segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Irmãs Sagrada Família. Frei A. Stawinski.

O CENTENÁRIO DE UMA CONGREGAÇÃO FUNDADA NA RÚSSIA

Pe. Frei Alberto Stawinski OFM. Cap.
Caxias do Sul.
(maszynopis)

Trata-se da benemérita CONGREGAÇÃO DAS Imrãs Franciscanas da SAGRADA FAMÍLIA DE MARIA, fundada, aos 27 de Dezembro de 1857, em Petersburgo, hoje Leningrado, capital do Império Russo, e radicada, outrõssim, no Brasil em princípios de 1906.
No decorrer, pois, deste ano, a referida Congregação está comemorando duas magnas datas jubilares: o Centenário de sua fundação e o Cinquentenário de suas atividades em terras brasilei­ras.
Um dos mais notáveis acontecimentos da história da Igreja do século XIX, foi a solene definição do Dogma da Imaculada Conceição, em 1854. A partir daquela data, imprimiu-se um novo ritmo na marcha quase bimilenar da Igreja. O Ano Mariano, há pouco celebrado com desusado brilhantismo em tudo o mundo, é eco autêntico dessa definição dogmática. No desusar lento de um século, que floração de instituições pias, fraternidades e congregações religiosas não desabrochou no jardim da Igreja ao calor benéfico da Imaculada Conceição. As comemorações imaculistas ocasionaram, também, o aparecimento da Congrega­ção das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria.
Sem ares de erudição, mas no único desejo de salientar as benemerências de uma Família Mariana, ao ensejo de seu pri­meiro Centenário ae existência, tentaremos projetar um tênue raio de luz sobre a origem, a fundação, o desenvolvimento, atividade   situação atual. Congregação das Irmãs Francis­canas da Sagrada Família de Maria.
1.- ORIGEM DA CONGREGAÇÃO.
Seu fundador é D. Sigismundo Szczesny Felinski, insigne teó­logo, intrépido defensor da Igreja e mui preclaro Arcebispo de Varsóvia. Nascido, em 1822, na Polônia, de família profundamente católica, ainda no verdor dos anos ficou órfão de pai e viu a mãe, por falfcas denúncias, deportada pelos russos"p os gelos da Sibéria. Assim, deste muito cedo o pequeno Sigismundo enveredava pela senda do sofrimento. Entretanto, a Divina Providência não o desamparou; antes, favorgceu-o ainda mais com dar-lhe a vocação para o sacerdócio. Não só distinto pela piedade, mas ainda dotado de firmeza de caráter e de inteli­gência invulgar, Sigismundo conseguiu concluir com brilhantismo os estuaos da carreira eclesiástica. Ordenado sacerdote, estava na posse do seu sublime ideal, que era "tornar-se tudo para todos, afim de conquistar a todos para Cristo". Lançou-se, de corpo e alma, à conquista de almas para Deus. Seus raros pre­dicados de sacerdote virtuoso e apreciado orador sacro, sua prodigiosa cultura e, sobretudo, sua grande piedade grangearam-lhe a estima da parte da autoridade eclesiástica. Tanto assim que, jovem embora, foi destacado para o importante cargo de Reitor e Professor do Seminário Maior de Petersburgo. Colo­cado no candelabro da reitoria e da cátedra de um dos mais cé­lebres Seminários da Europa, o Pe. Sigismundo chegou, em pouco tempo, a conquistar os corações dos seus alunos e a cativar as simpatias do Czar da Rússia, que, algum tempo depois, o proporá à Santa Sé candidato ao arcepispado de Varsovia.
2.- Mons. Sigismundo Arcebispo de Varsóvia.
