Octavio Ianni
A SITUAÇÃO SOCIAL DO POLONÊS EM CURITIBA
(Projeto de estudo)
1. Introdução
No longo e complexo processo de europeização do mundo, que se iniciou com os grandes descobrimentos marítimos dos séculos XV e XVI, nem sempre os europeus têm logrado pleno êxito. Não somente no contacto com ordens sôcio-culturais não européias, mas também com aquelas fundadas por europeus nas "áreas novas", eles têm enfrentado problemas mais ou menos graves, que puseram em evidência o caracter peculiar de cada cultura.
Muitas são as investigações sociológicas que têm focalizado as condições e os resultados do contacto sócio-cultural entre os europeus e os outros povos. Particularmente no século XX, estes estudos multiplicaram-se rapidamente. Este projeto se destina a levantar alguns problemas ligados ao contacto sócio-cultural entre um certo tipo de europeu - o polonês - com os "brasileiros" (1) de Curitiba. Mais precisamente, procuraremos examinar alguns problemas sociológicos, suscetíveis de serem focalizados por uma investigação empírica restrita, que será realizada em uma comunidade onde os poloneses entraram em contacto com uma sociedade fundada e organizada segundo modelos culturais e sociais europeus. No longo processo de europeização do mundo, pois, os europeus têm sido colocados na contingência de ajustar-se também a europeus mais ou menos transformados, nos seus padrões culturais, nas suas instituições e patrimônio étnico.
Os problemas e as diretrizes que serão apontados e discutidos neste projeto de estudo foram levantados à base do material empírico colhido por nós, diretamente, nas diversas ocasiões em que estivemos na comunidade. As nossas preocupações com outros fenômenos sociais (2) levaram-nos a conhecer as linhas gerais da complexa situação de contacto inter-racial vigente em Curitiba, da qual pretendemos destacar, agora, a situação do polonês e seus descendentes.
Conforme pudemos verificar, diversos elementos sócio-culturais põem em evidência a peculiaridade da situação em que se encontram esses imigrantes. 0 contacto com a comunidade, o conhecimento dos estereótipos correntes ali, os dados e as explicações fornecidas por alguns informantes selecionados, ao lado do conhecimento da distribuição dos poloneses e seus descendentes no conjunto da estrutura social, revelam-nos a existência de um "problema social", cujos caracteres pretendemos conhecer, dado o seu interesse prático e eventual importância teórica. Tanto no quadro da situação apresentada pelo contacto entre negros e brancos, como com respeito às relações com alemães, italianos, brasileiros, etc, a situação social dos poloneses deve ser considerada peculiar. Deveremos, portanto, levar em conta também a composição heterogênea da comunidade, seja no que diz respeito aos europeus que participam da vida de Curitiba, seja com relação aos seus descendentes mais ou menos híbridos, étnica e culturalmente.
Antes de passarmos à proposição e discussão dos objetivos centrais da pesquisa, vejamos duas questões preliminares que devem ser levantadas inicialmente. Uma delas diz respeito a alguns conceitos básicos que serão utilizados neste projeto, enquanto que a outra se liga ao método interpretativo que pretendemos utilizar no desenvolvimento da investigação.
A seguir discutiremos suscintamente as hipóteses diretrizes que elaboramos com vistas à realização da reconstrução e interpretação do fenômeno proposto. Finalmente, examinaremos os principais itens da pesquisa, em conexão com os procedimentos de observação a serem manipulados na investigação propriamente dita.
2. Conceitos básicos
Já que o nosso objetivo será a investigação do processo de integração social do imigrante polonês em Curitiba, devemos, inicialmente, esclarecer o que se entenderá por "imigrante" e "polonês" daquí por diante. Entenderemos por imigrante, em geral, como sendo aquele indivíduo proveniente de comunidade alienígena, seja o polonês, o alemão, o italiano, etc. Listinguiremos, quando necessário, o imigrante de primeira geração, que é aquele que vem de outro país, daquele de segunda fração, que é o filho, nascido no Brasil, de pais poloneses. Imigrante de terceira geração seria o neto destes; e assim sucessivamente. Do mesmo modo, a expressão polonês será utilizada para denominar o imigrante de primeira, segunda ou terceira geração, sendo que, na medida do necessário, serão dados os qualificativos adequados ao rigor da expressão. Justifica-se o uso da expressão "polonês", mesmo para indivíduos descendentes nascidos no Brasil, porque, segundo os elementos empíricos reunidos por nós, em Curitiba é distinguido socialmente como tal, tanto o indivíduo natural da Polônia como aquele descendente nascido no Brasil, inclusive, às vezes, alguns mestiços de poloneses e brasileiros ou membros de outras etnias. Trata-se de uma definição social, que é elaborada pelos próprios membros da comunidade, "Polaco", na linguagem popular da comunidade, não é apenas a expressão verbal de um estereótipo negativo, como mostraremos oportunamente, mas uma palavra que define as ligações étnicas, socialmente definidas, tanto do imigrante da primeira como das outras gerações. Em conseqüência, vejamos agora o conceito de raça, conforme se adequa ao grupo polonês de Curitiba. 0 conhecimento dessa situação inter-racial, permitiu-nos colher evidências com o fim de caracterizar o polonês, isolado ou em grupo, em termos sociológicos. Podemos, pois, apresentar aqui o conceito sociológico de raça que orientará a discussão posterior. Antes de mais nada, convém lembrar que "raça", nesse sentido, se define pela aglutinação de conjuntos de crenças e opiniões que se desenvolvem do contacto prolongado entre dois ou mais grupos étnicos. Segundo Oopeland, "raça, no sentido sociológico (não no sentido de agregado zoológico), é um tipo de público criado pela própria consciência dos seus membros, consciência essa que emerge em conseqüência da difusão de uma ideologia racial determinada" (3), que é elaborada por um e "outro" grupo, ou outros grupos raciais da sociedade inclusiva. A mesma idéia se manifesta também em outros conceitos, tais como o de Pierson, que afirma: "... na sua conotação sociológica, "raça" pode referir-se a qualquer grupo cujos membros são tratados pelos de outro grupo como se fossem de uma raça diferente e se consideram e agem entre eles como se fossem diferentes" (4). Portanto, a raça, no sentido sociológico, define-se a partir do estado das condições sociais de existência dos grupos em interação e seus produtos. Além disso, essa "entidade" social se organiza em dois níveis distintosrno nível da sociedade inclusiva, onde se encontram convivendo dois ou mais grupos étnicos, e no nível de um desses grupos, que acaba adquirindo a consciência de grupo sui generis, seja quanto aos seus atributos intelectuais e moreis, seja no que tange aos atributos físicos, ou marcas raciais,
Conforme se verá, o foco central da investigação será a reconstrução e análise do processo de integração social do imigrante polonês em Curitiba. Isto significa que o contexto teórico que orientará a pesquisa deverá contar também com os conceitos de mobilidade social, ascensão social, peneiramento, etc, já que o processo de integração social, de acordo com o conceito que apresentaremos, pode ser considerado um dos processos de ajustamento que ocorrem no interior de uma ordem social, do mesmo tipo que socialização, acomodação, etc.
