segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ijui. Grzybowski.

O Imigrante Polones no Processo de Integração social de Ijuí

Homenagem Póstuma ao meu estimado Avô  João Grzybowski
Índice


Prefácio......................................................................................IV
Sumário Polonês ....................................................................... V
Bibliografia................................................................................IX
Esquema Completo.....................................................................X
Introdução..................................................................................  1
Cap. 1º......................MEIO .......................................................3
1. Geografia..................................................................................3
2. História.................................................................................... 5
3. Componente Humano..............................................................8
4. Economia..................................................................................9
5. Vida Social, Cultural e Religiosa............................................l1
Cap. 2º  0 IMIGRANTE POLONÊS......................................17
1. Causas da Imigração...............................................................17
2. Chegada..................................................................................19
3. Vida e Costumes....................................................................21
4. Aspirações..............................................................................25
Cap. O IMIGRANTE E 0 MEIO............................................27
l. Situagão da Colônia................................................................28
2. Localizaçâo  ............. ...........................................................29
3. Participação do Imigrante Polonês........................................32
4. Atual Participagão.   ...........................................................44
5. A Nova Geração...................................................................46
CONCLUSÃO..........................................................................49

IV
Prefácio
Ha muito tempo vinha esperando uma oportunidade para escrever algo sobre a participação do Imigrante Polonês na vida do Brasil. Finalmente surgiu uma bela ocasião de prestar a minha homenagem à Pátria de meus avós com a tranacorrência do Milênio Cristão da Polô­nia.
Sendo estudante de Sociologia na Faculdade de Filosofia de Ijuí, julguei ser mais proveitoso um estudo sociológico sobre o Imi­grante, ao invés de simplesmente histórico. Mas, ao ver a complexi­dade, a profundidade e a extensão da matéria, resolvi limitá-la a uma determinada região e mais ainda ao município em que atualmente me encontro.
Todo o pesquisador em matéria de Imigração se coloca perante fatos muitas vezes irredutíveis, pois as fontes são primárias e mal organizadas. Além do mais, a observação e a análise nem sempre chegam ao âmago da realidade social. Este problema se agrava com refe­rência à Imigração Polonêsa, onde os documentos são raros e, na ma­ioria dos casos, incompletos.
0 presente trabalho é fruto de pesquisas bilbliográficas, con­tatos, análises e observações. É apenas o começo de um estudo amplo e fecundo, ou seja, sobre o Imigrante Polonês no Processo de Integra­ção Social de Ijuí.
Sentir-me-ei feliz se estas páginas servirem a alguém interes­sado em conhecer a colaboração dos poloneses na formação do Brasil de amanhã.
Cândido Grzybowski

X
BIBLIOGRAFIA
1)  Zdanowski, Feliks Bernard - Kalendarz Polaki na rok zwyczajny 1898 - Porto Alegre.
2) Gardolinski, Edmundo - Imigranção e Colonização Polonesa - (Enci­clopédia Rio-grandense - Imigraçâo,vol.5), Canoas, Editora Regional, 1958. 114 pp.
3) Album Comemorativo do Cinqüentenário da Fundação de Ijuí - 1890-1940.
4) Diógenes Júnior, Manuel - Imigração, Urbanização, Industrializa­ção - Rio, M.E.C., 1964. 385 pp.
5) Cinquentenário de Ijuí,1912-1962.
6) Nossas Coisas e Nossa Gente (programa radiofônico) - CEPS, Ijuí, FAFI, 1961.
7) IBGE – Enciclopédia dos Municípios (XXXIII) - Rio, 1959, pag.278
8) Vários - Rio Grande do Sul, Terra e Povo - Porto Alegre, Globo, 1964. pp.295.

ESQUEMA COMPLETO

O Imigrante Polonês no Processo de integração social de Ijuí
Iº - Introdução:
a - Objeto da presente Pesquisa
b - Pontos abrangidos
c - Finalidades
IIº - Desenvolvimento:
1. - 0 Meio
1.1- Geografia do Município - Posição geográfica, configura­ção do terreno, hidrografia, flora, fauna e clima.
1.2 História Antes da fundação, chegada dos primeiros homens fundação da colônia, a época imigrantista, emancipação.
1.3 Componente humano - Habitante primitivo, imigrantes, Desenvolvimento populacional, atual situação.
1.4 Economia - Causas do desenvolvimento, agricultura, pe­cuária, indústria, comércio, energia.
1.5 Vida social, cultural e Religiosa. - Associações, mo­vimento comunitário, escolas, irei os de comunicação cultural, vidareligiosa.

2 - 0 Imigrante Polonês.
2.1 - Causas da imigração. Imigração européia, imigração polo­nesa:
2.2 - Chegada - época, proveniencia, número de imigrantes
2.3 - Vida e costume - Vida social, cultural, pontos negati­vos, preparação profissional, valores do Imigrante.
2.4 Aspirações - Realização, felicidade e paz.

3. - 0 Imigrante Polonês e o Meio.
3.1 - Situação da Colônia na época da enfada dos imigrantes .Paisagem física, meios de subsistência, ajuda governament componente humano, situação política.

3.2 - Localização - Logo que chegaram, deslocamento, atual localização.
3.3 - Participação do Imigrante Polonês - Na vida sócio-cultural, econômica, religiosa. Conseqüências de certas atitudes do imigrante Polonês, influências causadas e sofridas.
3.4 - Atual participação do Imigrante Polonês em Ijuí, movimento Comunitário, Estudos, técnicas...
3.5 - Nova Geração.

IIIº - Conclusão:
1 - 0 que se espera atualmente do Polonês.
2 - Como realmente hoje se apresenta a sua vida.
3 - 0 que será o Imigrante Polonês integrado na Região.

1. O IMIGRANTE POLONÊS NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SOCIAL DE IJUÍ
Introdução.
Sendo esta pesquisa eminentemente sociológica, devo esclarecer, de início, alguns aspectos que poderão ajudar a melhor compreensão das conclusões apresentadas no presente trabalho.
Toda a pesquisa sociológica, visando a realidade social, abran­ge as pessoas com os processos e estruturas em que estão inseridas. É, portanto, o estudo de algo vital. E ainda mais, o próprio pesqui-sador está participando neste processo vivo. Daí se conclui que toda a pesquisa sociológica estará sempre aquém da realidade social, pois a estuda como algo estático. Bnquanto o pesquisador procura desven­dar um fato social, a realidade já é outra pois ela caminha, muda e se situa em novos valores. Ha, também, o perigo de faltar a objeti­vidade numa pesquisa deste campo, pois como já disse acima o próprio pesquisador é uma porção consciente da realidade que estuda.
Outro aspecto importante no dado social é sua implicação histó­rica. Toda a realidade social tem uma dimensão histórica. 0 estudo que se fizer do social será sempre num determinado momento. Existe, então, a necessidade de distinguir história e sociologia. A história não visa como a sociologia estudar os fatos e suas implicações na vida humana. Por outro lado, devemos ter sempre presente que uma pes­quisa não tem por fim a doutrina, mas estuda a realidade social como ela se apresenta. A sociologia visa os fins enquanto causas e os va­lores enquanto realidades.
Após esta apresentação inicial, como o título o diz, a presen­te pesquisa procura demonstrar a ação do Imigrante Polonês, com sua bagagem psíquica e cultural, no processo de integração social de Ijuí.
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Abrange três partes: a) - Em primeiro lugar vou dar uns dados sobre o meio com seus fatores condicionantes. Será uma apresentação da realidade de Ijuí. - b) - A segunda parte estuda o Imigrante polonês como pessoa de determinada formação religiosa, social e cultural, bem como carregado de um feixe de valores característicos, capazes de atuar na construção de uma civilização. - c) - 0 terceiro ponto é o vértice desta pesquisa: 0 Imigrante Polonês atuando no meio. Procurarei neste capítulo trazer tudo o que pude encontrar com refe­rência ao Imigrante Polonês de Ijuí. Vou colocar a obra do imigrante dentro do processo histórico ara que ae acha envolvido o município. Será um exame sociológico desde a colonização até os nossos dias.
Por fim, vou tentar esboçar as feições do que está surgindo no seio dos jovens poloneses e as mudanças que isso acarreta.
Estes são os pontos sociológicos que a seguir vou procurar apresentar. Saliento que com essa pesquisa não dou por encerrado o assunto. Estudar o Imigrante Polonês se integrando numa comunidade  é algo rico e complexo, que exige paciência, tempo e dedicação. 0 que tenho em mente, porém, é despertar o assunto para futuras pesquisas mais profundas e fecundas. Vou procurar dar e abrir algumas perspec­tivas para estas posteriores buscas. Satisfeito ficarei se com is­so conseguir servir      alguém interessado em conhecer a colaboração que os poloneses estão dando para formar um Brasil mais humano e cristão. Penso que com este trabalho estarei prestando, igualmente, uma verdadeira homenagem à pátria de meus avós - A Polônia - e à mi­nha pátria - 0 Brasil - pois ambas contribuiram na minha própria formação, fazendo palpitar em meu peito um coração humano,aberto e cristão .