Por morte de D. Antônio Fijaikowski, ocorrida aos 5 de Outu-Bro de 18òl, a Sede Arquiepiscopal de Varsovia ficou vacante por alguns meses. Todo o território polonês, ocupado pelas três potêcias: Rússia, Áustria e Prússia, - vivia um dos momentos mais trágicos da sua história. Cada um dos oçupantgs se esforçada, para apressar, por todos os meios? a assimilação da população Dolonêsa. Mas, a Igreja jamais deixou de r>rofligar a opressão violenta e injusta. Com sua doutrina de paz e justiça social,

cora sua catequese e instituições pias, com sua pregação evangé­lica e com suas escolas particulares opunha um ^aluarte forte contra toda a violência e as injustas perseguições.
Após a morte do Arcebispo D. Antônio Fijalkowski, o Cabido Metropolitano elegeu, para o cargo de - Vigário Capitular, o Pre­lado Bialobrzeski, cujo mandato teve pouca duração e, além disso, acabou tragicamente. Uom efeito, em a noite de 15 para 16 de Ou­tubro daquele mesmo ano, a soldadesca russa recebeu ordem de assaltar todas as igrejas, de impedir a celebração do culto di­vino e de dispersar à força os católicos, que teimassem em per­manecer nas igrejas. "Seguiram-se atrocidades e aprisionamentos em massa tanto de simples fieis, como de religiosos e sacerdotes. Na própria catedral de São João os altares foram profanados com o sangue de sacerdotes, barbaramente espancados e trucidados.
Em face de tão satânica perseguição e de tamanhos sacrilégios, o Vigário Capitular determinou o fechamento das igrejas existen­tes dentro dos limites da arquidiocese, levando, outrossim, ao conhecimento dos causadores das execrandas profanações, que não reabriria as igrejas, enquanto se não abrissem as portas das pri­sões aos sacerdotes injustamente detidos, e bem assim enquanto não fosse garantida a liberdade de religião a todos os fiéis. As medidas eram mais do que justas. Mas, o pérfido governo russo julgou-se ferido nos seus direitos e, sedento como era de sangue inocente, decretou pena de morte contra, o Vigário Capitular, pena que foi, depois, comutada em prisão perpétua pelo Tribunal Militar. Meses a fio, os sinos dos campanários permaeneceram mudos e fechadas as portas das igrejas, cobrindo-se de luto, a população católica polonesa passou a viver os tempos das catacum­bas. Arbitrariedades, represálias, violências, prisões, desterros, mortes: eis o que os anais daqueles tempos registraram.
Afinal, aos 13 de .fevereiro de 1862, foi enviado para a Arqui­diocese de varsóvia "o anjo da paz, o novo Arcebispo, nomeado pela Santa Sé como "persona grata do governo russo,- na pessoa do Heitor do Seminário Católico de Petersburgo, D.SIGISMUNDO SZCZESNY FELINSKI. Um dos primeiros atos do novo antístite foi mandar reconciliar e abrir as igrejas profandas, reservando a si a reconciliação da Catedral e da igreja dos PP. Bernardinos, nas quais maiores profanações se haviam verificado. Timbrou, em seguida, em restabelcer a ordem e a paz entre o povo, exortando a todos a absterem-se de manifestações patrióticas exaltadas. Ao clero não cessou de encarecer prudência e zelo no pastoreio das almas. A atitude prudente e firme ao novo Arcebispo de tal forma agradou aos representantes do governo russo, que toda a imprensa daquele tempo lhe foi tecenao os mais rasgados elogios. A estes hosanas triunfais, porém, não tardariam a seguir-se os "crucifige"!
3.- INSURREIÇÃO DA POLÔNIA E DESTERRO DE D/ SIGISMUNDO.
Poucos meses de trégua teve o governo arquiepiscopal de D. Sigismundo. Mas, mesmo assim, pode ele visitar, pessoalmente, sua vasta arquidiocese e derramar nos-corações de todas as suas ovelhas o bálsamo salutar cia esperança de dias melhores. Cedo o povo convenceu-se de que D, Sigismundo era, sob todos os pontos de vista,
um grande e digno Arcebispo, como nunca dantes houvera outro igual. Tudo, pois, dava a entender que a dolorosa situação deveria, aos poucos, normalizar-se definitivamente.
