definição social, que é elaborada pelos próprios membros da comunidade, "Polaco", na linguagem popular da comunidade, não é apenas a expressão verbal de um estereótipo negativo, como mos­traremos oportunamente, mas uma palavra que define as ligações  étni­cas, socialmente definidas, tanto do imigrante da primeira como das outras gerações. Em conseqüência, vejamos agora o conceito de raça,  con­forme se adequa ao grupo polonês de Curitiba. 0 conhecimento dessa situação inter-racial, permitiu-nos colher evidências com o fim de caracterizar o polonês, isolado ou em grupo, em termos sociológicos. Podemos, pois, apresentar aqui o conceito sociológico de raça que orientará a dis­cussão posterior. Antes de mais nada, convém lembrar que "raça", nesse sentido, se define pela aglutinação de conjuntos de crenças e opiniões que se desenvolvem do contacto prolongado entre dois ou mais grupos étnicos. Segundo Oopeland, "raça, no sentido sociológico (não no sentido de agregado zoológico), é um tipo de público criado pela própria consciência dos seus membros, consciência essa que emerge em conseqüência da difusão de uma ideologia racial determinada" (3), que é elaborada por um e "outro" grupo, ou outros grupos raciais da so­ciedade inclusiva. A mesma idéia se manifesta também em outros con­ceitos, tais como o de Pierson, que afirma: "... na sua conotação so­ciológica, "raça" pode referir-se a qualquer grupo cujos membros são tratados pelos de outro grupo como se fossem de uma raça diferente e se consideram e agem entre eles como se fossem diferentes" (4). Por­tanto, a raça, no sentido sociológico, define-se a partir do estado das condições sociais de existência dos grupos em interação e  seus produtos. Além disso, essa "entidade" social se organiza em dois ní­veis distintosrno nível da sociedade inclusiva, onde se encontram convivendo dois ou mais grupos étnicos, e no nível de um desses gru­pos, que acaba adquirindo a consciência de grupo sui generis, seja quanto aos seus atributos intelectuais e moreis, seja no que tange aos atributos físicos, ou marcas raciais,
Conforme se verá, o foco central da investigação será a reconstrução e análise do processo de integração social do imigrante polonês em Curitiba. Isto significa que o contexto teórico que orien­tará a pesquisa deverá contar também com os conceitos de mobilidade social, ascensão social, peneiramento, etc, já que o processo de in­tegração social, de acordo com o conceito que apresentaremos, pode ser considerado um dos processos de ajustamento que ocorrem no inte­rior de uma ordem social, do mesmo tipo que socialização, acomodação, etc.
0 exame dos conceitos de integração apresentados por alguns autores (5) mostrou-nos que a expressão pode ser tomada em duas acepções distintas, apesar de complementores. Em linhas gerais, o pro­cesso de integração social é um fenômeno que se dá: (a) quando, num dado momento, um conjunto de elementos sociais (por exemplo, os pa­peis sociais que integram uma instituição se organizam num todo pe­culiar, que passa e possuir uma estrutura determinada, com um tipo de equilíbrio e dinâmica próprios; (b) quando uma ou mais unidades (indi­víduos, atitudes, valores, técnicas, normas, etc.) passam a fazer parte efetiva e funcional da organização de um todo determinado, manifestando-se, em conseqüência, transformações sociais tanto em sua estru­tura, equilíbrio interno e dinâmica, como naquelas mesmas unidades. É evidente que asses dois significados exprimem o mesmo fenômeno, considerado,

contudo, de perspectivas distintas. Enquanto o primeiro é elaborado com o objetivo de focalizar diretamente o todo social, o segundo tem por escopo especial apanhar as relações entre elementos determinados e o modo de sua incorporação por uma estrutura dada. É preciso ficar claro, todavia, que ambos implicam tanto em transfor­mações estruturais como em modificações dos elementos envolvidos.
Neste projeto, como se verá, serão utilizadas ambas a-cepções. Tomaremos, entretanto, o conceito especialmente na segunda acepção, que se adapta melhor aos fins de uma investigação do tipo da que vamos propor. Assim, enquanto na integração cultural o elemento da cultura é reinterpretado em termos de uma configuração cultu­ral (6), na integração social o indivíduo, seus papeis sociais, seus padrões de comportamento, etc. são re-socializados em face de uma configuração social determinada. Neste caso, pois, verifica-se uma reinstitucionalização das expectativas de comportamento do imigrante, em função do novo contexto (7). Em outros termos, a integração soci­al, que é uma das formas assumidas pela interação social, dá-se em concomitância com o peneiramento social e cultural, tanto dos indi­víduos, segundo os seus atributos psico-motores, morais ou intelec­tuais, como de valores, técnicas, etc. que trazem consigo (8).
0 objetivo principal desta investigação, pois, é des­crever o processo de integração social do polonês ou descendente na sociedade adotiva. Dizemos "polonês ou descendente" porque interes­sa-nos examinar a integração: (a) do indivíduo ou grupo de primeira geração, em seus diversos modos de interação com a sociedade adoti­va; (b) do grupo (primeira ou outras gerações) que se encontra vi­vendo organizadamente em comunidades relativamente fechadas; (c) do indivíduo de origem polonesa que se acha desajustado, ou em proces­so de integração, no interior da sociedade adotiva; (d) do grupo, seja qual for a geração dos seus membros, que se encontra em está­gios deversos no processo de integração.