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CAPÍTULO Iº -  O MEIO
Como nos diz Amaral Fontoura, o meio é a atmosfera em que es­tão inseridos os seres vivos. A ação de um sobre o outro é a de forne­cer condições, possibilitar transformações. "0 homem e o meio agem e reagem um sobre o outro e possibilitam direções várias e realizações culturais diversas".
Hoje, Ijuí assume feições culturais de destaque no Rio Grande do Sul. Tudo isso, porém, é fruto do esforço paciente e perseverante de homens de diversas etnias a lutar por uma civilização. Possibili­taram e condicionaram esta ação dos imigrantes muitos fatores. Des­tes, uns foram o conjunto de possibilidades do passado e atualmente não se fazem sentir de modo tão marcante; outros, são os fatores que hoje condicionam fortemente a vida em Ijuí.
Como quero apresentar uma visão geral do meio em que o Imigran­te Polonês atuou, é necessário analisar uma série de fatores em par­ticular. Os fatôres condicionantes podem ser agrupados em dois grandes tipos: primeiro – individuais, o segundo – ambientais, êstes por sua vez em fízicos (geográficos) o sociais (culturais, instrumentos.  e técnicas usadas, os usos e costumes, as normas de vida e os valores sociais, éticos e religiosos.)
Para uma melhor compreensão é necessário um estudo a parte de cada um desses fatores. A ordem seguida não é a ideal, mas foi ado­tada para uma mais fácil explicação.
1 - Geografia do Município.
De acôrdo com a última divisão fisiográfica do Estado do Rio grande do Sul, Ijuí ficou pertencendo ao planalto médio. A sua su­perfície atual é de 1.002,370 Km² , excluídos os dois novos municí­pios: Ajuricaba e Augusto Pestana. Está a uma altitude de 348 metros


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acima do nível do mar. Tem uma das melhores colônias do Estado. Situa-se nas duas margens do rio Ijuí. A cidade estagno centro da colônia. Fazia parte da primitiva colônia de Ijuí só a densa mata à margem es­querda do rio. (ver mapa 1).
0 terreno apresenta uma configuração acidentada. Terra vermelho-escura, com muita argila na maior parte, boa para quase todas as plan­tações agrícolas. Desde a época da colonização apresenta estradas que não deixam muito a desejar comparando com as outras colônias. Atualmen­te é servido por linhas aérea, rodoviária e ferroviária (ver mapa 1 e 2).
Como alguém disse, são elementos essenciais do Rio Grande o tem­po, o vento e a água. Ijuí não escapa à regra. A água aqui é abundante. 0 Padre Antoni Cuber escreveu o seu artigo "Z nad Uruguayu" no calen­dário polonês de 1998 que qua.se nenhuma colônia ficou sem ter um veio de água dentro de seus limites. Três rios cortam o município, nenhum deles, porém, navegável. Dois são de relativa importância pelo apro­veitamento hidráulico.
Sob o aspecto fito-geográfico, Ijuí há uns oitenta anos atrás era uma ilha de mato no meio do campo. As matas dêste município eram ricas em variedades. Atualmente não são tão abundantes, mas assim mes­mo se encontram vestígios do destino geográfico a que estava sujeita a região; ser um grande mato. Encontram-se: a guajuvira, o louro, a canela escura, bem como a branca, a canjerana (vermelho-escura), o an­gico, a cabriúva, o cedro, a erva-mate, etc...
A fauna, também,era variada, Nos matos e nas primeiras roças  encontravam-se: javalis, tigres, tamanduás-bandeira, tatus, veados, antas, lebres, aves como os gaviões, corvos, pássaros cantores de todas as espécies, especialmente os tucanos, papagaios, picapaus, etc... Existem lagartos, rãs, peixes de muitas qualidades, capivaras. Dos insetos os mais importantes, durante os primeiros tempos da colo­nização, foram as abelhas. As borboletas são as mais diversas em tama­nhos e cores.
Clima agradável e bom. Nos meses de maio a agosto formam-se al­gumas geadas. £m agosto, setembro e outubro, normalmente, chove em abundância. De novembro a março domina o calor. Temperatura média: no verão 25°C. e no inverno 12ºC
Após estes dados é possível uma pequena análise de como o fator geográfico atuou na formação de Ijuí. Foi perante este meio geográfico que se encontrou o Imigrante Europeu. Quando ele aqui chegou tudo era natureza. 0 homem ainda nao tinha penetrado com o seu poder criador,

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contudo, após o aparecimento do elemento humano,o destino geográfico de Ijuí cedeu ao destino histórico. Pois desde então se criam e se ex­plicitam valores culturais e humanos que obedecem a esta missão plan­tada pelos imigrantes os mais diversos. Foi a natureza que favoreceu o desabrochar da alma do homem de Ijuí. Para reforçar esta idéia está a palavra do eminente sociólogo, Frei Matias Osório Marques, Diretor da Faculdade de Filosofia desta região: "Vemos, desta maneira, desde o início, a natureza física de Ijuí desenvolvendo e padronizando as aptidões trazidas pelos que aqui vinham,favorecendo os hábitos de tra­balho e da iniciativa particular: as duas atitudes básicas da alma ijuiense".
2 - História de Ijuí.
Para melhor compreender como foi se desenvolvendo o atual muni­cípio de Ijuí, o pesquisador deve ter bem presente os primeiros anos desta colônia com o seu característico própria: formadora de um povo.
Situadas como estão no planalto sul-riograndense, essas terras estavam compreendidas, no século dezessete, na famosa redução dos Je­suítas. No século dezenove pertenceram a Rio Pardo e depois a Cruz Alta, de quem, dependiam na época da emancipação .
Ijuí - palavra guarani que significa "rio dos sapos" - é o nome do maior rio que na época da criação da colônia passava pela densa ma­ta. 0 primeiro núcleo humano do município de Ijuí foi Picada Conceição; principalmente no local designado Barreiro. A época da chegada dos primeiros homens neste lugar foi antes da fundação da colônia, em 1887. A maioria eram italianos, como os Vione, Brum, Dosordi, Viecelli, Fiorini, e ou­tros como Cereser, Hickenbick. 0 trajeto por eles percorrido está des­crito no mapa número 1 desta pesquisa. Vendo o governo estadual o in­teresse que tinham despertado estas terras, mandou, em 1889, demarcar mil colônias para serem distribuídas aos imigrantes. A dezenove de ou­tubro de 1890, sob a chefia do Engenheiro José Manuel da Siqueira Couto, era criada a colônia de Ijuí. Abrangia, como já disse acima, somente o mato à margem esquerda do rio.
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0 primeiro diretor da nova colônia foi o próprio José Manuel da Siqueira Couto. Após quase dois anos de administração, José da Siquei­ra Couto se retirou e assumiram o cargo, sucessivamente, vários dire­tores. Ernesto Mützel Filho ficou seis meses no cargo e depois cedeu a Horácio da Lima e Silva. Em l891 assumiu a direção da colônia o di­nâmico e sábio Augusto Pestana. Foi sob o seu período administrativo que a colônia mais se desenvolveu. Os primeiras imigrantes que aqui chegaram foram vinte e cinco famílias da Volínia, Rússia. A data de sua chegada foi   1890. Localizaram-se na linha 1 oeste, onde hoje se acha instalada a possante firma - Glitz S.A. Foi, portanto, na própria sede de Ijuí, naquele tempo denominada Barracão, que se fixaram. Desde Silveira Martins vieram en­frentando as matas, carregando consigo um pouco de feijão, farinha, fumo, etc... Fixaram-se no atual lugar da  cidade. Nada encontraram. Desde o início a luta foi épica. Alguns fugiram não agüentando a du­reza de tal vida; outros, porém, ficaram sem saber o que fazer dessas matas que eram sua posse.
Depois chegaram os russos e poloneses, os alemães, os austríacos, os italianos, etc... Pouco a pouco a terra era conquistada pelo homem e a natureza cedia à cultura. As maiores levas de imigração polonesa foram nos anos de 1891 e 1892. Os austríacos, umas quarenta e poucas famílias, chegaram em 1893 e se fixaram nas linhas 6 e 8 Leste (para uma melhor compreensão ver mapa n° 1).
Inicialmente, parecia que o futuro da colônia estava comprome­tido. Havia miséria, fome e desanimo em muitos. A maioria dos imigran­tes, tanto poloneses como austríacos, não tinham experiência agrícola. Procediam de cidades inteiramente industriais. Os poloneses eram prá­ticos em tecelagem e os austríacos provinham da Boêmia, de uma grande
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fábrica de armamentos que caiu com o término da guerra entre a China e Japão. Os primeiros imigrantes, portanto, eram pobres e necessi­tavam de auxílio. Como neste  anos de colonização estourou a revolu­ção Federalista (1893), a crise se fez sentir enormemente. A colônia foi abandonada e os imigrantes sujeitos à fome e miséria. Os roubos eram muitos. Neste tempo difícil, porém, os imigrantes adquirirarm ex­periência e, apesar da pobreza e do abandono a que estavam entregues, já tinham seu próprio alimento.
Foi quando surgiu Augusto Pestana, o hábil administrador. Para dar uma arrancada decisiva para o progresso da região, favoreceu a or­ganizou a imigração de elementos experimentados das "colônias velhas", como: Santa Cruz, Cachoeira, Estrela, Lajeado, Venâncio Aires, São Leo­poldo, Caxias e outras tanto do Vale dos Sinos, Vale do Taquari, Vale do Rio Pardo, e da Serra. Realmente, Augusto Pestana soube levar a co­lônia para o que hoje nós chamamos "Colmeia do Trabalho". Com hábil ti­no político conseguiu a incorporagção à colônia do Distrito de Cadeado de Cruz Alta e das matas de Santo Ângelo à margem direita do Rio Ijuí.
Entre o ano de aua poose,1891 e 1912, imigrantes experimentados e com um pouco de dinheiro afluíam diariamente a Ijuí. Foi então que se registrou um Êxodo de imigrantes, principalmente poloneses (ver ma­pa nº 1).
Aos trinta e um de janeiro de 1912, por decreto nº 1.814, a colônia se emancipou em município autônomo. Como intendente provisório foi nomeado o Engenheiro civil Dr. Augusto Pestana, designação, aliás, muito merecida por seus esforços.
No dia trinta de dezembro de 1912, realizou-se a primeira votaçao, sendo eleito na ocasião o intendente Antônio Soares de Barros. Desde sua emancipação, o município de Ijuí cresce e “sua histó­ria é a história da administração e do desenvolvimento econômico de uma colônia que se desenvolveu de tal forma que veio a constituir um dos mais futurosos municípios do Rio Grande Do Sul” (Enciclopédia dos Municípios, volume 33)