Entretanto, sob os escombros da perseguição russa não se haviam apagado as brasas da planejada revolta do povo polonês. Cansados de tanto sofrer arbitrariedades, vinganças e odientas perseguiçoes, os polonêses iam-se preparando, na surdina, para acabar com a domi­nação estrangeira. Na memorável noite de 23 de Janeiro de 1863, eclodiu, em todo o território polonês, o movimento revolucionário. Travaram-se sangrentas refregas. Por algum tempo, a insurreição foi senão vitoriosa; mas, infelizmente, por falta de tática e de unidade no comando, acabou capitulando. Entrementes, o Arcebispo de Varsóvia ia multiplicando todos os esforços diplomáticos, afim ae salvaguardar a liberdade para o seu povo.

            Em data de 15 de março de 1863, tomou a liberdade de encaminhar ao Imperador Alexandre II, - Czar da Rússia, - uma carta vasada nos serguintes termos:

Preclaríssimo Soberano,
"Tem sido. em todos os tempos, missão e privilegio da Igreja dirigir seu apelo aos poderosos desta terra nos momentos de desgraça e calamidade pública. Estribado em tal privilegio e movido pelo sagrado dever de Pastor e Guia espiritual do Reino Polones, e que tomamos a liberdade de focalizar as prementes necessidades do nosso rebanho. Estão correndo rios de sangue e as represálias, longe de serenarem os ânimos exaltados, vão provocando ainda maiores revoltas.
Em nome, pois, da caridade cristã e no interesse de ambas as nações, pedimos, encarecidamente, que V. Majestade ponha termo a essa luta de extermínio. As leis baixadas por V. majestade não são suficientes a garantirem a felicidade da nação. Além da auto­nomia administrativa, precisa a Polônia, ainda, da vida política.
Preclaríssimo Soberano, soou a hora de V. Majestade tornar, por sua própria iniciativa, a Polônia uma nação independente, vinculada à Rússia, apenas, pelos laços da dinastia de V. Alteza Imperial Esta, parece-Nos, que seja a única medida capaz de estancar o derramamento de sangue e constituir a base de uma paz duradoura.  Não há mais tempo a perder. Dia a dia se está cavando mais profundo o abismo entre as duas nações. Importa, pois, que V. Majestade não fique aguardando o termino da luta. È deveras maior gesto de magnanimidade e generocidade retroceder diante da carnificina, do que tripudiar, vitoriosamente, sobre uma nação dizimada pela morte. Uma grande palavra, digna da grandeza de um Grande Monarca basta para nos salvar. Aguardamo-la dos lábios de V. Majestade. Estamos em que um Monarca, ao libertar da escravidão e da miséria vinte milhões de seus súditos, com o objetivo de torná-los cida­dãos livres, não se furtará ao imperativo, igualmente louvável, de assegurar a felicidade para um povo tão duralmente maltratado.
Altissimo Soberano, confiou-lhe a Providência os destinos deste povo. Ela há de ampara-lo reservando-lhe uma coroa de gria imortal, se de uma vez para todas, V. Majestade puser fim ao sangue e às lágrimas, que, desde há muito, vêm inundando a Polônia.
Queira V. Majestade desculpar a franqueza destas minhas pala­vras, mas o instante e por demais grave. Queira relevar ao Pastor, que testemunha como é das deploráveis desgraças, se atreve a interceder em favor de seu rebanho.
Depositando nas mãos de V. Majestade esta Nossa humilde e ardente súplica, temos o prazer de confessar-Nos.
De V. Majestade o mais fiel e obediente súdito."
             SIGISMUNDO SZCZESNY FELÍNSKI, Arcebispo de Varsóvia.