0 exame dos conceitos de integração apresentados por alguns autores (5) mostrou-nos que a expressão pode ser tomada em duas acepções distintas, apesar de complementores. Em linhas gerais, o processo de integração social é um fenômeno que se dá: (a) quando, num dado momento, um conjunto de elementos sociais (por exemplo, os papeis sociais que integram uma instituição se organizam num todo peculiar, que passa e possuir uma estrutura determinada, com um tipo de equilíbrio e dinâmica próprios; (b) quando uma ou mais unidades (indivíduos, atitudes, valores, técnicas, normas, etc.) passam a fazer parte efetiva e funcional da organização de um todo determinado, manifestando-se, em conseqüência, transformações sociais tanto em sua estrutura, equilíbrio interno e dinâmica, como naquelas mesmas unidades. É evidente que asses dois significados exprimem o mesmo fenômeno, considerado,
contudo, de perspectivas distintas. Enquanto o primeiro é elaborado com o objetivo de focalizar diretamente o todo social, o segundo tem por escopo especial apanhar as relações entre elementos determinados e o modo de sua incorporação por uma estrutura dada. É preciso ficar claro, todavia, que ambos implicam tanto em transformações estruturais como em modificações dos elementos envolvidos.
Neste projeto, como se verá, serão utilizadas ambas a-cepções. Tomaremos, entretanto, o conceito especialmente na segunda acepção, que se adapta melhor aos fins de uma investigação do tipo da que vamos propor. Assim, enquanto na integração cultural o elemento da cultura é reinterpretado em termos de uma configuração cultural (6), na integração social o indivíduo, seus papeis sociais, seus padrões de comportamento, etc. são re-socializados em face de uma configuração social determinada. Neste caso, pois, verifica-se uma reinstitucionalização das expectativas de comportamento do imigrante, em função do novo contexto (7). Em outros termos, a integração social, que é uma das formas assumidas pela interação social, dá-se em concomitância com o peneiramento social e cultural, tanto dos indivíduos, segundo os seus atributos psico-motores, morais ou intelectuais, como de valores, técnicas, etc. que trazem consigo (8).
0 objetivo principal desta investigação, pois, é descrever o processo de integração social do polonês ou descendente na sociedade adotiva. Dizemos "polonês ou descendente" porque interessa-nos examinar a integração: (a) do indivíduo ou grupo de primeira geração, em seus diversos modos de interação com a sociedade adotiva; (b) do grupo (primeira ou outras gerações) que se encontra vivendo organizadamente em comunidades relativamente fechadas; (c) do indivíduo de origem polonesa que se acha desajustado, ou em processo de integração, no interior da sociedade adotiva; (d) do grupo, seja qual for a geração dos seus membros, que se encontra em estágios deversos no processo de integração.
Além de processo socio-psíquico, a integração é um processo dinâmico e diferencial, pois desenvolve-se em conexão com a sociedade inclusiva e segundo a maior ou menor "capacidade" de ajustamento do elemento adventício. Como fenômeno que se desenvolve diferencialniente, devemos considerar duas ordens principais de efeitos que pode produzir. Em primeiro lugar, contam-se os efeitos que podem ser provocados no âmbito do próprio elemento (indivíduo, atitudes, normas, etc.) que vem de fora e que sofre, no novo contexto sócio-cultaral, transformações mais ou menos extensas e intensas. Este tipo de efeito pode variar desde a re-socialização completa do indivíduo, por exemplo, até a desorganização variável da sua personalidade, passando pela marginalidade. Essas consequências sociais podem manifestar-se também em grupos de indivíduos.
Em segundo lugar, mas não obrigatoriamente em outro momento, contam-se as transformações sócio-culturais mais ou menos extensas ou intensas que se podem produzir no âmbito da sociedade inclusiva. A imigração de alguns ou muitos indivíduos portadores de patrimônios etnico e sócio-cultural distintos daqueles da sociedade adotiva provocaria, certamente, modificações qualitativas que poderiam atingir inclusive a sociedade como um todo.