Além de processo socio-psíquico, a integração é um processo dinâmico e diferencial, pois desenvolve-se em conexão com a sociedade inclusiva e segundo a maior ou menor "capacidade" de ajustamento do elemento adventício. Como fenômeno que se desenvol­ve diferencialniente, devemos considerar duas ordens principais de efeitos que pode produzir. Em primeiro lugar, contam-se os efei­tos que podem ser provocados no âmbito do próprio elemento (indivíduo, atitudes, normas, etc.) que vem de fora e que sofre, no novo contexto sócio-cultaral, transformações mais ou menos extensas e intensas. Este tipo de efeito pode variar desde a re-socialização completa do indivíduo, por exemplo, até a desorganização variável da sua personalidade, passando pela marginalidade. Essas consequências sociais podem manifestar-se também em grupos de indivíduos.
Em segundo lugar, mas não obrigatoriamente em outro mo­mento, contam-se as transformações sócio-culturais mais ou menos ex­tensas ou intensas que se podem produzir no âmbito da sociedade inclusiva. A imigração de alguns ou muitos indivíduos portadores de patrimônios etnico e sócio-cultural distintos daqueles da sociedade adotiva provocaria, certamente, modificações qualitativas que pode­riam atingir inclusive a sociedade como um todo.
Observe-se que essa explanação será utilizada na análi­se do material empírico a ser colhido na comunidade, quando se terá de explicar as condições em que se desenvolveram, por exemplo, pa­drões discriminatórios de comportamento. Os aspectos da situação racial conhecidos por nós mostraram-nos que os poloneses se encon­tram integrados diversamente em setores e instituições da comunida­de. Há áreas da sociedade nas quais o imigrante se encontra relati­vamente desajustado, ou em processo de integração, enquanto em ou­tras ele já se acha plenamente integrado. Devemos, pois, falar nes­ta discussão em integração social parcial e integração social total, para podermos apanhar melhor certas nuanças do fenômeno.
Não podemos passar a outra questão essencial deste pro­jeto sem antes especificarmos qual é o contexto teórico em que se enquadra a nossa compreensão da xoalidade social. Aliás, ele já fi­cou parcialmente implícito na discussão anterior.
Para a reconstrução e análise interpretativa do fenôme­no, na forma em que será proposto, partiremos da seguinte premissa: a sociedade é uma ordem funcional organizada, isto é, "um todo estruturado ou Gestalt", como afirma Mannheim (9). Isto significa que as partes désse todo interagem recíproca e dinamicamente umas sobre as outras, individualmente ou em conjunto. Segundo Florestan Fernandes, "os fenômenos sociais fazem parte de conjuntos interdependentes", conjuntos estes que "se integram coordenadamente e se influenciam entre si, pela atividade de um dos seus componentes ou do próprio con­junto como um todo" (10). Baseados nessa concepção, pretendemos ca­racterizar momentos típicos da evolução da estrutura econômico-social da comunidade, focalizando, em cada um deles, as condições, os produ tos e as funções sociais dos elementos responsáveis pelo tipo de in­tegração social do polonês. Por outro lado, examinaremos também as transformações que se podem surpreender pelo confronto de diver­sas e sucessivas configurações típicas da estrutura econômico-so­cial da comunidade, considerando-as especialmente o polonês e os padrões de comportamento, valores, etc. associados a sua incorpo­ração. Em outros termos, com o material empírico a ser recolhido, na forma que será proposta a seguir, procuraremos construir teori­camente um quadro complexo, onde serão inscritos os elementos que interessam à investigação, a fim de que possamos apreender as  suas interrelações funcionais e causais recíprocas, e com o contexto mais amplo, tanto sincrônica como diacrônicamente. Portanto, a ob­servação, a reconstrução e a análise interpretativa serão orienta­das por uma concepção dialítico-funcionalista da realidade social.
3. Hipóteses diretrizes
Como não dispomos de tempo e recursos suficientes para a realização de uma pesquisa completa da absorção dos poloneses em Curitiba, o que exigiria uma análise psicológica, sociológica e an­tropológica, a investigação que propomos deve restringir-se à aná­lise do processo de integração social do polonês na comunidade. Is­to significa que examinaremos o fenômeno de uma perspectiva sociológica, focalizando especialmente as transformações dos status e pa­peis sociais dos sujeitos envolvidos no processo, em face das instituições e da estrutura sociais da comunidade. 0 exame do processo de integração social implica, conforme dissemos, a abordagem de fe­nômenos tais como a mobilidade social, a ascenção social, etc, sem o que não seria possível reconstruir adequadamente o fenômeno.