A carta acima, longe de produzir o efeito desejado, acabou por exacerbar ainda mais o ânimo turbulento e vingativo do Czar, que, daí em diante, ficou maquinando, qualquer pretexto, para desterrar o magnânimo Arcebispo. A ocasião azada nao se fez esperar. Aos 12 de Junho de 1863, o Pe. Frei Agripino Konarski, da Ordem dos Capuchinhos, pelo simples e único motivo de ter aprestado socorro espiritual aos poloneses feridos no campo da luta, foi condenado a forca e, barbaramente, executado. Diante desta ação tão ignóbil, D, Sigismundo não pode silenciar. Com todas as energias protestou ele contra tal barbárie, declarando excomunga­dos os autores daquela atrocidade. Apenas informado do ocorrido, o Czar ordenou que D. Sigismundo fosse desterrado para Jaroslaw, as margens do rio Wolga. Assim, no dia 14 de Junho, o intrépido e virtuoso Arcebispo de Varsóvia, arrancado à força da sua querida arquidiocese, ia curtir as agruras de um exílio de vinte anos. Anistiado, em 1883 ao ensejo da coroação do Czar Alexandre III, mas com a proibição de regressar para Varsóvia, 3. Sigismundo retirou-se para um pequeno logarejo da Galícia, onde 13 anos depois, veio a falecer santamente, legando à posteridade um exemplo de heroismo cristão na defesa de sua arquidiocese e de sua martirizada Pátria.

4. FUNDAÇÃO DAS IRMÃS DA SAGRADA  FAMlLIA DE MARIA.
Era simplesmente deplorável o panorama da Igreja na Polônia, nos meados do século XIX. A eterna perfídia russa, sob o pretexto de motivos políticos, movia cruéis perseguições contra os cetó-licos. Bastas vezes era suficiente qualquer suspeita, para que famílias inteiras fossem obrigadas a abandonar seus haveres e a trabalhar nos estepes e aldeias da Sibéria. 0 Pe. Sigismundo, quando Reitor do Seminário de Petersburgo, vinha acompanhando com oração transido de dor a tragédia dos seus patrícios. La­mentava ele não só as precárias condições de vida de milhares de famílias polonesas deportadas, mas, sobretudo, a falta de toda assistência religiosa. Precisava-se, então, de elementos, que se ocupassem da instrução e cotequese das crianças, que vi­sitassem os enfermos, prestando-lhes a devida assistência, que amenizassem es amarguras da velhice desamparada, que,- enfim, não cessassem de erguer a Deus contínuas preces pela desditosa e perseguia a Nação Polonesa. Face a esses urgentes problemas é que nasceu ideia de fundar-se uma nova Congregação religiosa no in­tuito de atender às precisões daquela massa de povo desamparado.
Coadjuvado pelo Pe. Constantino Lubienski, também futuro bispo, o   Pe. Sigismundo pos as mãos à obra. Começou por alugar um modesto prédio, no qual numerosas crianças pobres e órfãs encontraram seu novo lar. A direção desse abrigo foi confiada aos cuidados de algumas jovens piedosas, previamente adestradas para aquela nobre terefa. As obreiras da primeira hora foram; Maria Mann, Sofia Choroszewska e Catarina Szymanska. A seguir, encontraram-se no primeiro grupo mais duas ativas candidatas: Florentina Dymman e Aneta Malcow. Estas cinco devotadas educadoras, iniciadas pelo Pe. Sigismunao nos caminhos da vida religiosa, constituiram as colunas mestras de novel Congregação, que surgiu com o nome de IRMÃS  DA  SAGRADA FAMlLIA DE MARIA (Siostry Rodziny Maryi ).
Para Padroeira principal foi escolhida a Imaculada Conceição da SS-ma Vir6em Maria. Organizadas de conformidade com as leis canônicas vigentes, as Irmãs da Sagrada, Família receberam, por inter­médio do Arcebispo D. Chiggi, então Núncio Apostólico em Petersburgo, uma bênção especial do Papa para os seus empreendimentos.  