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Atualmente, o grande problema de Ijuí é o êxodo rural que se es­tá processando de há uns quinze anos para cá. Como é um fenômeno social veremos as suas causas e consequências ao analisar a vida social de Ijuí.
3 - Componente humano.
Depois de ter apresentado os primórdios da colônia, parece es­tranho o fato de apenas agora se fazer um estudo a respeito do compo­nente humano de Ijuí. A razão que me levou a tal é a necessidade que se tem de alguns dados mais desenvolvidos sôbre diversos tipos de emi­grantes entre os quais o Imigrante Polonês atuou no passado, partici­pa e se integra no presente, e, colabora na formação de um elemento novo: o homem brasileiro.
Antes da colonização, estas imensas matas eram somente conheci­das por índios esparsos. Os campos, estes sim, já eram aproveitados pe­lo homem. Neles surgiam estâncias, vilas e cidades. 0 gado era a prin­cipal lida do homem.A facilidade que o campo oferecia era grande e por isso a mata não era tão convidativa para o homem. 0 índio, homem pré-histórico no seu desenvolvimento, nunca poderia produzir uma civiliza­ção com as característica que hoje assume este próspero município.
Quando comegou a imigração, 1890, com os primeiros imigrantes da Volínia, tudo mudou. A natureza cedeu ao homem, uma enorme leva de imi­grantes chegava dia a dia. A maioria vinha abrindo picadas, carregando em pequenas carroças seus poucos haveres. Era o avangar épico, a prin­cípio de poloneses e russos, depois de muitos outros imigrantes de di­ferentes etnias. Em 1896, havia nesta colônia gente de dexenove países. As principais etnias, segundo Pe. Cuber, eram: os poloneses com quinhentas famílias, os letos com trinta, os russos com vinte, os alemães, com duzentas, os aus­tríacos com cento e seis, os italianos com cem,os suecos com cinqüenta   e alguns finlandeses.


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Alem desses, existiam portugueses, brasileiros, espanhóis, franceses, árabee, negros, mulatos,bugres.
"O caldeamento de ragas transformou e vem transformando os habi­tantes da colônia no que hoje se vê heterogonèidade de tipos, a caminho da homogeneidade,  diz o calendário do cinqüentenário da eman­cipação de Ijuí. É realmente espantosa a assimilação que se está fazen­do dos valôres das diversas etnias. Apesar de que nem todos colabora­ram com mesma intensidade, podemos dizer que a nova ceração já é um certo fruto da integrarão dos diversos tipos estrangeiros colonizadores de Ijuí.
No fim dêste apanhado do que foi e como se apresenta o homem de Ijuí é interessante salientar o desenvolvimento populacional do muni­cípio. Segundo dados do calendário do cinqüentenário da emancipação de Ijuí, em 1860 a colônia já poosuia 8.847 habitantes. O número tinha-se elevado para vinte o cinco mil trezentos e vinte e cinco habitantes em 1914. Em 1921 atingia a cifra de 30.640 habitantes. Atualmente, após ter sido parcelado o território em vários outros municípios, possui 45.266 hebitantes (dadoe de 1964). A cidade possui 21.610 habitantes.
4 - .Cconomia.
Um outro fator que atua no meio ijuiense é a cultura na sua ex­pressão econômica. Ê um dos fatores que mais condicionam a vida em Ijuí. O seu papel foi aumentando progressivamente ao lado do desaavolvimento do município. É neste campo que Ijuí demostra a sua pujança e vita­lidade num progresso assombrante.
Tendo presente a conclusão apresentada ao estudar o fator geográ­fico como condicionante na formagâo da alma do homem de Ijuí, compreen­de-se de imediato a causa do atual progresso agrícola, industrial e co­mercial, bem como as novas linhas sociais, culturais e religiosas des­te povo. De momento, porém, vou apresentar somente o desenvolvimento econômico no que ele tem de próprio.

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As duas atitudes básicas do homem de Ijuí são o trabalho e a ini­ciativa particular. São estas as grandes geradoras do progresso econô­mico que se verifica neste município. 0 seu fundamento está na alma dos pioneiros, que, com heroísmo quiseram realizar em sua própria ter­ra o esboço de um mundo possuido pelo homem. Os primeiros imigrantes viram-se perante a  alternativa da natureza: construir ou morrer. Foi entre estes heróis do passado que desabrochou a missão história de Ijuí: ser um povo unido de grande expressão econômica.
Como fruto deste poder criador temos, nos diversos setores eco­nômicos os seguintes dados:
-           Ka agricultura, os principais produtos slo: soja, milho, trigo, linhaça, cana de açúcar e amèndoin. A situação agrícola é regular. Já estão sendo mecanizadas as lavouras, principalmente as de soja, milho e trigo. Dominam os pequenos proprietários que adotam a policultura.
-           A pecuária está bastante desenvolvida com referencia à suinocultura. Há, também, criadores de eqüinos, bovinos, ovinos e aves.
-           Onde, porém, Ijuí demostra o seu grande desenvolvimento é na indústria. É uma verdadeira potência industrial do intetior do Estado. São umas quinhentas indústrias na seguinte ordem: madeireiras, metalúr­gicas, tritícuias, arrozeiras, ervateiras, frigoríficas, canavieiras, etc. Em quase todos os ramos já estão sendo adotadas as novas técni­cas. Ainda no setor industrial é importante salientar a exploração eco­nômica das riquezas minerais do município. São exploradas atualmente,
as águas minerais Sul-Ina e Itai, existindo as 35 Fontes Ijuí, com ótimas instalações para estação de recreio balneário e tratamentos medicinais. 0 barro e argila são explorados na indústria cerâmica.
-           Outro ponto de expressão econômica intensa é o comércio. Os es­tabelecimentos atingem a cifra de 400. Não se destaca ramo preferencial. Há estabelecimentos atacadistas, varejistas, de importação e exportação.

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Vale, também, salientar a ação dos Bancos e Institutos de Crédito para a intensi­ficação da vida econômica. São atualmente, em número de 11 na cida­de de Ijuí. Acha-se muito desenvolvido em Ijuí o setor cooperativista.
-           São as seguintes as cooperativas de maior relevo: Cooperativa tritícula Serrana, Cooperativa Mista Mauá, Mista Tuiuti, Caixa Poular Rural União Popular de Ijui e outras de menor alcance.
-           Tem grande significação a energia elétrica no desenvolvimento da região. No rio Potiribu estão instaladas duas usinas, uma das quais, com duas turbinas, fornece energia à cidade de Ijuí. Outra usina ins­talada no Passo de Ajuricaba fornece 2.300 HP em energia elétrica. 0 município está ligado, também, a maior usina elétrica da região, a do Jacuí.

5 - Vida social, cultural. Religiosa.
A vida social, cultural e religiosa de Ijuí é outro fruto da doação generosa dos primeiros moradores desta zona. É neste campo que se realizou a verdadeirs integração de valores trazidos por imigrantes de diversas etnias, inclusive os poloneses. Passo, para efeito didático, é uma rápida consideração dos seue vários aspectos.
a) - Vida social - desde o início o povo de Ijuí procurou unir-se para um intercâmbio, para uma assimilação mais profunda das próprias vidas e para a defesa dos interesses da classe. Foi assim que surgi­ram as diversas associações sociais e recreativas. As principais exis­tentes são: Associação Comercial, Associação Rural, Associação dos Criadores de Gado GERSEY, Associação dos Triticultareu, Círculo Operá­rio e outras. Entre as associações do passado destaca-se de modo quase único a associação "Tadeusz Kosciuszko" dos poloneses. No interior ain­da hoje existem associações fundadas pelos imigrantes como a Associa­ção Santa Ana, também dos poloneses. As associações recreativas de maior destaque são: Sociedade Ginástica Ijuí, Clube Ijuí, Sociedade fie-creativa Ijuí. Ha muitos outros clubes como o aéreo Clube, Clube de Ca­ga e Pesca, Centro de tradições Farroupilha, Lions Club, Rotary Club.