Sociologicamente, é possível realizar-se a análise  do processo de integração social do imigrante adotando-se no mínimo uma das três perspectivas seguintes: (a) a do imigrante, em face da  co­munidade adotiva; (b) a da comunidade que o recebe; (c) e ambas, is­to é uma perspectiva totalizadora, que vise apanhar as duas anterio­res, simultaneamente. É claro que cada uma delas pode ser explorada cientificamente, dependendo apenas dos fins explicativos que se propõe o investigador. Vejamos, contudo, em termos gerais, a que nos pode levar a análise do processo de integração segundo a primeira al­ternativa. Neste caso, devemos considerar o fenômeno a partir do status e papeis sociais desempenhados pelo sujeito na comunidade de  origem, a fim de focalizarmos com propriedade especialmente a insti­tucionalização das suas expectativas de comportamento na sociedade adotiva. Esta seria uma abordagem ao mesmo tempo sociológica e psico­lógica, já que visaria apanhar o processo de re-socialização "por dentro".
Quando o investigador pretende examinar o processo de integração social em conexão com as condições estruturais e institu­cionais da comunidade, a pesquisa deverá conduzir a um exame rigoro­samente sociológico do processo, analisando-se aquela integração em termos da ordem social vigente. Neste caso, o foco da investigação serão as condições de contacto oferecidas pela estrutura social da comunidade, evitando-se apelar a dados relativos à comunidade origi­nária.
A terceira alternativa resultaria Ia combinação das duas anteriores, com o fim de se obter uma reconstrução total das condi­ções de operação do processo em questão. Em bases mais amplas, como se verá, adotaremos esta última perspectiva. 0 grau de integração social do imigrante será avaliado pelo ajustamento do seu comporta­mento social às formas institucionalizadas de comportamento vigen­tes na sociedade adotiva, considerando-se como contexto social de referência as condições institucionais e estruturais da comunidade originária (11).
Em conseqüência, apesar de que vamos lidar com grupos distintos étnica e culturalmente, esta pesquisa não se liga ao pro­cesso de aculturação dos  poloneses em Curitiba.  0 nosso objetivo será descrever  e analisar sociologicamente o processo de  integra­ção social  dos poloneses e descendentes em uma  comunidade hetero­gênea  étnica e  culturalmente.  Note-se que falamos em integração de "poloneses e descendentes",  e não de padrões culturais.  Aliás, conforme lembra Hallowell, mesmo o processo de aculturação não deve ser compreendido nos termos restritos de "contacto de culturas", pois que essa é uma forma de expressão que apenas revela um recurso de economia de linguagem, não exprimindo plenamente os fatos. Na prática, "os indivíduos são os centros dinâmicos desse processo de interação", sendo seus agentes mais ativos que passivos (12). Dou­tro modo não pode riamos explicar o comportamento divergente, a mar­ginalidade, etc. que, muitas vezes, resultam das contradições soci­ais que o imigrante encontra, entre os valores grupais e as normas institucionalizadas para a sua consecução (13).
Evidentemente não seria possível  uma reconstrução em­pírica completa desse processo social sem que focalizássemos alguns fatores de natureza cultural, tanto relativos às comunidades origi­nárias como à comunidade adotiva. Os contextos sociais que pretendemos descrever não se compõem apenas de fatores sociais, mas de fatores sociais que estão integrados a uma ordem sácio-cultural que possui alta signiíicação para a compreensão das condições de comporta­mento dos sujeitos envolvidos na situação. Não seria possível, por exemplo, compreender determinadas formas de comportamento discrimi­natório dos membros de certas camadas sociais de Curitiba se não levassemos em conta a interferência da linguagem, ou outros padrões e valores culturais que, de um lado, dificultam a interação entre  os membros de uma situação ou grupe socíaI, e, de outro lado, facilitam a "rotulação" do membro do outro grupo, caracterizando-se mais facilmente a rejeição. Enfim, lançaremos mão da perspectiva antro­pológica na medida do necessário para a reconstrução das situações sociais e fenômenos que interessem à análise.
0 processo de integração social é um fenômeno que resulta da interação entre os padrões, os atributos e as expectativas do imigrante e os padrões, a estrutura social e as expectativas da so­ciedade adotiva (14). 0 confronto entre essas duas ordens de fato­res sócio-culturais é que conduzirá ou não à integração dos indiví­duos ou grupos na sociedade inclusiva. Quando, por exemplo, as ex­pectativas do imigrante não se ajustam àquelas desenvolvidas pelos membros da sociedade adotiva, certamente desenvolver-se-á uma situa­ção tensa, que perturbará a absorção; e vice-versa.
Como explicar, portanto, a presente situação social do polonês em Curitiba? Considerando-se o que foi  exposto, e levando-se em conta o caracter bipolar do fenômeno que pretendemos focali­zar, podemos levantar, inicialmente, duas ordens de hipóteses, que, obviamente, serão conjugadas em seguida.
Em primeiro lugar, do ponto de vista da estrutura social e das expectativas da sociedade adotiva,  o polonês, especialmente o grupo mais numeroso do fluxo imigratório dessa etnia, teria vindo pa­ra Curitiba em uma época em que a comunidade já se encontrava "satu­rada" de imigrantes (alemães e italianos, principalmente) necessários ao desenvolvimento econômico da área. Mesmo tendo vindo em épocas em que a comunidade adotiva ainda tinha necessidade de imigrantes, tal­vez a maioria dos poloneses tivesse se dirigido a atividades econô­micas não essenciais, ou já saturadas por outras etnias, o que tam­bém teria criado e desenvolvido resistências, algumas vigentes ainda hoje, visando limitar a intensidade da mobilidade social dos polone­ses, ou impossibilitar a sua integração plena. Devemos investigar, pois, em que medida a integração do imigrante a determinados setores ou instituições da sociedade adotiva se liga ao maior ou menor equi­líbrio dinâmico e funcional inerente a essas instituições e setores. Em outras palavras, se as barreiras opostas ao polonês, ou a sua não integração plena, se ligariam à maior ou menor integração funcional do grupo ou instituição em que pretende ajustar-se. Nesse sentido, por exemplo, o polonês seria rejeitado em um determinado tipo de atividade econômica porque o mercado de trabalho está saturado, isto é, porque as instituições econômicas absorvem a mão de obra que re­sulta do crescimento vegetativo. E, vice-versa, ele seria aceito, como no caso das empregadas domésticas, por causa das condições favo­ráveis do mercado.