Observe-se que essa explanação será utilizada na análise do material empírico a ser colhido na comunidade, quando se terá de explicar as condições em que se desenvolveram, por exemplo, padrões discriminatórios de comportamento. Os aspectos da situação racial conhecidos por nós mostraram-nos que os poloneses se encontram integrados diversamente em setores e instituições da comunidade. Há áreas da sociedade nas quais o imigrante se encontra relativamente desajustado, ou em processo de integração, enquanto em outras ele já se acha plenamente integrado. Devemos, pois, falar nesta discussão em integração social parcial e integração social total, para podermos apanhar melhor certas nuanças do fenômeno.
Não podemos passar a outra questão essencial deste projeto sem antes especificarmos qual é o contexto teórico em que se enquadra a nossa compreensão da xoalidade social. Aliás, ele já ficou parcialmente implícito na discussão anterior.
Para a reconstrução e análise interpretativa do fenômeno, na forma em que será proposto, partiremos da seguinte premissa: a sociedade é uma ordem funcional organizada, isto é, "um todo estruturado ou Gestalt", como afirma Mannheim (9). Isto significa que as partes désse todo interagem recíproca e dinamicamente umas sobre as outras, individualmente ou em conjunto. Segundo Florestan Fernandes, "os fenômenos sociais fazem parte de conjuntos interdependentes", conjuntos estes que "se integram coordenadamente e se influenciam entre si, pela atividade de um dos seus componentes ou do próprio conjunto como um todo" (10). Baseados nessa concepção, pretendemos caracterizar momentos típicos da evolução da estrutura econômico-social da comunidade, focalizando, em cada um deles, as condições, os produ tos e as funções sociais dos elementos responsáveis pelo tipo de integração social do polonês. Por outro lado, examinaremos também as transformações que se podem surpreender pelo confronto de diversas e sucessivas configurações típicas da estrutura econômico-social da comunidade, considerando-as especialmente o polonês e os padrões de comportamento, valores, etc. associados a sua incorporação. Em outros termos, com o material empírico a ser recolhido, na forma que será proposta a seguir, procuraremos construir teoricamente um quadro complexo, onde serão inscritos os elementos que interessam à investigação, a fim de que possamos apreender as suas interrelações funcionais e causais recíprocas, e com o contexto mais amplo, tanto sincrônica como diacrônicamente. Portanto, a observação, a reconstrução e a análise interpretativa serão orientadas por uma concepção dialítico-funcionalista da realidade social.
3. Hipóteses diretrizes
Como não dispomos de tempo e recursos suficientes para a realização de uma pesquisa completa da absorção dos poloneses em Curitiba, o que exigiria uma análise psicológica, sociológica e antropológica, a investigação que propomos deve restringir-se à análise do processo de integração social do polonês na comunidade. Isto significa que examinaremos o fenômeno de uma perspectiva sociológica, focalizando especialmente as transformações dos status e papeis sociais dos sujeitos envolvidos no processo, em face das instituições e da estrutura sociais da comunidade. 0 exame do processo de integração social implica, conforme dissemos, a abordagem de fenômenos tais como a mobilidade social, a ascenção social, etc, sem o que não seria possível reconstruir adequadamente o fenômeno.
Sociologicamente, é possível realizar-se a análise do processo de integração social do imigrante adotando-se no mínimo uma das três perspectivas seguintes: (a) a do imigrante, em face da comunidade adotiva; (b) a da comunidade que o recebe; (c) e ambas, isto é uma perspectiva totalizadora, que vise apanhar as duas anteriores, simultaneamente. É claro que cada uma delas pode ser explorada cientificamente, dependendo apenas dos fins explicativos que se propõe o investigador. Vejamos, contudo, em termos gerais, a que nos pode levar a análise do processo de integração segundo a primeira alternativa. Neste caso, devemos considerar o fenômeno a partir do status e papeis sociais desempenhados pelo sujeito na comunidade de origem, a fim de focalizarmos com propriedade especialmente a institucionalização das suas expectativas de comportamento na sociedade adotiva. Esta seria uma abordagem ao mesmo tempo sociológica e psicológica, já que visaria apanhar o processo de re-socialização "por dentro".
Quando o investigador pretende examinar o processo de integração social em conexão com as condições estruturais e institucionais da comunidade, a pesquisa deverá conduzir a um exame rigorosamente sociológico do processo, analisando-se aquela integração em termos da ordem social vigente. Neste caso, o foco da investigação serão as condições de contacto oferecidas pela estrutura social da comunidade, evitando-se apelar a dados relativos à comunidade originária.
A terceira alternativa resultaria Ia combinação das duas anteriores, com o fim de se obter uma reconstrução total das condições de operação do processo em questão. Em bases mais amplas, como se verá, adotaremos esta última perspectiva. 0 grau de integração social do imigrante será avaliado pelo ajustamento do seu comportamento social às formas institucionalizadas de comportamento vigentes na sociedade adotiva, considerando-se como contexto social de referência as condições institucionais e estruturais da comunidade originária (11).
Em conseqüência, apesar de que vamos lidar com grupos distintos étnica e culturalmente, esta pesquisa não se liga ao processo de aculturação dos poloneses em Curitiba. 0 nosso objetivo será descrever e analisar sociologicamente o processo de integração social dos poloneses e descendentes em uma comunidade heterogênea étnica e culturalmente. Note-se que falamos em integração de "poloneses e descendentes", e não de padrões culturais. Aliás, conforme lembra Hallowell, mesmo o processo de aculturação não deve ser compreendido nos termos restritos de "contacto de culturas", pois que essa é uma forma de expressão que apenas revela um recurso de economia de linguagem, não exprimindo plenamente os fatos. Na prática, "os indivíduos são os centros dinâmicos desse processo de interação", sendo seus agentes mais ativos que passivos (12). Doutro modo não pode riamos explicar o comportamento divergente, a marginalidade, etc. que, muitas vezes, resultam das contradições sociais que o imigrante encontra, entre os valores grupais e as normas institucionalizadas para a sua consecução (13).