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Está em pleno funcionamento no município um Hospital. 0 Governo Federal tem instalado um Posto do SAMDU, o Governo Estadual, um Posto de Higiene.
Ijuí porém, está a caminho de uma integrarão social profunda. Já se está explicitando uma consciência de sociedade onde todo o homem é responsável e digno de respeito. Quer se formar uma comunidade única. A tendência é ir além das associações e chegar aos grupos de base, os verdadeiros responsáveis pela realidade social.
Este movimento surgiu no meio social urbano e hoje é uma realida­de única no Brasil: o Movimento Comunitário de Base. Primeiramente fo­ram os sindicatos e hoje é todo o município que participa deste proceso de conscientizaçao comunitária.
No meio rural surgiu esta consciência com o êxodo dos agriculto­res que citei acima. Os colonos de há uns quinze anos para cá estão se deslocando para o Estado de Paraná e Sul de Mato Grosso. Este fenômeno, em primeiro lugar, é devido à falta de terra e esgotação das existen­tes. Em segundo lugar, uma causa mais profunda gera este problema em que estão envolvidos elementos de todas as etnias. A falta de fixação no colono é devido à não existência de uma lei social para o agricultor.
Um grande movimento social começou, então, tomar vulto no meio ru­ral. A primeira resposta foi a mecanização e o emprego de técnicas. Ago­ra já se está a caminho de uma formação de comunidade, é a Reforma Agrá­ria.
0 movimento comunitário é o verdadeiro causador da integração so­cial consciente. Partindo do esforço de um povo, este movimento é diri­gido pelo Instituto de Base da Faculdade de Filosofia local. Tem por finalidade o despertar das consciências para uma promoção do homem numa verdadeira comunidade

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Imensos sao os frutos deste movimento e nêle estão integrados jovens e velhos, operários e agricultores, sem dis­tinção num esforço comum,   por um mundo melhor, seus maiores resul­tados se verificam na zona rural onde se apresenta sob o nome de Refor­ma Agrária (ver mapa nQ 2 - os grupos de base na zona rural)
Este movimento surgiu com feições nítidas em 1961, quando se pen­sou formar uma consciência comunitária de um povo a caminho da integra­ção social humana e cristã. É ele que atualmente desvenda o processo em que todos os membros deste município estão inseridos. Este dado jul­go importante para compreender o presente trabalho, pois quero demons­trar com o que o polonês colaborou nesta transformaçao de um povo, an­tes organização jurídico-política, agora comunidade.
b)- Vida cultural - 0 ambiente cultural do município é dos me­lhores do interior do Estado. Desde oo primeiros anos da colonizarão os imigrantes fundaram escolas para seus filhos. Todo o imigrante euro­peu trazia uma base cultural alicerçada em milhares de anos de forma­ção étnica. "Dentro desta - base cultural que se refletia em sua menta­lidade, em seus hábitos, em suas atividades, o papel da escola se des­tacava" (Manuel Diégues Júnior - IMIGRAÇÃO, URBANIZAÇÃO, INDUSTRIALI­ZAÇÃO ).
Essas primitivas escolas foram o gérmen da vida cultural que vi­ve o povo de Ijuí. Existem atualmente 175 escolas primárias municipais, estaduais e particulares, 6 ginásios, duas escolas normais, sendo uma delas rural, um curso colegial científico e outro clássico, duas esco­las técnicas de comércio, um curso técnico de agricultura e uma facul­dade de filosofia,ciências e letras.
É tudo isso que gera a cultura, que prepara a nova geração para assumir a missão realizadora dos homens desta terra.
Além do mais, bi-semanalmente é editado na cidade um jornal, o Correio Serrano, de grande difusão no planalto sul-riograndense e oeste catarinense.

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Também, duas emissoras, Progresso e Repórter, estão em plena atividade. A arte está se incentivando pouco a pouco, exis­tindo já grupos teatrais, literários, uma escola de belas artes, as  três escolas de música. Apenas dois ci­nemas localizados na cidade. Nos ramos da vida prática e profissional existem, também , três escolas de dactilografia, três escolas de corte e costura, dois cur­sos de arte culinária.
c)- Vida religiosa - O município de Ijuí é caracterizado pela diversidade de credos,ao todo nove ritos diferentes. A maioria dos templos são católicos e evangélicos. A primeira igreja foi construida ainda no princípio da colonização pelos poloneses e outros católicos, orientados pelo Padre Antoni Cuber. Hoje há duas paróquias na cidade, uma dirigida pe­los padres seculares e outra está anexa ao Seminário Maior de Filoso­fia dos Capuchinhos. Um outro aspecto de Ijuí, herdado desde os imi­grantes, é a tendência a autenticidade com respeito à vida religiosa. São testemunhas disso as inúmeras conferências, semanas bíblicas, es­tudos e o interesse pela vida interior demonstrado por todo o cidadão ijuiense.
Há pouco tempo, a Paróquia da Natividado de Ijuí se tornou sede de um Vicariato Episcopal na pessoa de D. Walmor Batú Wichrowski. A jurisdigao de D. Walmor atinge vários municípios ao redor de Ijuí, mas todo seu trabalho é coordenado numa amplitude maior pela diocese de Santa Maria, à qual pertence a região.
Chegando ao fim destas considerações breves, porém necessárias, respeito do meio em que os imigrantes europeus viveram e atualmente estão inseridos, fica bem claro o seguinte: Todo o imigrante colabo­rou para que de uma mata virgem surgisse isto que hoje chamamos de "Colmeia do Trabalho".

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Toda a bagagem cultural dos imigrantes das di­versas etnias fundiu-se para que houvesse uma integração social típica, exemplo para o Rio Grande e o Brasil. Ijuí caminha continuamente para a realização do homem. Neste pro­cesso,    quer queiram, quer não, todas as pessoas destas comunidade estão participando. Alguns imigrantes delinearam o sentido desta mis­são histórica de Ijuí desde suas origens, há 76 anos atrás. Outros, a princípio presos a suas próprias vidas e problemas, foram mais tarde os verdadeiros construtores de base cultural desta região. Com o tempo, porém, surgiu uma nova geração de homens que, se tinham em suas veias sangue europeu, estavam também condicionados por fet-res culturais de inúmeros povos e já transparecia em suas vidas uma certa feição do homem brasileiro.
Atualmente, um novo fenômeno se manifesta neste meio a caminho de uma integração. Mais uma geração, uma carga de valores, está por passar enquanto se tenta afirmar a chamada "Nova Geração". Nesta fase também Ijuí está sofrendo o grande problema do mundo moderno. É algo novo que tem em si ume potêncie psíquica e cultural capaz de dar no­va feição ao mundo dos homens. 0 problema para a nova geração consis­te em ser fiel à missão histórica em que está engajada e ao mesmo tempo ser autêntica para consigo mesma. Em Ijuí, os jovens pensam e tentam compreender o passado que os seus avós europeus construíram. Neles exis­te algo de perene, pois há valores que não passam com as gerações. Por isto é necessário um estudo para desvendar todos os valores imperecíveis das gerações passadas que com grande esforço realizaram o que ho­je surge diante dos olhos; o progressista município de Ijuí. Este es­tudo se faz mais necessário ainda para a atual juventude que se deba­te na opção entre a autenticidade e a mediocridade.

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Nesta fase decisiva da integração social está a esperança do povo de Ijuí. Nela todos participam. Neste trabalho, porém, vou pro­curar demonstrar como o Imigrante Polonês deu sua contribuição e co­mo os seus filhos e netos já são homens integrados ou estão a caminho desta integração social que resultará na própria realização e na pró­pria felicidade.
Antes de dar os aspectos desta integração é necessário passar a um estudo do Imigrante Polonês tomado como elemento humano capaz de colaborar na construção de uma civilização.

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CAPÍTULO II
O IMIGRANTE P0LONÊS
À primeira vista, parece desnecessário fazer uma análise par­ticular de um determinado grupo humano por ele fazer parte de um ou­tro maior| no caso o europeu. À medida, porém, que mais verdadeiras e profundas fizermos as nossas pesquisas sociológicas, imediatamente aparece a necessidade de compreensão exata, não só do grupo humano em geral, como também das diferentes classes e tipos de que está formada. E para reforçar o valor que tem o estudo de um restrito grupo humano, basta recordar a influência que têm os diferentes fatores condicionantes na formação de um povo. É com estes argumentos que passo a um estudo do Imigrante Polonês quase que totalmente distinto de tantos outros, sem, contudo, menosprezar a grandeza destes, o seu valor e sua contribuição.

