segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Brava gente polonêsa. R. Mansur.

Brava gente polonesa
Ronald Mansur

Vamos dar um passeio na imigração polonesa recente para o Espírito Santo? Caso aceite mi­nha proposta, leia “Brava Gente Polonesa”, de Eduardo Glazar. O autor nos conduz primeiro à conturbada Euro­pa no início do Século XX e à Primeira Guerra Mundial, onde o seu pai foi soldado e prisioneiro na Sibéria, tendo depois passado pela China até voltar pra casa, no ano de 1920. Em 1931 o destino é o Brasil, Espírito Santo, Águia Branca.
Estamos diante de informa­ções, dores e sofrimentos do povo polonês. Mostra a certe­za que seu pai tinha de que melhor seria deixar a Europa guerreira. Ele havia sofrido na carne a dureza das bata­lhas e do campo de concen­tração. Deixando o campo minado dos conflitos, o pai de Glazar sempre ouvia de sua esposa os lamentos e pedidos para voltarem à terra mãe.
Segundo Glazar, seu pai, Vi­cente, sabia que os tempos ainda seriam duros na Europa conflagrada. Em 1939, quando a Segunda Guerra começou a destruir novamente a Europa, foi “justamente na região on­de nós tínhamos morado que ocorreram as batalhas entre alemães, poloneses e russos”, observa Glazar, dando razão a seu pai.
Glazar descreve a Polônia, onde quase morreu na neve. Conta os primeiros anos de Brasil e a determinação de quem deixa a sua terra natal em busca da paz.
Textos curtos, nos prendem na leitura, revelando a força de quem enfrentou a vida com garra e determinação. A família é destaque. Fala do corte da mata para plantar as lavouras e o sustento futuro. Lembra o primeiro par de sa­patos comprados aos 17 anos e de número 43 (De tanto an­dar de tamancos e sandálias, meus pés tinham alargado. Depois meus pés foram dimi­nuindo e hoje uso o número 39”).
No relato enumera os ami­gos, poloneses e brasileiros. O primeiro trabalho na Com­panhia Polonesa e os seus passos no comércio de café, nas lutas da comunidade e na vida política. Ele foi vereador quando São Gabriel ainda pertencia a Colatina. Foi o primeiro prefeito de São Ga­briel e depois foi reconduzido ao cargo, sempre pelo voto. Com ternura fala do casamento com Kassemira Zieba, também menina quando che­gou ao Brasil, em 1930. Co­nheceu a esposa quando era caixeiro da Companhia Polo­nesa e ela, freguesa. Num bai­le dançaram a noite toda e “com aqueles lindos olhos azuis e um sorriso no rosto não havia quem resistisse. Só faltou mesmo o beijo, pois ti­nha muita gente”.
Conta como chegou ao café conilon e o seu interesse, ten­do inclusive feito uma lavou­ra de quatro mil pés em 1963. A ligação Glazar/conilon ge­rou uma batalha para que o Governo financiasse o seu plantio, o que foi feito no ano de 1975. A história econômica do Estado tem nesse tempo um marco e salvação do êxo­do rural para milhares de ca­pixabas.
"Brava Gente Polonesa" é leitura para quem quer co­nhecer História capixaba. É leitura obrigatória para quem trabalha com conilon, como gratidão a quem abriu a estra­da para termos hoje 7 milhões de sacas na safra deste ano e comida na mesa de milhares. Bravo Eduardo Glazar.
Ronald Mansur é jornalista, 

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