Evidentemente não seria possível uma reconstrução empírica completa desse processo social sem que focalizássemos alguns fatores de natureza cultural, tanto relativos às comunidades originárias como à comunidade adotiva. Os contextos sociais que pretendemos descrever não se compõem apenas de fatores sociais, mas de fatores sociais que estão integrados a uma ordem sácio-cultural que possui alta signiíicação para a compreensão das condições de comportamento dos sujeitos envolvidos na situação. Não seria possível, por exemplo, compreender determinadas formas de comportamento discriminatório dos membros de certas camadas sociais de Curitiba se não levassemos em conta a interferência da linguagem, ou outros padrões e valores culturais que, de um lado, dificultam a interação entre os membros de uma situação ou grupe socíaI, e, de outro lado, facilitam a "rotulação" do membro do outro grupo, caracterizando-se mais facilmente a rejeição. Enfim, lançaremos mão da perspectiva antropológica na medida do necessário para a reconstrução das situações sociais e fenômenos que interessem à análise.
0 processo de integração social é um fenômeno que resulta da interação entre os padrões, os atributos e as expectativas do imigrante e os padrões, a estrutura social e as expectativas da sociedade adotiva (14). 0 confronto entre essas duas ordens de fatores sócio-culturais é que conduzirá ou não à integração dos indivíduos ou grupos na sociedade inclusiva. Quando, por exemplo, as expectativas do imigrante não se ajustam àquelas desenvolvidas pelos membros da sociedade adotiva, certamente desenvolver-se-á uma situação tensa, que perturbará a absorção; e vice-versa.
Como explicar, portanto, a presente situação social do polonês em Curitiba? Considerando-se o que foi exposto, e levando-se em conta o caracter bipolar do fenômeno que pretendemos focalizar, podemos levantar, inicialmente, duas ordens de hipóteses, que, obviamente, serão conjugadas em seguida.
Em primeiro lugar, do ponto de vista da estrutura social e das expectativas da sociedade adotiva, o polonês, especialmente o grupo mais numeroso do fluxo imigratório dessa etnia, teria vindo para Curitiba em uma época em que a comunidade já se encontrava "saturada" de imigrantes (alemães e italianos, principalmente) necessários ao desenvolvimento econômico da área. Mesmo tendo vindo em épocas em que a comunidade adotiva ainda tinha necessidade de imigrantes, talvez a maioria dos poloneses tivesse se dirigido a atividades econômicas não essenciais, ou já saturadas por outras etnias, o que também teria criado e desenvolvido resistências, algumas vigentes ainda hoje, visando limitar a intensidade da mobilidade social dos poloneses, ou impossibilitar a sua integração plena. Devemos investigar, pois, em que medida a integração do imigrante a determinados setores ou instituições da sociedade adotiva se liga ao maior ou menor equilíbrio dinâmico e funcional inerente a essas instituições e setores. Em outras palavras, se as barreiras opostas ao polonês, ou a sua não integração plena, se ligariam à maior ou menor integração funcional do grupo ou instituição em que pretende ajustar-se. Nesse sentido, por exemplo, o polonês seria rejeitado em um determinado tipo de atividade econômica porque o mercado de trabalho está saturado, isto é, porque as instituições econômicas absorvem a mão de obra que resulta do crescimento vegetativo. E, vice-versa, ele seria aceito, como no caso das empregadas domésticas, por causa das condições favoráveis do mercado.
Mas, colocar deste modo a questão seria simplificar o problema, deixando-se de apontar o papel que deve desempenhar no processo integrativo o próprio imigrante;, que em última análise, é o agente principal. Partindo-se, pois, das condições sócio-culturais que levaram o indivíduo ou grupo a emigrar, e também considerando-se as expectativas desenvolvidas por êle em face daquelas condições e das que pretende conhecer, poderiamos esclarecer o outro aspecto do processo. Nesse caso, é necessário explicar em que medida os setores ou instituições nativos nos quais o polonês não, se encontrava satisfeito, isto é, períeitamente ajustado, são precisamente os setores ou instituições nos quais, na sociedade adotiva, mais facilmente in-tegrar-se-á. E, reciprocamente, em que medida os setores ou instituições nativos nos quais o polonês se encontrava satisfeito, isto é, perfeitamente a.justado, são os setores ou instituições nos quais, na sociedade adotiva, não se integrará plenamente (15).
0 processo que pretendemos examinar é, por definição, um fenômeno não simplesmente dinâmico, mas dialético. Ela não se desenvolve unilinearmente, nos limites estritos da premissa proposta anteriormente. Depois do estabelecimento do contacto scio-cultual entre os imigrantes e a sociedade adotiva, novos fatores condicionais e causais podem passar a operar, tornando cada vez mais complexo o fenômeno da integração social. A própria atuação dos primeiros produtos sociais do contacto inicial passará a interferir mais ou menos intensamente no processo em curso, tornando-o mais ou menos complicado. Portanto, a investigação deverá levar em conta a atuação de toda ordem de fatores especiais que podem interferir no processo, mesmo depois de iniciado. Em consequência, duas ordens diversas de fatores devem ser focalizadas e devidamente avaliadas na pesquisa. Em primeiro lugar, conta-se a atuação da multiplicidade de grupos étnicos na comunidade, o que exige que se considere a interaçao do polonês com outros grupos como multipolurizada, e não apenas bipolar. Os alemães, os italianos, os brasileiros, etc. são grupos em integração, processo esse que ainda hoje não se completou (16). Isto significa que o processo de integração social do polonês ocorre no interior de um processo mais amplo e complexo, que é o de aculturação de diversas etnias, originariamente cultural e socialmente dissemelhantes. Portanto, quando focalizamos o caracter dinâmico da situação social vigente em Curitiba, não podemos deixar de considerá-la como uma situação competitiva também no que tange à integraçao social dos diversos grupos de imigrantes. Nesse sentido, pois, as flutuações do status, papeis sociais e comportamento do polonês em Curitiba devem ser encaradas em função da complexidade do processo geral de mudança sócio-cultural que se está verificando ali, o que o põe em relação competitiva com outros grupos étnicos que se encontram envolvidos no mesmo processo. Também neste caso, pois, deve ser focalizada a integração diferencial do polonês em Curitiba.