1. Causas da imigração.

0 conjunto de causas que atuaram para a formação do surto imigrantista europeu é complexo. Existem causas gerais e outras particu­lares a um povo, por exemplo o polonês, e mesmo causas próprias a ca­da indivíduo, ás principais causas que provocaram a imigração européia ao nosso país foram, ao meu ver, as seguintes: a) - 0 aumento da po­pulação nos paises de origem dos Emigrantes. - b) - 0 alargamento do campo político dos estados que comparam ter relações com nosso país e, de certo modo favoreceram a imigração. - c) 0 aperfeiçoamento dos transportes marítimos. - d) - A facilidade de comunicação. Começou uma época de maior difusão de notícias a respeito do Brasil. - e) -As crises políticas, sociais e econômicas a que seguidamente estavam sujeitos os habitantes dos países europeus. - f) - 0 regime de proprie­dade de terra vigente, que permitia a posse de extensões enorme/a uns poucos, e a carência à grande maioria. - g) - Uma causa eminentemente brasileiras a falta de mão-de-obra para a ggrlcultura em nosso país.
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Além dessas causas gerais, algumas outras que se aplicam mais acertadamente no caso da imigração polonesa. A Polônia, depois  de seu grande período nos séculos passados, passava por uma das mais difíceis etapas de sua história. Dominada por várias nações, principalmente a Alemanha e a Rússia, a Polônia parecia soçobrar. 0 grande martir desta situação política era o seu povo. A fome e a miséria im­peravam na maioria dos lares. Uns poucos abastados tinham sobre si dezenas de famílias para trabalhar a terra em seu proveito. Para o fraco e o pobre quase não existiam direitos. A lei era feita pelo ma­is forte. Mas o povo foi fiel ao seu glorioso passado e lutou por dias melhores. São prova disso os inúmeros levantes contra os eatrangeiros dominadores e defensores da situação vigente. 0 povo polonês precisava do trabalho e melhores condições de vida. Além do mais, a situação social e política em que se achava a Polônia, causaram uma série de problemas econômicos, principalmente nos grandes centros in­dustriais. Foi o que acontacau em Lódz, grande centro de indústrias de tecelagem, donde provieram quase todos os imigrantes poloneses de Ijuí.
Nesta mesma época, no Brasil abria-se um novo horizonte com a Abolição da Escravatura. Tornou-se necessária a participação do ele­mento estrangeiro na vida nacional. Ademais, com a proclamaçao da República, foi organizado um sistema de propaganda e de incentivo à imi­gração européia.
Encontrando a Colônia,  na época nação sem território, numa crise política, social e econômica aguda, os agentes do governo Bra­sileiro despertaram uma verdadeira febre de imigração para o nosso país. Entre os anos de 1890 e 1894 sairam centenas de famílias com  destino ao Brasil. Na sua maioria eram pobres, de baixo nível social e cultural.
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 Tinham, como nítida qualidade sua, o desejo de liberda­de para se realizar e ajudar os outros a viver em paa e felicidade. Foi por isso que os poloneses deixaram sua pátria e vieram dar sua contribuição de homens no esfôrço contrutor brasileiro. Historica­mente, estes foram os motivos que trouxeram os poloneses ao Brasil.
Sob o exame sociológico, o Imigrante Polonês aparece como um herói, pois apesar de sua condição e do sacrifício enfrentado na si­tuação adversa de sua pátria ele sempre traduziu aquela consciência de missão histórica de um povo. Á sua saída da Polônia não foi uma recusa aos ideais de sua pátria. Foi, antes, uma busca de realização destes ideais humanos de liberdade, fé, e paz em um outro país. 0 Imi­grante golonês jogou-se sob o risco do fracasso, mas não parou um ins­tante sequer. 0 que pôde, como homem, fez. Esta foi a sua grande res­posta à missão histórica da Polônia bem como ao chamado Brasileiro, que pedia sua contribuição na construção da pátria de seus filhos. Só sob este prisma o pesquisador terá uma visão clara das causas da imi­gração polonesa.

2 - Chegada.

Seguindo a divisão em etapas como nos apresenta Manuel Diégues Júnior (Imigração, Urbanização, Industrialização), os poloneses per­tencem à terceira fase da imigração brasileira, de 1888 a 1950. Pre­pararam o ambiente no Brasil a Abolição da Escravatura e a mudança do regime político. Nesta época aparecem leis que traçam o programa imi­gratório, cuja execução acarretou um notável desenvolvimento do pro­cesso. São desta etapa a maioria dos imigrantes europeus. Portanto, quantidade elevada e grande variedade sio sinal característico desta fase.
0 Imigrante Polonês de Ijuí proveio, na maioria absoluta da ci­dade industrial de Lódz. Eram, portanto do sudoeste da Polônia.
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Havia algumas famílias de Varsóvia e arredores. Ha quem diga que todos pro­vinham da região central da Polônia. Eu, porém, discordo devido aos fatos históricos que comprovam minha afirmação. Lódz, no século passado, distinguia-se na indústria da tecelagen. Com o embaque econômico da Polônia, muitas destas indústrias não puderam sustentar todos os homens que vinham dos campos e o desemprego foi em massa. A alternativa des­tes operários estava entre a miséria e a saída em busca de trabalho. Formaram-se, então, levas de imigrantes com destino aos Estados Unidos e América do Sul. Algumas dessas levas vieram parar em Ijuí, na época colonial do Estado do Rio Grande do Sul.
Com referência ao embarque, temos um testemunho de José Wolski, que integrou uma leva de 100 famílias polonesas vidas ao Brasil. 0 tre­cho que cito se encontra no precioso tratado sobre Imigração e Coloni­zação Polonesa do Engenheiro Edmundo Gardolinski. (Enciclopédia Rio-Grandense - vol. 59). - "No dia vinte e cinco de novembro de 1880, no porto de Bremen (Alemanha), embarcaram no navio "Bismark" cerca de 100 famílias polonesas com destino ao Brasil. Provindas das vizinhanças de Warszawa e Kalisz. Aportaram no Rio de Janeiro em 25 de dezembro do mesmo ano. Poucas dias após, seguiram viagem, via marítima, até Porto Alegre, onde foram embarcados de trem até Santa Maria. Daí fo­ram encaminhados para "Silveira Martins" onde permaneceram quatro me­ses. Desta localidade, alguns seguiram em carroças e a maioria a pé, com destino a Ijuí. A sua chegada ao término da viagem foi assinalada em 3/5/1991. Permaneceram na Vila, cerca de um mês. Deixavam as esposas, filhos e haveres no "barracão dos imigrantes", enquanto os homens seguiam a pé para o mato, a fim de tomar posse das colônias (prazos)". Aqui esclareço novamente que algumas famílias vieram do centro da Polônia, uma das quais era a dos Wolski, mas a maioria absoluta era do "governement" de Lodz.
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Veem-se, desde já, as dificuldades enfrentadas por estes po­bres homens. Viviam dias de penúria, mas na espectativa. 0 trajeto por eles descrito foi longo(ver mapa nº 1). Venceram as coxilhas e depois as matas até que atingiram a sede da colônia.
As levas mais importantes são as de 1891 e 1892. Depois que estourou a Revolução Federalista (1893), vieram muitos outros polo­neses, mas desorganizadamente e não obedecendo aos programas, que, aliás, ninguém observava. Diariamente chegavam famílias e logo se uniam às que já por aqui se encontravam.
Aqui, talvez, seja oportuna a indicação do número de poloneses que aportaram em Ijuí. Só nos anos compreendidos entre 1891 e 1896, chegaram para esta região umas quinhentas famílias, segundo dados apresentados pelo Padre Antoni Cuber. Portanto, como também confirma o diretor do Museu Antropológico da Faculdade de Filosofia local, Dr. Martin Fischer, o número de imigrantes era elevado comparando com as outras etnias.
3 - Vida e costumes.
Este é o aspecto fundamental no estudo do Imigrante Polonês. Muita coisa há de comum nos imigrantes. Todos eles são pessoas cônscias do que valem suas vidas na formação de uma pátria. Há, porém, algo que diferencia o homem de uma nação e o de outra. 0 processo vital mesmo é o causador das características que assumem certas pes­soas inseridas em fatores condicionantes específicos. 0 homem é pelo que é a sua vida. E um imigrante será uma força a integrar uma nova Nação se for constituido de um complexo de valores determinantes e de um característico próprio de vida, no modo de assumi-la. Só assim ele estará dando a sua grande contribuição da representante de um po­vo que vem para formar uma nova nação, fruto de sua participação no processo de integração social com outros elementos representantes de outros povos. É por isso que uma nação formada pela integração de
imigrantes é uma verdadeira potência humana,pois a vida social, cultural e religiosa de diversas nações se une na preparação de um úni­co todo social.

