Brava gente polonesa
Ronald Mansur
Vamos dar um passeio na imigração polonesa recente para o Espírito Santo? Caso aceite minha proposta, leia “Brava Gente Polonesa”, de Eduardo Glazar. O autor nos conduz primeiro à conturbada Europa no início do Século XX e à Primeira Guerra Mundial, onde o seu pai foi soldado e prisioneiro na Sibéria, tendo depois passado pela China até voltar pra casa, no ano de 1920. Em 1931 o destino é o Brasil, Espírito Santo, Águia Branca.
Estamos diante de informações, dores e sofrimentos do povo polonês. Mostra a certeza que seu pai tinha de que melhor seria deixar a Europa guerreira. Ele havia sofrido na carne a dureza das batalhas e do campo de concentração. Deixando o campo minado dos conflitos, o pai de Glazar sempre ouvia de sua esposa os lamentos e pedidos para voltarem à terra mãe.
Segundo Glazar, seu pai, Vicente, sabia que os tempos ainda seriam duros na Europa conflagrada. Em 1939, quando a Segunda Guerra começou a destruir novamente a Europa, foi “justamente na região onde nós tínhamos morado que ocorreram as batalhas entre alemães, poloneses e russos”, observa Glazar, dando razão a seu pai.
Glazar descreve a Polônia, onde quase morreu na neve. Conta os primeiros anos de Brasil e a determinação de quem deixa a sua terra natal em busca da paz.
Textos curtos, nos prendem na leitura, revelando a força de quem enfrentou a vida com garra e determinação. A família é destaque. Fala do corte da mata para plantar as lavouras e o sustento futuro. Lembra o primeiro par de sapatos comprados aos 17 anos e de número 43 (De tanto andar de tamancos e sandálias, meus pés tinham alargado. Depois meus pés foram diminuindo e hoje uso o número 39” ).
No relato enumera os amigos, poloneses e brasileiros. O primeiro trabalho na Companhia Polonesa e os seus passos no comércio de café, nas lutas da comunidade e na vida política. Ele foi vereador quando São Gabriel ainda pertencia a Colatina. Foi o primeiro prefeito de São Gabriel e depois foi reconduzido ao cargo, sempre pelo voto. Com ternura fala do casamento com Kassemira Zieba, também menina quando chegou ao Brasil, em 1930. Conheceu a esposa quando era caixeiro da Companhia Polonesa e ela, freguesa. Num baile dançaram a noite toda e “com aqueles lindos olhos azuis e um sorriso no rosto não havia quem resistisse. Só faltou mesmo o beijo, pois tinha muita gente”.
Conta como chegou ao café conilon e o seu interesse, tendo inclusive feito uma lavoura de quatro mil pés em 1963. A ligação Glazar/conilon gerou uma batalha para que o Governo financiasse o seu plantio, o que foi feito no ano de 1975. A história econômica do Estado tem nesse tempo um marco e salvação do êxodo rural para milhares de capixabas.
"Brava Gente Polonesa" é leitura para quem quer conhecer História capixaba. É leitura obrigatória para quem trabalha com conilon, como gratidão a quem abriu a estrada para termos hoje 7 milhões de sacas na safra deste ano e comida na mesa de milhares. Bravo Eduardo Glazar.
Ronald Mansur é jornalista,
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