Mas, colocar deste modo a questão seria simplificar o problema, deixando-se de apontar o papel que deve desempenhar no processo integrativo o próprio imigrante;, que em última análise, é o agente principal. Partindo-se, pois, das condições sócio-culturais que levaram o indivíduo ou grupo a emigrar, e também considerando-se as expectativas desenvolvidas por êle em face daquelas condições e das que pretende conhecer, poderiamos esclarecer o outro aspecto do processo. Nesse caso, é necessário explicar em que medida os setores ou instituições nativos nos quais o polonês não, se encontrava satis­feito, isto é, períeitamente ajustado, são precisamente os setores ou instituições nos quais, na sociedade adotiva, mais facilmente in-tegrar-se-á. E, reciprocamente, em que medida os setores ou institui­ções nativos nos quais o polonês se encontrava satisfeito, isto é, perfeitamente a.justado, são os setores ou instituições nos quais, na sociedade adotiva, não se integrará plenamente (15).
0 processo que pretendemos examinar é, por definição, um fenômeno não simplesmente dinâmico, mas dialético. Ela não se desenvolve unilinearmente, nos limites estritos da premissa propos­ta anteriormente. Depois do estabelecimento do contacto scio-cultual entre os imigrantes e a sociedade adotiva, novos fatores con­dicionais e causais podem passar a operar, tornando cada vez mais complexo o fenômeno da integração social. A própria atuação dos primeiros produtos sociais do contacto inicial passará a interferir mais ou menos intensamente no processo em curso, tornando-o mais ou menos complicado. Portanto, a investigação deverá levar em conta a atuação de toda ordem de fatores especiais que podem interferir no processo, mesmo depois de iniciado. Em consequência, duas ordens diversas de fatores devem ser focalizadas e devidamente avaliadas na pesquisa. Em primeiro lugar, conta-se a atuação da multiplicida­de  de grupos étnicos na comunidade, o que exige que se considere a interaçao  do polonês com outros grupos como multipolurizada, e não apenas bipolar. Os alemães, os italianos, os brasileiros, etc.  são grupos em integração, processo esse que ainda hoje não se completou (16). Isto significa que o processo de integração social do polonês ocorre no interior de um processo mais amplo e complexo, que é o de aculturação de diversas etnias, originariamente cultural e social­mente dissemelhantes. Portanto, quando focalizamos o caracter dinâ­mico da situação social vigente em Curitiba, não podemos deixar de considerá-la como uma situação competitiva também no que tange à integraçao social dos diversos grupos de imigrantes. Nesse sentido, pois, as flutuações do status, papeis sociais e comportamento do po­lonês em Curitiba devem ser encaradas em função da complexidade  do processo geral de mudança sócio-cultural que se está verificando ali, o que o põe em relação competitiva com outros grupos étnicos que se encontram envolvidos no mesmo processo. Também neste caso, pois, deve ser focalizada a integração diferencial do polonês em Curitiba.
Em segundo lugar,  no que se refere aos produtos sociais da evolução da situação de contacto, estabelecida na comunidade com a chegada dos poloneses, devemos avaliar adequadamente a interferência de determinados padrões, estereótipos, atitudes, opiniões, etc.  que se criaram, a investigação não poderá de focalizar, na análise do processo de integração social, a interferência positiva ou ne­gativa de alguns desses produtos que, ainda hoje, são fundamentais à compreensão da situação social do polonês em Curitiba. Para determi­nados grupos ou camadas sociais, o polonês é um indivíduo que é dado à bebida alcoólica, que teria dificuldade  para aprender a língua portuguesa e cujas mulheres teriam especial predileção pelos empre­gos domésticos (17). Deixando-se de lado o fundamento empírico des­sas avaliações correntes na sociedade adotiva podemos formular uma proposição que ponha em evidência o valor explicativo desses fatores. Ha análise do processo de integração social do polonês em Curitiba, é necessário que se dê a devida importância à interferência de determi­nados produtos sociais da situação de contacto em evolução, a fim de compreender-se adequadamente determinadas flutuações no desenvolvi­mento do processo. Assim, por exemplo, determinadas "marcas raciais" ou as avaliações positivas e negativos do "polonês", como elementos das ideologias raciais correntes na comunidade, serão manipuladas sociologicamente.