Em segundo lugar, no que se refere aos produtos sociais da evolução da situação de contacto, estabelecida na comunidade com a chegada dos poloneses, devemos avaliar adequadamente a interferência de determinados padrões, estereótipos, atitudes, opiniões, etc. que se criaram, a investigação não poderá de focalizar, na análise do processo de integração social, a interferência positiva ou negativa de alguns desses produtos que, ainda hoje, são fundamentais à compreensão da situação social do polonês em Curitiba. Para determinados grupos ou camadas sociais, o polonês é um indivíduo que é dado à bebida alcoólica, que teria dificuldade para aprender a língua portuguesa e cujas mulheres teriam especial predileção pelos empregos domésticos (17). Deixando-se de lado o fundamento empírico dessas avaliações correntes na sociedade adotiva podemos formular uma proposição que ponha em evidência o valor explicativo desses fatores. Ha análise do processo de integração social do polonês em Curitiba, é necessário que se dê a devida importância à interferência de determinados produtos sociais da situação de contacto em evolução, a fim de compreender-se adequadamente determinadas flutuações no desenvolvimento do processo. Assim, por exemplo, determinadas "marcas raciais" ou as avaliações positivas e negativos do "polonês", como elementos das ideologias raciais correntes na comunidade, serão manipuladas sociologicamente.
Em resumo, a pesquisa será concentrada no exame de um fenômeno social complexo que não se desenvolve apenas em função de um conjunto de fatores fixos, conhecidos a priori, tais como as expectativas iniciais do imigrante, ou as condições estruturais das instituições da comunidade adotiva, mas em decorrência da interação dialética de múltiplos elementos. A discussão anterior permite-nos afirmar agora que a investigação terá por objetivo essencial a análise genética do processo de integração social do polonês em Curitiba. Partindo dos fatores sociais primordiais (no caso do imigrante de primeira geração, as expectativas, os papeis sociais e seu status na comunidade le origem; no caso do imigrante da segunda ou outra geração, as expectativas, os papeis sociais e seu status na estrutura social dos grupos mais ou menos fechados em que se encontram) procuraremos focalizar as fases cruciais do processo. Conforme já dissemos, entretanto, outros fatores sociais mais ou menos essenciais serão levados em conta, a fim de que possamos acompanhar os momentos principais do seu desenvolvimento. Assim, consideraremos as condições econômico-sociais da comunidade adotiva em alguns momentos típicos, a sua composição étnica e evolução posterior do mestiçamento, a atuação de outros fatores sociais, tais como os próprios produtos do estabelecimento e de denvolvimento da situação de interação sócio-cultural, a interferência do processo de individualização, etc. Pretendemos, por exemplo, focalizar o fenômeno em deter- minados grupos sociais primários e secundários, onde operam controles sociais que são essenciais à compreensão do grau de consistência das barreiras que perturbam a integração. Quando encaramos a questão em termos dos tipos de contactos que são inerentes à vida social, estamos certamente pondo em evidência uma das facetas principais da realidade social subjacente ao processo. Se considerarmos que os contactos sociais vigentes no interior da família, ou em uma associação recreativa, são primários, baseados na interação de personalidades plenas, não será descabido prever uma receptividade peculiar desses grupos ao contacto com imigrantes, isto é, com membros do "outro" grupo. E óbvio que os controles sociais que podem entrar em funcionamento nesses casos são geralmente mais rígidos que aqueles que atuam em grupos sociais secundários, tais como os que se organizam em torno de atividades econômicas ou políticas, em comunidades urbanizadas. São esses controles sociais, mais ou menos rígidos, conforme o caso, que realizam o peneiramento social dos imigrantes, quando eles são postos em contacto com um ou outro tipo de grupo social. Ainda aqui, como vemos, manifesta-se o caracter diferencial do processo de integração social. Enfim, dentro dos limites impostos pelos recursos e pelas condições de realização da pesquisa, pretendemos apanhar as condições sociais de emergência do processo de integração social do polonês e os momentos cruciais do seu desenvolvimento, procurando pôr em evidência as conexões causais e funcionais existentes entre o processo de institucionalização (resocialização) do comportamento social (status e papeis) do imigrante e determinados elementos da estrutura econômico-social da comunidade.
4. Itens e procedimentos fundamentais da investigação
Vejamos, pois, quais são os itens principais da investigação, considerando-se os objetivos explicativos formulados. Obviamente o esquema que vamos apresentar poderá, na prática, alterar-se na razão direta das reformulações que sofreram as hipóteses apresentadas. Aliás, tanto as hipóteses como este esboço devem ser considerados como elaborações a priori das possibilidades de tratamento teórico do fenômeno proposto.