O Pe. Sigismundo redigiu, de próprio punho, as Constituições e o Ideal da Congregação, traçando normas básicas e seguras referenties à vida interior e exterior, isto é, à vida de oração e de ação. Além do fim principal, que é a glória de Deus, a santificação própria e a salvação das almas, comprometiam-se as Irmãs a ajustar-se a vida modelar da Sagrada Família e praticar, de modo especial, as virtudes da simplicidade, humildpde e pobreza.
Os albores da Congregação foram acompanhados de enormes difi­culdades, eliás como soi acontecer có*m todas as obras inspiradas por Deus.Fundada na própria capital do Império Russo,- por princípio hostil à Igreja Católica, - a Congregação não foi reco­nhecida, como tal? pelo governo russo. Para poder subsistir e trabalhar, a Congregaçao foi aprovada, apenas, como associação bene-ficente.  Não obstante, encontrou ela valioso apoio por parte de mironias piedosas senhoras católicas muj. chegadas à Corte do Czar.
Graças ao que, foi possível às irmãs abrir novas casas no território russo. Foi assim que surgiram as seguintes casas: Abrigo de órfãos. Casa de trabalhos para moças, Escolas Primárias, Asilo para velhinhas, Creches etc. Todas estas instituições pias perce­biam da parte do governo pequenos subsídios para o desenvolvimento de suas atividades assisstenciais.
5.- RUMANDO PARA A POLÔNIA
Empossado na Àrquiuiocese de Varsóvia D.Sigismundo precisava muito de religiosas para as obras caritativas e assistenciais. Lem­brou-se, então, da Congregação, que ele mesmo fundara, Empenhou-se em adquirir para as Irmãs a antiga residência do campo, outrora pertencente ao Rei Estanislau Poniatowski. 0 prédio com suas numerosas e conrortãveis selas adaptava-se, perfeitamente, a uma escola para crianças. Foi lá que as Irmãs da Sagrada Fa­mília de Maria se instalaram e deram início ao seu apostolado no território polonês. Abria-se, assim, o novo berço da Congregação, que, enfrentando dificuldades e perseguições, conseguiu sobreviver até aos nossos dias. Durante a última guerra, parte do edifício foi destruída pelo incêndio. Hoje, felizmente, já tudo foi reconstruido. Presentemente, é lá que está instalada a Casa Generalícia da Congregação (Warszawa, ulica Zelazna, 97 ).


Mal as irmãs acabavam de ambientar-se, que D. Sigismundo foi. por ordem do Czar, desterrado de Varsóvia. Entretanto, a Divina Providência continuava velando sobre a pequena Família de Maria. Em Petersburgo, depois da saída de D. Sigismundo, as Irmãs tiveram por diretor e dedicado amigo, 0 Pe. Vincente Majewski.
Orientadas pela mão segura e paternal do novo diretor, as Ir­mãs puderam abrir noves casas na Rússia, a saber: em Sebastopol, Ialta e Udessa. Estenderam, outrossim, seu campo de apostolado até à Romênia, onde assumiram a direção de escolas, asilos e hos­pitais.
Em 1883, D. Sigismundo foi posto em liberdade, mas inibido de regressar para Varsóvia. Foi, então, residir na Galícia, sob o protectorado da Áustria, onde, na cidade de Dźwiniaczka, exerceu o ofício de capelão no oratório da Princeza Koziebrodzka. Livre das responsabilidades de sua arquidiocese, D. Sigismundo pode, inteiramente, dedicar-se a formação inteletual e religiosa de sua querida Congregação. Junto a sua capelania, abriu uma Casa de Noviciado e Formação para as Irmãs. Para a novel Congregação D. Sigismundo era tudo: Fundador, Mestre, Diretor, e Superior, providenciou, para que as Irmãs freqüentassem cursos de especia­lização em escolas oficiais. Explica-se assim o grande surto re­ligioso e inteletual que a Congregação alcançou sob a direção imediata do próprio fundador. Havia doze anos que D. Sigismundo vinha inoculaudo no ânimo ae suas filhas espirituais o verdadei­ro espírito, de que ele desejava ver revestida a sua querida Con­gregação. Pressentindo que o seu exílio terreno se ia terminando, providenciou, para que uma das Irmãs fosse escolhida para o cargo ae Superiora Geral. Saiu eleita a Madre Sofia Koncza. Religiosa de sólida cultura e piedade e por longos anos treinada pelo fundador nos diversos ofícios da Congregação, a Madre Sofia teve um governo fecundo em realizações, que lhe grangeou a plena confiança de suas filhas e a estima geral do povo e do clero.