Em resumo, a pesquisa será concentrada no exame de um fenômeno social complexo  que não se desenvolve apenas em função de um conjunto de fatores fixos, conhecidos a priori, tais como as ex­pectativas iniciais do imigrante, ou as condições estruturais das instituições da comunidade adotiva, mas em decorrência da interação dialética de múltiplos elementos.  A discussão anterior permite-nos afirmar agora que a investigação terá por objetivo essencial a aná­lise genética do processo de integração social do polonês em Curiti­ba. Partindo dos fatores sociais  primordiais  (no caso do imigran­te de  primeira  geração,  as expectativas, os papeis sociais e  seu status na comunidade le origem; no caso do imigrante da  segunda  ou outra geração,  as expectativas,  os papeis sociais e seu status na estrutura social  dos grupos mais ou menos fechados  em que se  encontram) procuraremos focalizar as fases  cruciais do processo.  Confor­me já dissemos, entretanto, outros fatores sociais mais ou  menos es­senciais serão levados em conta, a  fim de que possamos  acompanhar os momentos  principais do seu desenvolvimento.  Assim,  considerare­mos as condições econômico-sociais  da comunidade adotiva  em alguns momentos típicos, a sua composição étnica e evolução posterior do mestiçamento, a atuação de  outros fatores sociais, tais como os pró­prios produtos do estabelecimento e de denvolvimento  da situação de interação sócio-cultural, a  interferência do processo de individualização, etc. Pretendemos, por exemplo, focalizar o fenômeno em deter- minados grupos sociais primários e secundários, onde operam controles sociais que são essenciais à compreensão do grau de consistência das barreiras que perturbam a integração. Quando encaramos a questão em termos dos tipos de contactos que são inerentes à vida social, estamos certamente pondo em evidência uma das facetas principais da rea­lidade social subjacente ao processo. Se considerarmos que os contactos sociais vigentes no interior da família, ou em uma associação recreativa, são primários, baseados na interação de personalidades plenas, não será descabido prever uma receptividade peculiar desses grupos ao contacto com imigrantes, isto é, com membros do "outro" grupo. E óbvio que os controles sociais que podem entrar em funcio­namento nesses casos são geralmente mais rígidos que aqueles que atuam em grupos sociais secundários, tais como os que se organizam em torno de atividades econômicas ou políticas, em comunidades urbanizadas. São esses controles sociais, mais ou menos rígidos, conforme  o caso, que realizam o peneiramento social dos imigrantes, quando eles são postos em contacto com um ou outro tipo de grupo social. Ainda aqui, como vemos, manifesta-se o caracter diferencial do processo de integração social. Enfim, dentro dos limites impostos pelos recursos e pelas condições de realização da pesquisa, pretendemos apanhar as condições sociais de emergência do processo de integração social do polonês e os momentos cruciais do seu desenvolvimento, procurando pôr em evidência as conexões causais e funcionais existentes entre o processo de institucionalização (resocialização) do comportamento so­cial (status e papeis) do imigrante e determinados elementos da es­trutura econômico-social da comunidade.
4.  Itens e procedimentos fundamentais da investigação
Vejamos, pois, quais são os itens principais da inves­tigação, considerando-se os objetivos explicativos formulados. Obviamente o esquema que vamos apresentar poderá, na prática, alterar-se na razão direta das reformulações que sofreram as hipóteses apresen­tadas.  Aliás,  tanto as hipóteses como este esboço devem ser consi­derados como elaborações a priori das possibilidades  de tratamento teórico do fenômeno proposto.
I, 0 polonês antes de emigrar (ou na comunidade originária)
a.     Alguns caracteres da estrutura econômico-social da comunidade (ou comunidades) de emigrantes.
b.     A posição social do emigrante nessa estrutura; aná­lise sumária do seu status, papeis sociais, normas,atitudes, opiniões, valores, etc.
c.     Os fatores demográficos, econômicos, sociais e psí­quicos da emigração.
II. 0 imigrante em Curitiba
a. Caracterização geral da estrutura econômico-social da comunidade,  no período principal do fluxo imigrató­rio de poloneses; suas condições de funcionamento e desenvolvimento.

III. A integração social do polonês
a.     Os setores da sociedade (instituições, grupos, cama­das) e a integração.
b.     A interação social do polonês com os outros grupos étnicos (alemão, italiano, negro, brasileiro, etc.)
c.     0 polonês em face da estrutura econômico-social da comunidade e das suas transformações em emergência.
IV. Considerações finais
a.     Caracterização sociológica do processo de integra­ção social do polonês em uma comunidade étnica e so­cialmente heterogênea.
b.     Integração social e mudança sócio-cultural em Curi­tiba.
A ênfase na investigação e explanação desses  itens naturalmente  oscilará de conformidade com as necessidades de desen­volvimento da análise do problema central proposto.
Esse esquema pode ser aplicado em uma investigação se­gundo procedimentos metodológicos adequadamente selecionados. Suma­riamente, pois, vejamos quais são as possibilidades teóricas de in­vestigação empírica apresentadas pelo esquema supra.