I, 0 polonês antes de emigrar (ou na comunidade originária)
a. Alguns caracteres da estrutura econômico-social da comunidade (ou comunidades) de emigrantes.
b. A posição social do emigrante nessa estrutura; análise sumária do seu status, papeis sociais, normas,atitudes, opiniões, valores, etc.
c. Os fatores demográficos, econômicos, sociais e psíquicos da emigração.
II. 0 imigrante em Curitiba
a. Caracterização geral da estrutura econômico-social da comunidade, no período principal do fluxo imigratório de poloneses; suas condições de funcionamento e desenvolvimento.
III. A integração social do polonês
a. Os setores da sociedade (instituições, grupos, camadas) e a integração.
b. A interação social do polonês com os outros grupos étnicos (alemão, italiano, negro, brasileiro, etc.)
c. 0 polonês em face da estrutura econômico-social da comunidade e das suas transformações em emergência.
IV. Considerações finais
a. Caracterização sociológica do processo de integração social do polonês em uma comunidade étnica e socialmente heterogênea.
b. Integração social e mudança sócio-cultural em Curitiba.
A ênfase na investigação e explanação desses itens naturalmente oscilará de conformidade com as necessidades de desenvolvimento da análise do problema central proposto.
Esse esquema pode ser aplicado em uma investigação segundo procedimentos metodológicos adequadamente selecionados. Sumariamente, pois, vejamos quais são as possibilidades teóricas de investigação empírica apresentadas pelo esquema supra.
Preliminarmente, como o objetivo central da pesquisa será a análise do processo de integração social do polonês em Curitiba, devemos utilizar recursos metodológicos que possibilitem reunir o material empírico necessário à reconstrução das fases mais dramáticas do fenômeno. Somente isolando os seus momentos típicos é que poderemos reconstruí-lo com precisão. Nsse sentido, o estudo de caso (18) nos parece o recurso metodológico mais eficiente para a coleta de dados para a discussão de grande parte dos itens I e III do esquema. Trata-se de uma técnica que permite a manipulação de evidências relativas aos momentos mais significativos daquele processo, captando-o por dentro, em seu conteudo. Talves a investigação propriamente dita deva fundar-se essencialmente na aplicação dessa técnica. Assim, inicialmente será necessário o levantamento de histórias de vida e histórias de caso. As histórias de vida de indivíduos previamente selecionados, pela riqueza de sua experiência social, serão largamente utilizadas. Cuidado especial será dedicado à seleção dos poloneses que deverão fornecer histórias de vida, sendo necessário ressaltar que a investigação interessar-se-á: (1) por imigrantes cuja experiência nas comunidades de origem seja rica. Deste modo poderemos reunir material básico para a discussão dos problemas propostos nas letras b e c do item I. Naturalmente a história de vida será ainda mais fecunda se o indivíduo tiver, ao mesmo tempo, elevada soma de experiência social também na comunidade adotiva, o que possibilitará o exame dos problemas do item III. (2) Ênfase especial deverá ser dedicada a seleção de indivíduos cuja experiência, na comunidade adotiva, seja rica e variada, o que permitirá o tratamento de alguns aspectos centrais do item III. (3) É da maior importância que se selecionem poloneses de segunda e outras gerações, para podermos apanhar adequadamente a operação de alguns produtos sociais elaborados pela situação de interação social criada com a imigração. São os descendentes dos primeiros imigrantes que nos darão a exata medida do caracter, das formas e das condições da integração social do polonês no presente. Com o material reunido por algumas histórias de vida de indivíduos desse grupo poderemos, pois, discutir outros aspectos básicos do item III. (4) Dado o caracter da investigação proposta, será do maior interesse a análise dos casos marginais, de indivíduos mais ou menos desajustados, de primeira ou outras gerações. A nosso ver, somente os poloneses marginais permitirão a apreensão da verdadeira extensão e complexidade do processo de integração do imigrante, já que nos fornecem as dimensões tensas dele (19). Deste modo reuniremos os elementos fundamentais a uma discussão completa do item III.
As histórias de caso, por utro lado, poderão fornecer novas facetas das condições e desenvolvimento do processo, especialmente no plano institucional e estrutural. As histórias de algumas empresas de poloneses, clubes recreativos, associações beneficientes e comunidades darão a exata extensão do desenvolvimento do processo de integração social, seja do indivíduo isolado ou do grupo como um todo.
A manipulação de documentos pessoais, tais como cartas, diários, autobiografias de imigrantes poderá fornecer pistas seguras para a compreensão, tanto dos fatores causais da emigração, como das condições e fatores que estão operando em sua incorporação, queria de grande interesse o confronto, por exemplo, de cartas de imigrantes da primeira e da segunda gerações da mesma família, o que serviria para pôr em evidência a evolução da institucionalização do comportamento, opiniões, etc. dos sujeitos envolvidos. As evidências empíricas contidas nos documentos pessoais serão utilizadas para a discussão de problemas levantados nos itens I e III.
Para a reconstrução e análise dos fenômenos apontados no item III, muitos dados significativos também poderão ser colhidos por meio da entrevista e do questionário. Essas técnicas permitirão reunir elementos que possibilitem verificar as variações das atitudes e opiniões dos diversos grupos étnicos (alemão, italiano, brasileiro, etc.) com relação ao polonês, focalizando a sua intensidade, formas, etc. Deste modo poder-se-á, por exemplo, focalizar o seguinte problema: a discriminação vigente em Curitiba contra o polonês teria sido incorporada, pela comunidade, a partir de elementos da ideologia racial dos alemães, que a trouxeram da Europa, ou desenvolveu-se, desde o início, por influência de fatores do meio social interno? Além disso, essas técnicas de investigação permitirão reunir dados necessários ao exame das formas de aceitação do polonês nos diversos círculos de convivência social (grupos sociais tais c£ mo: família, grupos de trabalho, grupos lddicos, grupos de companheirismo na escola, etc.) bem como nas diversas "classes" sociais, nos grupos de idade, sexo, instrução, etc. deste modo se poderá reconstruir e examinar problemas como o seguinte: em que medida e de que forma oscilam as opiniões e atitudes, em termos da posição na estrutura social, em íace do polonês?