Com a escolha da Superiora Geral passou a estabilizar-se, cada vez mais, a estrutura da Congregação.
6. - A  CONGREGAÇÃO DEPOIS DA MORTE  DO FUNDADOR.
Depois da morte do virtuoso fundador, ocorrida em 1895, as Irmãs encontraram um segundo pái, na pessoa de D. Weber , Bispo de Leópolis (Lwów).  Afim de assegurar para a Congregação uma assistência espiritual mais eficiente, D.Weber houve por bem transferir o Noviciado de Dzvaniaczka para a sua sede episcopal de Leópolis. Mercê do seu apoio moral e material, puderam as Irmãs adquirir, na cidade de Leópolis, considerável área de ter­reno com boa casa, onde instalaram, outrossim, a casa Generalícia da Congregação. Mas, infelizmente, algum tempo depois, D. Weber teve que transferir-se, definitivamente, para os Estados Unidos. A Divina Providência, porém, que não abandona a quem a Ela se confia, enviou às Irmãs um outro grande amigo e benfeitor,o Pe. Frei Marieno Sobolewski, da Ordem dos Franciscanos Conventuais e Ministro Provincial da Província Polonesa. E a ele que a Congregação deve sua organização definitiva,- ajustada à Regra da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, e, bem assim a agregação à_Primeira Ordem Franciscana, em harmonia com as leis canônicas. De forma que, a partir de 1903, a Congregação passou a denominar-se CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS FRANCISCANAS DA SAGRADA FAMÍLIA (Siostry Franciszkanki Rodziny Maryi). Enfim, foi ainda, ele quem alcançou de Roma a aprovação temporária das Consti­tuições. Mas, a aprovação definitiva só foi obtida em 1934. Desde  o seu alvorecer até à presente data, a Congregação tem passado pelo cadinho das mais duras provações. Depois das restrições e perseguições da parte dos russos, sobrevieram as duas últimas guerras mundiais com as suas dolorosas conseqüên­cias. Com o advento do regime comunista não ficou nenhuma casa da Congregação na Rússia. Na parte oriental da Polônia, cedida a Russia pelo famigerado Tratado de Itália, as Irmãs tiveram que abandonar 89 localidades, em que trabalhevrm, e 29 casas, pertencentes à Congregação. Na parte ocidental, por ocasião da invasão nazista,-numerosas Irmãs foram levadas para o campo de concentra­ção em Ravensbruck; mas, felizmente, sobreviveram aquelas torturas. Ignora-se, atualmente, qual possa ser a condição de Congre­gação na Polônia, governada por um regime comunistoide. É de 1948 a última  estatística, segundo a qual as três Províncias, existen­tes no território polonês, ofereciam os seguintes dados:



1. Província do Sagrado Coração de Jesus, com sede em Cracóvia: 42 casas e 290 Irmãs;
2. Província da Imaculada Conceição, com sede  em Varsóvia: 44 casas e 475 Irmãs;
3.  Província de São Francisco de Assis, com sede em Posnania: 40 casas e 327 Irmãs.
4.  Província de o José, na Romênia, foi extinta.
5.  Província do Menino Jesus, com sede em Curitiba, capital do Estado do Paraná, Brasil:  54 casas; 37 escolas paroquiais; 12 hospitais; 2 asilos; 3 seminários (serviços domésticos); total de Irmãs professas 286; Noviças 17; Postulantes 22; Juvenistas 42. O maior número de casas encomtram-se no Paraná (37); depois, no Rio Grande do Sul (12); enfim, em Santa Catarina (5)
São estes os frutos de uma pequena semente, que atirada no solo da Rússia, foi durante um século de existência, alastrando-se pela Polônia e Brasil a dentro.