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Para melhor compreender o Imigrante Polonês vamos fazer uma análise dos vários aspectos de sua vida: a) Vida social - 0 polonês que aqui chegou, principalmente nos anos de 1891 e 1892, era de uma posição social pobre. 0 fato comprovante desta minha afirmação é a situação política e social de sua pá­tria no século passado. Além do mais, o Imigrante Polonês de Ijuí pro­veio de uma cidade industrial sob o domínio estrangeiro, portanto de ambiente em crise política, consequentemente social. A vida social mesma, devido aos fatores que a condicionavam, estava pouco desenvol­vida para enfrentar a situação. Os poloneses de Lodz viviam conscientes de sua posição e a queria melhorar. Mas, nas condições em que se encontravam, não puderam formar uma vida de sociedade onde todos participassem com os mesmos direitos e deveres, e, juntos pudessem resolver seus problemas. Por isso, o Imigrante Polonês não possuia experiência de verdadeira vida social, mas tinha as possibilidades  para integrar uma comunidade. Este aspecto se torna necessário ao analisar o como se gerou a vida social entre os poloneses. 0 Imigrante Polonês da colônia de Ijuí procurou trazer o pouco que tinha. Mas, como veremos, o processo pelo qual se formou uma cer­ta vida social entre os poloneses foi lento e, inicialmente, parecia impossível que surgisse. Isso se deu aos poucos. De início se formou uma consciência de problemas comuns, depois apareceu a necessidade de resolvê-los em conjunto, pois todos eram por eles atingidos. Este da­do, a posição social do imigrante, julgo importante para chegar a uma conclusão com referência ao polonês-brasileiro de hoje, uma das fina­lidades deste estudo. Por outro lado, o Imigrante Polonês, com o tempo foi levado muito ao associativismo.
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Êle veio da Polônia com uma tensão social em sua vida talvez mais acentuada que em outros imigrantes. Aparecendo as condições propícias, esta tensão se transformou e aos pouco gerou a necessidade de colaboração e amparo mútuo dos primeiros tempos. Es­te associativismo do polonês hoje é, em certos casos tão acentuado que os laços de união se transformam em patrimônio de várias gera­ções.
b) Vida cultural - Se para o imigrante europeu a escola tem um valor que está ligado à vida de sua pátria de cultura secular, de mo­do especial para o polonês isto se aplica, A Polônia, possuindo uma das mais antigas universidades do mundo, viveu um ambiente cultural médio. Não nego, contudo, que no século passado o acesso ao estudo de nível superior foi grandemente dificultado pela presença de governos estranhos ao povo. Assim mesmo, a cultura secular foi difundida se não entre os pobres, ao menos os de posição média conseguiram viver es­ta consciência de nação culta. Digo mais, e sem medo de errar que o Imigrante Polonês, pobre na sua maioria como veio ao Brasil, tinha os
substratos de uma cultura capaz de fazer história, pois era alfabeti­zado. Prova disso, como veremos mais adiante, são as inúmeras escalas erigidas com sacrifício e dedicação, não só aqui mas por todos os lu­gares em que se achou o polonês. É, portanto, algo concreto e inegá­vel com referência à vida cultural do Imigrante Polonês.
c) Vida religiosa - Falar em religião do Imigrante Polonês é tocar num dado vital em sua pessoa. Explicar a vivência religiosa de um polonês é tarefa dificílima. Religião, para êle, se vive e não se define. Mas, deve-se esclarecer o seguinte: se o Imigrante Polonês, em sua maioria absoluta, é cristão, foi devido à opção de um povo e a sua própria opção. Não é algo que se transmite por herança de pai a filho, mas é escolha autêntica de cada um com base na missão história de seu povo.
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Não nego que possa haver alguma excessão, como não nego que alguns afirmem o infantilismo na religião do polonês. Aos primeiros lembro o princípio gramatical "toda a excessão confirma a regra". Para os segundos pediria que fizessem um estudo sociológico profundo e, depois, me enviassem as suas conclusões.
Julgo que aqui seja oportuno esclarecer uns pontos negativos na vida do polonês. Ao fazer uma pesquisa como esta, deve-se ter bem presente não só o lado inteiramente positivo do imigrante. São neces­sários também os dados negativos. Por isso, se o imigrante polonês (falo do que chegou em Ijuí) foi, com o tempo, se unindo e se associan­do, esteve, por outro lado, muito agarrado a estes lagos de união a tal ponto de, em certos lugares,se tornar intransigente e incomuni­cável com os outros homens. Como quero demonstrar a participação do polonês na integração social de Ijuí, é necessária a presença deste dado negativo pois ele acarretou certas conseqüências no meio social deste município.
Também, na vida cultural, o Imigrante trouxe uma certa estru­tura que p fez, muitas vezes, esquecer que estava vivendo no Brasil e que era necessário abrir a suo visão para uma nova ordem de coisas. Polônia não é Brasil, apesar de ser de imenso valor um Bresil integrado por uma consciências cultural polonesa. Com isto não quero desva­lorizar o que o imigrante fez no campo cultural. Somente defendo o princípio de que ele poderia ter-se abrido mais à assimilação da vi­da cultural brasileira e assim seus filhos seriam mais responsáveis pela pátria que hoje formam. Veremos mais detalhadamente a ação da escola polonesa no capítulo seguinte. Quero, porém, apresentar meus cumprimentos aos jovens descendentes de poloneses que ainda hoje difundem a cultura de seus heróis antepassados. No modo como vem sendo realizada sua ação, estes jovens perecem todo o aplauso especialmente o conjunto folclórico "União Juventus" e a"Jovem Polônia de Porto Alegre", pois fazem de modo certo o que seus avós, talvez, erraram no passado.

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Para terminar este ponto vou apresentar um conjunto de valores que acho fundamentais no imigrante que da Polônia veio se integrar no Rio Grande do Sul, na colônia de Ijuí. Esses valores são expressão de sua capacidade de homem. É o feixe de valores reais que determi­nam um emigrante. No polonês são os seguintes: a) - A consciência de nacionalidade, que imprime um caráter dominante no homem. Muitas vezes se degenerou num falso patriotismo, mas  nem por isso deixou de ser um dado capaz de criar verdadeiros filhos ao Brasil. b) - A liberdade, que chega assumir feições revolucionárias.  c) - Profunda vivência da fé.  d) - Amor à terra e obstinação no trabalho árduo.  e) - Inteligência viva e inata.  f) - Enormes possibilida­des associativas.
4 - Aspirações.
No final deste capítulo é útil colocar alguma coisa sobre as aspiragões dos imigrantes.
Todo o Imigrante Polonês veio ao Brasil com o grande desejo de se realizar, sentir-se homem livre, membro de uma nação e em condições de viver seus princípios éticos. Alguém poderá dizer que o Imigrante Polonês veio buscar dinheiro. Não julgo totalmente errada esta afir­mação se ela for olhada sob o prisma de que o Imigrante Polonês veio buscar uma melhor condição de vida.
No início deste capítulo afirmei e aqui continuo a defender que o polonês não quis se evadir, escapar à responsabilidade de libertar  sua pátria. Se a deixou, foi para realizar a grande missão históri­ca do povo polonês no Brasil, pois isto está dentro de sua linha: vi­ver o cristianismo em todas as suas dimensões. Como  na Polônia do­minada não existia a possibilidade de desenvolver este cristianismo de promoção humana, foi no Brasil, país novo e de grande variedade de homens, que surgiu esta condição.
Além deste desejo de realização, vemos no Imigrante Polonês aquela aspiração de felicidade, tanto para si como para seus filhos.
Com isto, acredito ter dado uns certos contornos que possibi­litam ver nao só o indivíduo, mas de modo especial a pessoa do Imi­grante polonês.

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CAPÍTULO III  - O IMIGRANTE POLONÊS E O MEIO

A realidade social existe por existirem consciências capazes de dar feições comunitárias à ações e atitudes que englobam pessoas den­tro de um processo social e determinadas estruturas.
Hoje, Ijuí já é um todo social. A sua integração, talvez, não seja perfeita, mas está a caminho desta realidade concreta. Como já disse, ninguém pode negar que Ijuí avança espantosamente devido à par­ticipação de pessoas de diversas etnias. Entre estas eu situo a cola­boração polonesa, principalmente nos difíceis tempos da colonização.
A integração social e um processo evolutivo em linha ascencional contínua. Nunca se integrarão completamente todos os valores sociais. Haverá sempre a necessidade de progredir, avançar sob o risco do futu-ro. Começa a decadência de um povo ao parar este processo. É um fenô­meno   da história e que a sociologia hoje defende.
Ijuí, dessa mata no século passado, cedeu à força construtora do homem. No princípio, uma espantosa diversidade de imigrantes parecia começar um igual número de civilizações. Faltava comunicação de conquistas. Mas, fatores de inúmeras variedades condicionaram uma organização primária, porém fundamental na integração social. Foi a partir da es­cola, da igreja, do encontro de domingos nas festas ou casas comerciais, que Ijuí começou o grande caminho. Atualmente, 80 anos apôs estas primeiras arrancadas, o pesquisador se espanta vendo a complexidade e as raízes fundas deste processo. São o fundamento na estrutura social deste município os grupos de base. A astes, como verdadeiros causado­res da integração, o pesquisador deve procurar. No estudo da integração social do Imigrante Polonês, há ainda um outro fato a constatar.