As fontes escritas, primárias e secundárias, bem como dados estatísticos, econômicos e demográficos, serão utilizados especialmente para a discussão da letra a do item I, bem como de todo item II. A nosso vêr, cuidado especial deve ser dedicado à reconstrução dos fenômenos ligados a esse item, pois que acreditamos que muitos fatores sociais essenciais à compreensão do desenvolvimento do processo de integração do polonês na comunidade são produtos de um meio social peculiar, conforme se apresentava num momento crucial da imigração. Evidantemente, em escala variável, os dados contidos nessas fontes serão manipulados também no exame dos problemas propostos no item III.
Finalmente, para a reconstrução social dos desenvolvimentos presentes das condições de manifestação, aas próprias manifestações e da operação do processo em questão, deve-se dar a devida atenção às evidências empíricas que podem ser reunidas por meio da manipulação da técnica da observação direta, na forma de observação simples e observação participante. Esta última forma, é claro, seria especialmente indicada para aqueles pesquisadores que têm ligações mais diretas com indivíduos ou grupos poloneses, ou que com estes se encontram em interação social.
NOTAS
(1) - Empregamos brasileiro sempre que nos referimos, indiscriminadamente, aos descendentes de uma ou das diversas "raças" que contribuiram para a formação da população do país: mongoloide (indio), negróide (africano) e caucasóide (especialmente português). As referências a alemão, italiano, etc. indicam o in divíduo originário de país estrangeiro", ou seu descendente nascido no Brasil. Para melhores esclarecimentos, veja-se a noção de imigrante e o conceito sociológico de raça, que apre sentamos na parte "2" deste projeto.
(2) - Estamos realizando, desde 1955, uma pesquisa a respeito das"Relações raciais entre negros e brancos em Curitiba", motivo pelo qual já permanecemos mais de dois meses na comunidade, em períodos diversos. Para alguns esclarecimentos a res-peito^desse projeto, consulte-se "0 estudo sociológico das relações entre negros e brancos no Brasil meridional", por .Fernando Henrique Cardoso, Renato Jardim Moreira e Octavio Ianni, in Anais da II Reunião Brasileira de Antropologia, Bahia, 1957, paga. 213-219.
(3) - Lewis C. Copeland, "The Negro as a contrast conception", in Race Relations and the Race Problem, a definition and analysis, por Edgar T. Thompson, editor, cap. VI, pags. 152-179, esp. pag. 166, Duke University Press, Durham, North Carolina, 1939.
(4) - Donald Pierson, "0 preconceito racial segundo o estudo de "situações raciais", in Sociologia, Vol. XIII, n2 4, São Paulo, out. de 1951, pags. 305-324, esp. pag. 312, nota n^ 5; também; Edward 3. iíeuter, "Race and Culture", in An Outline of The Principies of Sociology, edited by Robert E. Park, Barnes & Noble, Inc., New York, 1940, Part III, esp. pags. 181-183; Roger Bastide e Florestan Fernandes, 0 Preconceito Racial em São Paulo, projeto de estudo, edição do Instituto de Adminis-traçao da faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, USP,publicação n2 118, abril de 1951, pags. 23-24. Uma discussão do conceito antropológico e sociológico de "raça" encontra-se em Wilton Marion Krogman, "The Concept of Race", in The Science of Man in the World Crisis, edited by Ralph Linton, Columbia' University Press, New York, 1952, pags. 38--62, esp. pags. 60-61.
5. Routledge & Kegam Paul Lta., London, 1954, pags. 354-366; R. M. Maclver and Charles H. Page, Society, an Intrc ductory Analysis, Reinchart and Company, Inc., New York, 1956 Pags. 226-229; Marion J. Levy, Jr., The Structure of Society, Princeton Universitv Prege. Princeton University Press, 1956, cap. XI; Ralph Linton, The Study of Man, Appleton-Century-Crofts, Inc., New York, 1967 cap. XX; Melville J. Herskovits, El Hombre y sus obras, trad de M. Hernández Barroso, iondo de Cultura Econômica, México, 1952, cap. XIV; Emilio Willems, A Aculturação dos Alemães nc Brasil, Cia. Editora Nacional, 1946: car>. 1. esp. üacs. 13-32:
Emílio Willems, Dicionário de Sociologia, Editora Globo,. Alegre, 1950, pages. 13 i 83; Hénry Pratt Pairchild, edito tionary of Sociology, Philosophical Library, New York, 1 pags. 159 e 284; Para a manipulação empírica do conceito ja-se: E. Franklin Frazier, The Negro in the. 57.
(6) - Of. Ralph Linton, op, cit., esp. pag. 347.