Ao comemorarem o Primeiro Centenário de sua vida, as Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria entoam ao Senhor o "Magnificat" de louvores e agradecimentos, porquanto grandes coisas lhes fez Aquele que é Todo-poderoso.
7.- CINQUENTA ANOS DE ATIVIDADES    NO  BRASIL.
As incessantes reviravoltas políticas do século XIX., não raro acompanhiadas de perseguições religiosas, tornaram quase impos­sível a vida dos católicos dentro do território polonês. Cruciante era o problema, cuja solução gravitava em torno do dilema: ou perecer ou buscar guarida em outros países. Iniciou-se, então, o êxodo. Enquanto as famílias abastadas se foram instalando nos países europeus, as famílias pobres viram-se forçadas a pedir abrigo nos Estados Unidos da América do Norte ou no Brasil. A maioria das famílias rumaram para os Estados Unidos, onde de tal forma prosperaram, que atualmente, formam um contingente de mais de seis milhões de descendentes de poloneses. Por sua vez, também, o Brasil recebeu considerável leva emigratória. Os poloneses localizaram-se, de preferencia nos três Estados do sul, isto é no Paraná, Sta Catarina e Rio Grande do Sul. Banal fora pretender descrever as dificuldades e penúrias da primeira corrente emigratória polonesa, que sem assistência técnica, nem médica, nem religiosa, teve que embrenhar-se pela mata virgem, onde aos golpes do machado se foram abrindo clareiras e constru­indo primeiras moradias. Mal, porém, conseguiam rudes abrigos, empenhavam-se, outrossim, na construção de escolas e igrejas. Como não houvesse nem professores, nem sacerdotes, apelaram a Mãe - Pátria com a esperança de serem atendidos. Não se enganaram. Ordens e Congregações religiosas porfiaram em enviar sacerdotes missionários. Merecem, aqui, especial menção os Padres da Congre­gação da Missão, os Padres Verbistes, os Padres Capuchinhos, e os Paares Salesianos, os quais com acuairável zelo se entregaram ao nobge apostolado missionário entre os poloneses. Mas, precisava-se de Irmãs religiosas para as escolas e cetequese. Em 1905, uma comissão composta do Pe. João Mietus, então vigário de Orleans, no Paraná, do Cônsul austríaco, Snr. Bertoni, e do secretário consular, Vladomiro Kwasinski, endereçou à  Superiora Geral das Irmãs da Sagrada Familia, Madre Sofia Koncza, um caloroso apelo, no sentido de alcançar Irmãs para a missão polonesa no Brasil.
Naqueles tempos, destacar Irmãs para terras inhóspitas, longinquas e desconhecidas era sacrifício muito grande. O desejo, porém, de trabalharem na seara do Senhor, na qualidade de missionárias, triunfou; e para a missão do Paraná foram enviadas as seguintes religiosas: Irmã Sofia Ulatowska, Superiora, Irmã Edviges Dudkiewicz e Irmã Maria Grzegorzewicz. Assim, no dia 7 cie Janeiro de 1906, aquelas missionárias deixavam Leópolis. Em Bremem tomaram o navio alemão "Sparta" com destino ao Brasil. Longa e penosa foi a travessia do oceano. Ao romper de 1. de Março daquele ano, o "Sparta" atracava no porto de Paranaguá. Satisfeitas por terem alcançado a meta de sua viagem, as Irmãs renderam graças a Deus e continuaram a viagem por terra até Orleans, onde foram acolhidas com muita festa pelo vigário e povo em geral.  Abriam, desta forma, as Irmãs um novo livro, em cujas páginas, no decorrer cie 50 anos de intenso trabalho, registrariam tão esplêndidas conquistas no campo da instrução e da catequese das crianças, bem como nas obras de ação caritativa e social.