Preliminarmente, como o objetivo central da pesquisa será a análise do processo de integração social do polonês em Curi­tiba, devemos utilizar recursos metodológicos que possibilitem reu­nir o material empírico necessário à reconstrução das fases mais dra­máticas do fenômeno. Somente isolando os seus momentos típicos é que poderemos reconstruí-lo com precisão. Nsse sentido, o estudo de ca­so (18) nos parece o recurso metodológico mais eficiente para a cole­ta de dados para a discussão de grande parte dos itens I e III do es­quema. Trata-se de uma técnica que permite a manipulação de evidên­cias relativas aos momentos mais significativos daquele processo, captando-o por dentro, em seu conteudo. Talves a investigação propriamente dita deva fundar-se essencialmente na aplicação dessa téc­nica. Assim, inicialmente será  necessário o levantamento de histó­rias de vida e histórias de caso.  As histórias de vida de indiví­duos previamente selecionados, pela riqueza de sua experiência so­cial, serão largamente utilizadas. Cuidado especial será dedicado à seleção dos poloneses que deverão fornecer histórias de vida, sendo necessário ressaltar que a investigação interessar-se-á: (1) por imigrantes cuja experiência nas comunidades de origem seja rica. Deste modo poderemos reunir material básico para a discussão dos problemas propostos nas letras b e c do item I. Naturalmente a história de vida será ainda mais fecunda se o indivíduo tiver, ao mesmo tempo, elevada soma de experiência social também na comunidade adotiva, o que possibilitará o exame dos problemas do item III. (2) Ênfase es­pecial deverá ser dedicada a seleção de indivíduos cuja experiência, na comunidade adotiva, seja rica e variada, o que permitirá o trata­mento de alguns aspectos centrais do item III. (3) É da maior impor­tância que se selecionem poloneses de segunda e outras gerações, pa­ra podermos apanhar adequadamente a operação de alguns produtos so­ciais elaborados pela situação de interação social criada com a imi­gração.  São os descendentes dos primeiros imigrantes que nos darão a exata medida do caracter, das formas e das condições da integra­ção social do polonês no presente. Com  o material reunido por al­gumas histórias de vida de indivíduos desse grupo  poderemos, pois, discutir outros aspectos básicos do item III. (4) Dado o caracter da investigação proposta, será do maior interesse a análise dos ca­sos marginais, de indivíduos mais ou  menos desajustados, de primei­ra ou outras gerações.  A nosso ver, somente os poloneses marginais permitirão a apreensão da verdadeira extensão e complexidade do pro­cesso de integração do imigrante, já que nos  fornecem as dimensões tensas dele  (19).  Deste modo reuniremos os elementos fundamentais a uma discussão completa do item III.
As histórias de caso, por utro lado, poderão fornecer novas facetas das condições e desenvolvimento do processo, especial­mente no plano institucional e estrutural. As histórias de algumas empresas de poloneses, clubes recreativos, associações beneficientes e comunidades darão a exata extensão do desenvolvimento do processo de integração social, seja do indivíduo isolado ou do grupo como um todo.
A manipulação de documentos pessoais, tais como cartas, diários, autobiografias de imigrantes poderá fornecer pistas seguras para a compreensão, tanto dos fatores causais da emigração, como das condições e fatores que estão operando em sua incorporação, queria de grande interesse o confronto, por exemplo, de cartas de imigrantes da primeira e da segunda gerações da mesma família, o que serviria para pôr em evidência a evolução da institucionalização do comporta­mento, opiniões, etc. dos sujeitos envolvidos. As evidências empíri­cas contidas nos documentos pessoais serão utilizadas para a discus­são de problemas levantados nos itens I e III.
Para a reconstrução e análise dos fenômenos apontados no item III, muitos dados significativos também poderão ser colhidos por meio da entrevista e do questionário. Essas técnicas permitirão reunir elementos que possibilitem verificar as variações das atitu­des e opiniões dos diversos grupos étnicos (alemão, italiano, brasi­leiro, etc.) com relação ao polonês, focalizando a sua intensidade, formas, etc. Deste modo poder-se-á, por exemplo, focalizar o seguinte problema: a discriminação vigente em Curitiba contra o polonês teria sido incorporada, pela comunidade, a partir de elementos da ideologia racial dos alemães, que a trouxeram da Europa, ou desen­volveu-se, desde o início, por influência de fatores do meio social interno? Além disso, essas técnicas de investigação permitirão reu­nir dados necessários ao exame das formas de aceitação do polonês nos diversos círculos de convivência social (grupos sociais tais c£ mo: família, grupos de trabalho, grupos lddicos, grupos de compa­nheirismo na escola, etc.) bem como nas diversas "classes" sociais, nos grupos de idade, sexo, instrução, etc. deste modo se poderá re­construir e examinar problemas como o seguinte: em que medida e de que forma oscilam as opiniões e atitudes, em termos da posição na estrutura social, em íace do polonês?
As fontes escritas, primárias e secundárias, bem como dados estatísticos, econômicos e demográficos, serão utilizados es­pecialmente para a discussão da letra a do item I, bem como de todo item II. A nosso vêr, cuidado especial deve ser dedicado à  recons­trução dos fenômenos ligados a esse item, pois que  acreditamos que muitos fatores sociais essenciais à compreensão do  desenvolvimento do processo de integração do polonês na comunidade são  produtos de um meio social peculiar, conforme se apresentava num momento crucial da imigração. Evidantemente,  em escala variável, os dados  contidos nessas fontes serão manipulados também no exame dos problemas propostos no item III.