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Aqui não são somente a complexidade e profundeza que perturbam, mas há também a falta de fontes para a compro­varão dos dados encontrados. Lamentável não terem sido escritas as primeiras experiências. Hoje o pesquisador da Imigração Polonesa , tanto de Ijuí como de todo o Rio Grande do Sul, se vê diante deste fato. Daí, o maior critério é a observação e a busca direta. Existe, portanto, a possibilidade de haver erros com referência a dados, no caso de acontecimentos históricos, e de modo especial à relação destes acontecimentos, pois as observações pessoais nem sempre sao completas. É por isso que esta pesquisa assume o caráter de ajuda a futuras bus­cas, são apenas alguns dados, idéias, reflexões e conclusões com refe­rência ao assunto.
1 - Situação do Colônia de Ijuí na época da checada dos Iigrantes
Como já está assinalado no princípio do presenta trabalho, Ijuí tinha uma paisagem física única: um grande mato. Apenas existia a pi­cada Conceição (Barreiro) e uns barracões na sede da atual cidade. Es­ses barracões eram, na sua maioria, de taquara e cobertos por folhas de palmeiirae e capim. Nelas foram alojados os imigrantes na medida que chegavam até receberem as suas terras. Depois de construir as próprias casas, deixavam os barracões e começavam a viver a sua vida.
0 imigrante chegava sonhando com casas prontas e comida abundan­te. A decepção, porém, era quase geral. 0 polonês ao chegar, encontrou uns já desanimados imigrantes provenientes da Rússia, outros tantos agentos do governo e uma extensa floresta.
Nos primeiros dias a comida era escassa. Depois de receber as suas terras (prazos), os mais decididos Imigrantes ae puseram no traba­lho árduo e difícil da derrubada do matas. A terra era viggem e incul­ta, mas dela alguns fizeram brotar o trigo. Durante nove meses veio a ajuda do governo. Neste tempo uns fo­ram trabalhar as suas terras e outros ficaram na expectativa de maior ajuda estadual.

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A chegada da primeira leva deu-se em 3 / 5 / 1891. A trajetó­ria percorrida está assinalada no mapa número 1 . Desde então, o núme­ro aumentou até 500 famílias em 1896. Imigrantes de outros etnias também chegavam em quantidades, porém, relativamente menores. Desde o início de sua colonização, a região esteve povoada por uma heterogeneidade enorme de tipos ( 19 etnias).
A situação política, nesta época de imigração, não era das me­lhores. Os imigrantes, ansiosos por paz e liberdade, encontraram uma revolução que os recebeu. A Revolução Federalista ( 1892-1895) foi causa de desordem, agitação, misérias e injustiças. Apesar de nin­guém ter morrido, os saques e atentados foram numerosos entre os colonos. Uma das conseqüências desta revolução, com respeito à Imigração, foi, no dizer do Engenheiro Edmundo Gardolinski, "o relaxamento dos costumes, o acirramento dos ânimos, e além disso, o rompimento dos gru­pos étnicos, até então, unidos e pacíficos* Os prejuízos materiais destes pobres imigrantes foram elevados, devido à requisição ilegal de alimentos e animais.
2 - Localização.
No mapa de 1915 (número 1) anexo a estes dados, ve-se gràficamente a localização dos primeiros imigrantes poloneses, comparada com os outros núcleos,
Logo que chegaram, muitos ficaram na própria sede da colônia; outros se deslocaram para as linhas a  Oeste e  Leste da atual cidade, espaço compreendido entre a Linha 8 Oeste e 5 Leste. Estavam, portanto, localizados nos arredores da cidade de Ijuí. A terra foi distribuída pelos agentes do Estado. Todo o imigran­te recebia um impréstimo do Governo Estadual a longo prazo. A paga foi feita por trabalhos em estradas ou mesmo com produtos agrícolas. A de­marcação foi bastante boa e as estradas de acesso foram construídas ra­pidamente pelos próprios imigrantes.

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A falta de conhecimentos agrícolas na maioria dos imigrantes poloneses aqui radicados deu a impressão de um fracasso geral com respeito a estes homens, Quando depois dos nove meses de ajuda governa­mental sobreveio a fome e a miséria, os mais destemidos já tinham o fruto de seu trabalho . Uma grande parte, porém,  nada tinha feito. Muitos, então, começaram o trabalho de construção de estradas que lhes garantia  um certo salário, suficiente para levar uma vida mais ou me nos digna.
Datam desta época a construção de certas ruas da cidade e da atual praça do centro, a Praça da República.
Nestes anos difíceis, tanto os poloneses como os austríacos lu­taram com ardor e dedicação para arrancar da terra o alimento de seus corpos. Se não melhoraram a sua situação pobre e de abandono, tinham ao menos o que comer, uma casa para morar e uma roça para cultivar . Mas o mais importante de tudo e que adquiriram uma certa experiência agrícola.
Em 1899, Augusto Pestana assumiu a direção da colônia. Homem sá­bio e capaz, Augusto Pestana recomeçou a organização da colônia. Recor­reu, primeiramente, ao governo estadual de que recebeu auxílio monetá­rio. Vendo a falta de imigrantes experimentados e, principalmente, com dinheiro, fomentou a imigração de homens das velhas colônias ( quanto à formação e expansão de seus núcleos, ver mapa número 1) . Com o iní­cio desta imigração, pelo ano de 1900, até a sua estabilidade, aproxi­madamente em 1915, está relacionado um outro acontecimento de grande importância: o deslocamento dos imigrantes aqui radicados. Os austría­cos deixarem as suas colônias e vieram parada cidade. Os poloneses, porém, com a possibilidade de vender as suas terras, abandonaram tudo e em sua grande maioria foram para Santa Rosa e Três de Maio. La demonstraram a experiência que em poucos anos tinham adquirido e a sua capa­cidade de homens capazes de construir e produzir.  (Deslocaçao ver ma­pa ngmero 1).

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Este fato da deslocação de poloneses de uma colônia quase orga­nizada para uma outra onde tudo estava por começar é bastante comple­xo para o pesquisador. Por que se deu este êxodo de poloneses ?
Para mim as principais causas sao estas: - a) - Em primeiro lu­gar, não julgo certo dizer que o Imigrante Polonês quiz evitar a inte­gração social, o problema se me apresenta numa ordem de coisas bastan­te diversa. A maior causa, no meu modo de ver, é que ele quis dar uma prova do que era capaz. Realmente, a atual colônia de Santa Rosa, tal­vez a melhor do Rio Grande do Sul, comprova a minha afirmação. Se os poloneses não se acertaram logo de início em Ijuí, foi devido a um erro do governo que não ofereceu as possibilidades para a execução do que eram capazes estes operários industriais. Mas, sob os anos da fome, o Imigrante adquiriu experiência e, para responder ao imperativo nacio­nalista de sua consciência, recomeçou novamente. A prova concreta está palpável está em Guarani, Santa Rosa e Tres de Maio. - b) - Uma outra causa foi a facilidade que se tinha para vender a terra e receber o dinheiro cor­respondente.  - c)- Só em terceiro lugar coloco a afirmação de que o polonês saiu de Ijuí porque para cá vieram ot alemães. Historicamente, sabe-se que a Polônia sofreu muito sob o domínio alemão. Existia, portanto, um certo "que" entre os imigrantes das duas nações. Isto, con­tudo, era facilmente superado e por isso não julgo que tenha tido conseqüências desta natureza. Em todo o caso, o fato do êxodo polonês de Ijuí é histórico e inegável e o resto é matéria para muitos pesquisa­dores. 0 que hoje se pode fazer a lamentar a saída de uma boa parte de imigrantes poloneses. Pobres como chegaram enfrentaram desde o início a dureza da vida e foram os verdadeiros alicerces do conseqüen­te desenvolvimento de Ijuí. Eles derrubaram as matas, fizeram as roças, as choupanas e estradas. Foram eles que possibilitaram o desenvolvi­mento dos alemães e outros imigrantes entregando lhes o fruto de sou esforço de anos inexperientes e difíceis.

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O deslocamento provou a qualidade do elemento polonês que aqui se instalou.  "Era, realmente, um ótimo elemento, capaz de construir, humanizar e integrar o Brasil", palavras do Dr. Martin Fischer, Dire­tor do Museu Antropológico de Ijuí. A prova real são as progressistas colônias de Santa Rosa e Três de Maio.
Atualmente, os filhos e netos dos imigrantes poloneses acham-se espalhados por todo o município. Mas existem ainda os grupos iniciais bem acentuados, como, também, os elementos de outras etnias. No mapa numero 2 aparecem assinalados os principais núcleos dos poloneses. Ha denominação aqui adotada eles estão principalmente entre as linhas 3 a 8 Oeste e na Linha 1 Leste. Na cidade residem várias famílias, en­tre estas se destacam 4 famílias polonesas vindas depois da última guerra. São as seguintes: Jósef Opalka, Bolesjlaw Bordzinski, Edmundo Ciaglo e Bronislaw Haase. No município existem umas 100 famílias - tronco de poloneses, a maioria na zona rural.
3 - Participação do Imigrante Polonês
A historia e a vida de Ijui esta inteiramente ligada a vida e historia do Imigrante Polonês criando uma civilização integrada pelo homem. Desde a chegada dos primeiros imigrantes, Ijuí começou assumir novas formas e a cultura desabrochou. Principalmente a vida cultural, social e religiosa de Ijuí tem os seus alicerces naquilo que consegui­ram fazer os pioneiros.
Hoje, Ijuí é um município em franco progresso. Este progresso desenvolvimentista é devido à realidade da integração de valores nos quais o Imigrante Polonês tem o seu lugar de destaque. É a partir de certos grupos básicos feitos primeiramente numa comunhão simples, sem distinção de aspectos que surge o processo da integração social. Ijuí é um desses municípios que se transformaram aos poucos, na mesma intensi­dade e profundidade que se fazia sentir a ação dos imigrantes de uma nação sobre os de outra e sobre o meio. Por isso, desde a sua fundação Ijuí está caminhando para algo sempre mais vivo.