Ainda no decurso do mesmo ano, o Pe. Estanisláu Trzebiatowski, em nome da Comissão da Igreja de Curitiba, pediu com insistência mais uma remessa de Irmãs para a escola de Curitiba. A Madre Geral, satisfeita com os sucessos de suas Irmãs em tenras brasileiras, apressou-se a destacar a segunda equipe de Irmãs Missionárias. Chegaram elas em Curitiba, no dia 7 de Agosto de 1906, instalando-se, provisoriamente, num modesto prédio, sito à rua Paulo Gomes.
Cedo morreram as saudaces e estancaram-se as lágrimas. É que as Irmãs encontraram no Brasil sua segunda pátria, onde começaram a colher com alegria os frutos dos seus suores. Ja em 1909, auxiliados poi- generosos benf eitores, as Irmãs puderam adquirir regular extensão de terreno, junto à rua Aquidabam, hoje Emiliano Perneta, onde se ergueu a futura Casa-Mãe da Província Brasileira do Menino Jesus. Entretanto, imensa era a seara e poucas as obreiras. Daí, a. Congregação foi obrigada a remeter, de tempos a tempos, novas levas de Irmãs, para trabalharem no Brasil. A medida que os anos passavam, foram surgindo novas casas da Congregação não só no Paraná, mas também em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.
De conformidade com o espírito da Congregação, as Irmãs longe de procurarem as grandes e populosas cidades para a instalação de suas casas, preferiram os lugares humildes  e afastados dos grandes centros, onde a necessidade era maior e mais premente. Seu campo de atividaaes abrangia escolas paroquiais, grupos escolares, giná­sios, internatos para meninas e moças, asilos para a velhice desam­parada, abrigos, hospitais, sanatórios, e, acimar de tudo, a cate­quese.
Neste ano, ao comemorarem as Irmãs Franciscanas da Sagrada família de Maria, o primeiro centenário de sua fundação e o cincquentenário de seu fecundo apostolado desdobrado no Brasil, seus olhares volvem-se para o Berço da Congragaçao, isto é, para aquelas nações, que as viram nascer e, por entre ingentes sacrifícios, crescer e prosperar, por dever de gratidão e, também, em atenção aos desejos de N.S. da Fátima, as Irmãs rezam e sacrificam-se pela conversão da Rússia, escravizada pelo comunisto. Rezam, outrossim, pela libertação do povo polonês das garras do comunismo.
Que essas duas grandes e memoráveis datas sejam portadoras de novo estímulo e nova vitalidade para a benemérita Congregação das irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria no prosseguimento da sua sublime missão, para maior glória de Deus e salvação das almas.

Pe. Frei Alberto de S.M. de Caxias O.F.M. Cap.

Um comentário:

  1. Olá Pe. Frei Alberto,
    Boa tarde.
    Parabéns pelo seu artigo.
    Me chamo Paulo Antonio e sou casado com a bisneta do secretario do consul do antigo império austria-hungria, citado em seu trabalho pelo nome de Vladomiro Kwasinski (Waldemiro)
    Estamo montando a árvore de nossa familia, e estamos procurando cópias de documentos para que possamos chegar as certidoes de nascimento ou óbito do Sr. Waldemiro Kwasinski e sua esposa, Sra Emma Hauer Kwasinski. Gostaria de saber se o Sr. possui algum documento da época com alguma citaçaoue possa nos ajudar. Conseguimos apenas a certidao de nascimento e óbito do Sr. Ervino Hauer Kwasinski (filho do Sr. Waldemiro). Caso tenha algum documento por favor me informe por aqui.

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