Finalmente, para a reconstrução social dos desenvolvi­mentos presentes das condições de manifestação, aas próprias manifestações e da operação do processo em questão, deve-se dar a  devida atenção às evidências empíricas que podem ser reunidas por meio da manipulação da técnica da observação direta, na forma de observação simples e observação participante. Esta última forma, é claro, seria especialmente indicada para aqueles pesquisadores que têm ligações mais diretas com indivíduos ou grupos poloneses, ou que com estes se encontram em interação social.
NOTAS
(1)   - Empregamos brasileiro sempre que nos referimos, indiscrimina­damente, aos descendentes de uma ou das diversas "raças" que contribuiram para a formação da população do país: mongoloide (indio), negróide (africano) e caucasóide (especialmente por­tuguês). As referências a alemão, italiano, etc. indicam o in divíduo originário de país estrangeiro", ou seu descendente nascido no Brasil. Para melhores esclarecimentos, veja-se a noção de imigrante e o conceito sociológico de raça, que apre sentamos na parte "2" deste projeto.
(2)   - Estamos realizando, desde 1955, uma pesquisa a respeito das"Relações raciais entre negros e brancos em Curitiba", moti­vo pelo qual já permanecemos mais de dois meses na comunida­de, em períodos diversos. Para alguns esclarecimentos a res-peito^desse projeto, consulte-se "0 estudo sociológico das relações entre negros e brancos no Brasil meridional", por .Fernando Henrique Cardoso, Renato Jardim Moreira e Octavio Ianni, in Anais da II Reunião Brasileira de Antropologia, Bahia, 1957, paga. 213-219.
(3)   - Lewis C. Copeland, "The Negro as a contrast conception", in Race Relations and the Race Problem, a definition and analysis, por Edgar T. Thompson, editor, cap. VI, pags. 152-179, esp. pag. 166, Duke University Press, Durham, North Carolina, 1939.
(4)     - Donald Pierson, "0 preconceito racial segundo o estudo de "situações raciais", in Sociologia, Vol. XIII, n2 4, São Paulo, out. de 1951, pags. 305-324, esp. pag. 312, nota n^ 5; também; Edward 3. iíeuter, "Race and Culture", in An Outline of The Principies of Sociology, edited by Robert E. Park, Barnes & Noble, Inc., New York, 1940, Part III, esp. pags. 181-183; Roger Bastide e Florestan Fernandes, 0 Preconceito Racial em São Paulo, projeto de estudo, edição do Instituto de Adminis-traçao da faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, USP,publicação n2 118, abril de 1951, pags. 23-24. Uma dis­cussão do conceito antropológico e sociológico de "raça" en­contra-se em Wilton Marion Krogman, "The Concept of Race", in The Science of Man in the World Crisis, edited by Ralph Linton, Columbia' University Press, New York, 1952, pags. 38--62, esp. pags. 60-61.
5. Routledge & Kegam Paul Lta., London, 1954, pags. 354-366; R. M. Maclver and Charles H. Page, Society, an Intrc ductory Analysis, Reinchart and Company, Inc., New York, 1956 Pags. 226-229; Marion J. Levy, Jr., The Structure of Society, Princeton Universitv Prege. Princeton University Press, 1956, cap. XI; Ralph Linton, The Study of Man, Appleton-Century-Crofts, Inc., New York, 1967 cap. XX; Melville J. Herskovits, El Hombre y sus obras, trad de M. Hernández Barroso, iondo de Cultura Econômica, México, 1952, cap. XIV; Emilio Willems, A Aculturação dos Alemães nc Brasil, Cia. Editora Nacional, 1946: car>. 1. esp. üacs. 13-32:
Emílio Willems, Dicionário de Sociologia, Editora Globo,. Alegre, 1950, pages. 13 i 83; Hénry Pratt Pairchild, edito tionary of Sociology, Philosophical Library, New York, 1 pags. 159 e 284; Para a manipulação empírica do conceito ja-se: E. Franklin Frazier, The Negro in the. 57.
(6)      - Of. Ralph Linton, op, cit., esp. pag. 347.
(7)      -Dentro de certos limites, o conceito de integração social que apresentamos resulta resulta na sexão longitudinal do "ciclo das re­lações raciais", segundo a reformulação de Park. Em termos abstratos, o ciclo das relações raciais, aparentemente progres­sivo e irreversivel, assume as seguintes formas: contacto, com petição, acomodação e eventual assimilação", of. Robert E. Park, Race and Aculture, The Free Press, Glence, Illinois, 1950, pags. 138-151, J2sp. pag. 150. Observe-se, também, que o concei­to de integração apresentado possui alguns pontos comuns ao conceito de "assimilação- c1^ Emilio Willems Entretanto, enquanto para esse autor, fundamentalmente "a assimilação se afigura como processo socio-psíquico que transforma a personalidade" (cf. A Aculturação, op. cit. pag. 31), para nós integração social. A um processo sócio-psíquico que provoca modificações tanto no plano da sociedade como no indivíduo. Ele se aproxima muito mais do conceito de "adaptação social e cultural" de Eisenstadt, para quem a adaptação é concebida como "la capacita effective à rernplir avec succès les fonctions sociales que les circonstances et Ia structure sociale du nouveau pays les ap-pellent à assumer". Realmente, para êle interessa considerar "Ia prédisposition personnelle de 1´immigrant à remplir les fonctions nouvelles dont il s'agit et les possibilites qui lui sont offertes par Ia structure sociale du pays, à Ia vie du-quel il s»integre", como pretendemos também. S. N. Eisenstadt, "Recherches sur L'Adaptation sociale et culturelle des Immi-grants", in Bulletin International des Sciences Sociales, Vol. III, ne 2, UNESCO, 1951, pags. 281-284, esp. pag. 281.