(7) -Dentro de certos limites, o conceito de integração social que apresentamos resulta resulta na sexão longitudinal do "ciclo das relações raciais", segundo a reformulação de Park. Em termos abstratos, o ciclo das relações raciais, aparentemente progressivo e irreversivel, assume as seguintes formas: contacto, com petição, acomodação e eventual assimilação", of. Robert E. Park, Race and Aculture, The Free Press, Glence, Illinois, 1950, pags. 138-151, J2sp. pag. 150. Observe-se, também, que o conceito de integração apresentado possui alguns pontos comuns ao conceito de "assimilação- c1^ Emilio Willems Entretanto, enquanto para esse autor, fundamentalmente "a assimilação se afigura como processo socio-psíquico que transforma a personalidade" (cf. A Aculturação, op. cit. pag. 31), para nós integração social. A um processo sócio-psíquico que provoca modificações tanto no plano da sociedade como no indivíduo. Ele se aproxima muito mais do conceito de "adaptação social e cultural" de Eisenstadt, para quem a adaptação é concebida como "la capacita effective à rernplir avec succès les fonctions sociales que les circonstances et Ia structure sociale du nouveau pays les ap-pellent à assumer". Realmente, para êle interessa considerar "Ia prédisposition personnelle de 1´immigrant à remplir les fonctions nouvelles dont il s'agit et les possibilites qui lui sont offertes par Ia structure sociale du pays, à Ia vie du-quel il s»integre", como pretendemos também. S. N. Eisenstadt, "Recherches sur L'Adaptation sociale et culturelle des Immi-grants", in Bulletin International des Sciences Sociales, Vol. III, ne 2, UNESCO, 1951, pags. 281-284, esp. pag. 281.
Para a análise da participação relativa dos componentes psico-sociais do"padrão de identificação étnica", segundo as suas transformações ao longo do continuum da dinâmica da identificação, Daniel Glaser (em "Dynamics of Ethnic Identification", American Sociological Eeview, vol. 23, ne 1, íebruary, 1958) apresenta um esquema teó*rico de referência oastante elaborado. Ele põe em evidência especialmente a "ideologia étnica" as preferências associativas" e os "sentimentos" que se manifestam em conseqüência do estabelecimento e desenvolvimento de certas formas típicas (como a marginalidade, por exemplo) de contacto entre etnias diversas.
(8) Ver o conceito de peneiramento, amplamente discutido por Emi-lio Willems, "Problemas de uma sociologia do peneiremento", in Revista do Arquivo Municipal, Ano VII, Vol. LXXV, abril de 1941, Sao Paulo, pags. 5-63; também, do mesmo autor, Dicionário de Sociologia, op. cit0, pags, 117-118.
(9) - Karl Mannheim, Essays on Sociology and Social Psychology, Routledge & Kegan Paul Ltd., London, 1953, edited by paul Kecskemeti, pag. 188.
(10)- Florestan i1 emandeâ, Ensaio Sobre o Método de Interpretação Funcionalista na Sociologia, edição da .Faculdade de Piloso-fia, Ciências e Letras, USP, São Paulo, 1953, pag. 114. para uma visão moderna do método funcionalista, veja-se também Robert K. Merton, Social Theory and Social Structure, The Pree Press, Glencoe, Illinois, 1951, cap. I.
(11)- Um dos problemas centrais da investigação será o exame da incorporação, pelo imigrante, tanto dos valores so"cio-culturais vigentes na comunidade como também das normas sociais institu cionalizadas para a consecução dos fins implícitos nesses valores. Esta abordagem germitirá a apreensão, na personalidade do imigrante, das tensoes^emersas do processo de integração. A propósito das contradições entre valores e normas, e seus e-feitos sócio-psíquicos, ver Robert K. Merton, Social Theory and Social Structure, op. cit,, cap. IV.
(12)- A. Irving Hallovell, "Sociopsychological Aspects of Acculturation", in The Science of Man in the Worid Srisis, edited by Ralph Linton, op, cit., pags. x 7.1-200, esp. pag. 175.
(13)- Cf. Robert K. Merton, op. cit., idem.
(14)- A respeito do contexto em que se dá a integração, ver S. N. Eisenstadt, The Absorption of Immigrants, Routledge & Kegam Paul, London, 1954,~esp. pag. 2 58."
(15) - Esta e a anterior são hipóteses elaboradas ad hoc, tendo sido sugeridas pela discussão teórica de Eisenstadtt. The Absorption of Immigrants, op. cit. cap. I.
(16) - Conforme afirma -^milio V/illeins, em trabalho rico de sugestões,
"A história do Brasil e* um dnico processo de aculturação.. Esta começou com a chegada dos primeiros povoadores portugueses,, tornou-se mais variada com a introdução de escravos africanos a atingiu considerável grau de complexidade no século XIX quan do novas correntes imigratórias começaram a canalizar-se para o Brasil". Cf. E. Willems, "Problemas de aculturação no 3rasil meridional", in Acta Americana, Vol.. III. N^ 3,. julio-septiem-bre, 1945, pags. 145-151, ^sp. 145.
(17) - Vejamos, por exemplo, algumas frases extraidas de uma obrapublicada recentemente: (a) "De resto, ôs poloneses parece terem transferido para o Brasil os seus hábitos de bebida,, normais nos climas frios de onde provinham...." (pag,. 154);. (b) "... há maior dificuldade por parte dos poloneses e dos japo-^ neses no aprendizado do português, do que por parte de elementos de qualquer outra^nacionalidade" (pag. 152); (c) em Curitiba, os poloneses "são predominantemente agricultores e ape^ nas as filhas moças tinham o háoito de virem empregar-se na cidade, como domesticas" (pag. 284); cf. Wilson Martins. Um Brasil Diferente (ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná) , Editora Anhembi Limitada, São Paulo, 1955.
(18) - Cf. Pauline V.. Young, Scientific Social and Research,, second
edition, Prentice-Hall, Inc..,. New York, 1953, cap. XII, esp. pag. 266.
(19) - A propósito da utilização científica desses ou outros tipos de
casos atípicos, veja-se "The Analysis of "insight-stimulating" Cases",- in Research Methods in Social Relations, por Marie Jahoda, Morton Deutsch and Stuart W.. Cook, The Dryden Press, New York, 1955, pags 42-47.
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