Para a análise da participação relativa dos componentes psico-sociais do"padrão de identificação étnica", segundo as suas transformações ao longo do continuum da dinâmica da iden­tificação, Daniel Glaser (em "Dynamics of Ethnic Identifica­tion", American Sociological Eeview, vol. 23, ne 1, íebruary, 1958) apresenta um esquema teó*rico de referência oastante ela­borado. Ele põe em evidência especialmente a "ideologia étnica" as preferências associativas" e os "sentimentos" que se mani­festam em conseqüência do estabelecimento e desenvolvimento de certas formas típicas (como a marginalidade, por exemplo)  de contacto entre etnias diversas.
(8) Ver o conceito de peneiramento, amplamente discutido por Emi-lio Willems, "Problemas de uma sociologia do peneiremento", in Revista do Arquivo Municipal, Ano VII, Vol. LXXV, abril de 1941, Sao Paulo, pags. 5-63; também, do mesmo autor, Dicioná­rio de Sociologia, op. cit0, pags, 117-118.

 (9) - Karl Mannheim, Essays on Sociology and Social Psychology, Routledge & Kegan Paul Ltd., London, 1953, edited by paul Kecskemeti, pag. 188.
(10)- Florestan i1 emandeâ, Ensaio Sobre o Método de Interpretação Funcionalista na Sociologia, edição da .Faculdade de Piloso-fia, Ciências e Letras, USP, São Paulo, 1953, pag. 114. pa­ra uma visão moderna do método funcionalista, veja-se também Robert K. Merton, Social Theory and Social Structure, The Pree Press, Glencoe, Illinois, 1951, cap. I.
(11)- Um dos problemas centrais da investigação será o exame da in­corporação, pelo imigrante, tanto dos valores so"cio-culturais vigentes na comunidade como também das normas sociais institu cionalizadas para a consecução dos fins implícitos nesses va­lores. Esta abordagem germitirá a apreensão, na personalidade do imigrante, das tensoes^emersas do processo de integração. A propósito das contradições entre valores e normas, e seus e-feitos sócio-psíquicos, ver Robert K. Merton, Social Theory and Social Structure, op. cit,, cap. IV.
(12)- A. Irving Hallovell, "Sociopsychological Aspects of Acculturation", in The Science of Man in the Worid Srisis, edited by Ralph Linton, op, cit., pags. x 7.1-200, esp. pag. 175.
(13)- Cf. Robert K. Merton, op. cit., idem.
(14)- A respeito do contexto em que se dá a integração, ver S. N. Eisenstadt, The Absorption of Immigrants, Routledge & Kegam Paul, London, 1954,~esp. pag. 2 58."

(15)      - Esta e a anterior são hipóteses elaboradas ad hoc, tendo sido sugeridas pela discussão teórica de Eisenstadtt. The Absorption of Immigrants, op. cit. cap. I.
(16)      - Conforme afirma -^milio V/illeins, em trabalho rico de sugestões,
"A história do Brasil e* um dnico processo de aculturação.. Es­ta começou com a chegada dos primeiros povoadores portugueses,, tornou-se mais variada com a introdução de escravos africanos a atingiu considerável grau de complexidade no século XIX quan do novas correntes imigratórias começaram a canalizar-se para o Brasil". Cf. E. Willems, "Problemas de aculturação no 3rasil meridional", in Acta Americana, Vol.. III. N^ 3,. julio-septiem-bre, 1945, pags. 145-151, ^sp. 145.
(17)      - Vejamos, por exemplo, algumas frases extraidas de uma obrapublicada recentemente: (a) "De resto, ôs poloneses parece te­rem transferido para o Brasil os seus hábitos de bebida,, nor­mais nos climas frios de onde provinham...." (pag,. 154);. (b) "... há maior dificuldade por parte dos poloneses e dos japo-^ neses no aprendizado do português, do que por parte de elemen­tos de qualquer outra^nacionalidade" (pag. 152); (c) em Curi­tiba, os poloneses "são predominantemente agricultores e ape^ nas as filhas moças tinham o háoito de virem empregar-se na cidade, como domesticas" (pag. 284); cf. Wilson Martins. Um Brasil Diferente (ensaio sobre fenômenos de aculturação no Pa­raná) , Editora Anhembi Limitada, São Paulo, 1955.
(18)      - Cf. Pauline V.. Young, Scientific Social and Research,, second
edition, Prentice-Hall, Inc..,. New York, 1953, cap. XII, esp. pag. 266.
(19)      - A propósito da utilização científica desses ou outros tipos de
casos atípicos, veja-se "The Analysis of "insight-stimulating" Cases",- in Research Methods in Social Relations, por Marie Jahoda, Morton Deutsch and Stuart W.. Cook, The Dryden Press, New York, 1955, pags 42-47.

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