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É um processo que vai se tornando mais difícil de ser analisado na medida em que se complexifica. Daí, a observação de um pesquisador poderá ser falha se não levar em consideração este aspecto no fenômeno social. São causas múltiplas que agem umas sobre as outras. Alguma coisa, porém, sempre é possível de distinguir. Vou trazer, logo abaixo, alguns dados da participagão do polonês no processo de integração de Ijuí.
Desde 1891 os poloneses começaram a participar na vida de Ijuí. Foram se dintinguindo em vários setores. A princípio, o que existia era um simples encontro de indivíduos. Pouco a pouco, começou uma co­municação de pessoas e surgiu a realidade social primária: os grupos básicos do atual município. Neles todos os imigrantes participaram . Na medida em que estes grupos começaram se relacionar entre si, surgi­ram para Ijuí feições sociais e culturais diversas. Os grupos básicos são fundamentalmente os mesmos apesar de situados em problemas diferen­tes. A estrutura social e cultural, pelo contrário, evoluiu. Nesta or­ganização, vou dar o que, com minhas observações e estudos, notei ser próprio dos imigrantes poloneses.

a) Vida Social e Cultural -   A vida propriamente social, em seus contatos primários, começou ainda nos barracões dos imigrantes. Eles são os primeiros fatores condicionantes da nova sociedade que es­tava para surgir. Neles os imigrantes, a princípio temerosos, aos poucos foram se encontrando em certas ocasiões, comunicando seus pen­samentos e sentimentos e assim criando um ambiente de confiança, ampa­ro mútuo e felicidade. Isto não só dentro do próprio barracão, mas tam bem com os imigrantes de outros barracões, de diferentes etnias .
0 Polonês, como está notado no capítulo anterior, viveu na sua pátria uma tensão interna que necessitava do apoio de outros. Aqui, em Ijuí, esta tensão se transformou em associativismo. Para ele é uma necessidade premente a vida compartilhada. Nesta comunicação ele encontra estímulo, o bom exemplo, a vontade de progredir e vencer .
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Nesses agrupamentos os poloneses buscavam a própria realização e se­gurança. 0 trabalho tornava-se mais ameno e o ambiente cultural mais elevado. Este fenômeno durou muitos anos e ainda atualmente podem ser encontrados exemplos típicos. Um caso é a permanência de poloneses nu­ma determinada área onde eles predominam. Hoje falar em linha uma Les­te ou linhas três ou oito Oeste é falar em núcleos essencialmente polo­neses. Este fato visto sociologicamente recebe grande importância. Nin­guém pode esquece-lo. É um fenômeno psíquico de donsequências na vida social. 0 encorajamento e o amparo mútuo foram os grandes fatores nos primeiros tempos da vida dos poloneses. Sem eles os Imigrantes se te­riam sentido fracos para vencer a floresta e lhe impor o homem civili­zador.
Uma série complexa de costumes e tradições surgiram dentro des­tes agrupamentos. Nos primeiros tempos eram fatores que possibilitavam a integração. Hoje, porém, se tornaram fatoires culturais que até certo ponto, dificultam a integração social global.
A segurança é a base do progresso. Em Ijuí, porém, a segurança que os poloneses estabeleceram em seus núcleos tornou difícil, até aproximadamente 1945, a integração biológica. Os matrimônios, por exem­plo, segundo um artigo publicado pelo Monsenhor Pio, ex-Vigário de uma  das paroquias locais, entre pessoas de diferentes etnias foram em seguinte proporção: 32,3% entre os alemães,16,9% entre os lusos; 8% en­tre os poloneses. Isto é pouco tendo presente a quantidade de elemen­to polonês radicado em Ijuí. O fenômeno, com a nova geração, tende a desaparecer. Sobre o problema da nova geração farei uma análise no fim do capitulo.
Uma outra coisa que um pesquisador deve anotar são os encontros e diversões dominicais.

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Indo à Missa, os colonos tinham possibilidade não só de falar com seus patrícios, mas mesmo com todos os outros imigrantes. Isto criava confiança e paz. As diversões eram poucas. As preferidas eram as carreiras, principalmente entre os poloneses. Como não existissem lugares preparados para este fim, improvisavam-se hipódromos nas estradas mais retas e planas. Normalmente a apos­ta girava em torno de meia garrafa de cachaça. Nos casos extraordi­nários a aposta chegava a uma garrafa inteira.
A tendência associativa se desenvolveu rapidamente. Já em 1896 era fundada em Ijuí uma associação denominada "Tadeusz Koscinszko" o idealizador da associação foi Stanislaw Klobukowski, delegado da "Sociedade Comercial Geográfica" de Lwów (Lembarg). Esta associação funcionou até mil novencentos e quarenta e nove. Tinha umas 150 fa­mílias inscritas, mas nem todas participavam. Por vários anos foi presidente José Dutz. A associação "Tadeusz Kosciuszko" tinha por finalidade unir os Imigrantes Poloneses, fornecer meios para poder conservar e desenvolver a cultura polonesa, proporcionai-lhes uma ocasião de encontro e amizade onde os problemas fossem resolvidos conjuntamente.  Pelo que um pesquisador pode pbservar, verá que esta associação atingiu em grande parte a sua finalidade. Os livros eram enviados em sua maioria da Polônia. Assim a cultura polonesa continuou sendo difundida entre os imigrantes e seus filhos. Reinou maior amizade entre todos e a união era o distintivo dos po­loneses. Lamentável é notar que nem todos participaram desta associa­ção, levando em conta a precária situação em que se encontravam na época da colonização. Outra coisa a se lamentar é o seu fim drásti­co. A sede incendiou-se e no seu lugar está funcionando atualmente a Rádio Repórter, à rua Ernesto Alves, esquina Benjamin Constante. 0 seu último diretor foi Jan Specjalski, há pouco tempo falecido. No Museu Antropológico da Faculdade de Filosofia local se encontram as atas da associação. São tidas como preciosa fonte histórica. A asso­ciação durou até abril de 1949, porém sob o nome de Sociedade Instrutivo-Recreativa "União" depois de 1938.

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Os primeiros estatutos fo­ram aprovados em 2 de abril de 1916 e estão no original no Museu Antropológico.
La pelo ano de 1906, na linha 1 Leste começou a "Sociedade Santa Ana" e na linha Bagé surgiu a sociedade "Jan III Sobieski". Antes ainda, em 1904 foi fundada na linha base, depois do rio Potiribu, a "Sociedade Santo Isidoro" e, logo após, a "Sociedade Escolar do Povo". Ambas as sociedades foram um grande benefício para Ijuí. Elas, também, testemunham o caráter associativo do Imigrante Polonês, (ver mapa nº 2).
Estas associações se desenvolveram grandemente e ainda muito tempo depois do deslocamento de boa parte de poloneses elas aparecem no ambiente social de Ijuí. Elas realizaram uma obra magnífica na in­tegração social deste município. São elas as responsáveis pela cons­ciência humana e crista que ainda hoje exista entre os descendentes de Imigrantes Poloneses. A prepara-lo do polonês para integrar a re­alidade de Ijuí foi obra dessas associações, pois assim êle vinha dis­posto à comunicação e dotado de um substrato cultural próprio.   Só com esta preparação individual é possível notar os efeitos e influ­ências de imigrantes de uma etnia sobre os de outra.
Uma outra contribuição do Imigrante Polonês no processo de in­tegração foram os apreciáveis resultados no campo educacional. Como já assinalei, a educação dos filhos, a alfebetização e a transmissão de cultura são no polonês valores básicos.
A alfabetização, como atualmente é vista, é a base da atual civilização. Os imigrantes, apesar de pobres e de baixo nível cul­tural, eram alfabetizados. Isto, num mundo analfabeto e subdesenvol­vido como vivemos, é um dado grandemente positivo .
Quando os imigrantes chegaram em Ijuí tinham tudo por fazer. Uma das coisas que imediatamente procuraram realizar foi a escola.

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Pelos trabalhos prestados na construção da atual praga da República, os poloneses receberam um terreno para a edificação da escola e da igreja. Quando concluida a escola, foi nomeado professor um estranho que nada entendia de polonês. Os colonos, então , reiniciaram os tra­balhos e construíram uma escola particular. 0 novo terreno foi doado por José Wolski e os gastos também correram em sua conta, não só os da escola, mas até os da primeira igreja. Orientador da obra foi o Padre Antoni Cuber, que depois trabalhou ao lado do primeiro profes­sor, Adam Zgraja. Outros professores desta escola foram: Andrzejewski, Aleksander Orlakowski e José Hamerski. 0 nome da escola era Adam Mickiewicz e estava ao lado da associação "Tadeusz Kosciuszko".
Na zona polonesa existia nesta mesma época outras escolas. Na linha 1, em 1908, foi erigida a Escola do Colono e o primeiro profes­sor foi Michal Szostkiewicz.
As escolas polonesas aumentaram chegando a 3 em 1913. No ano de 1920 estavam em pleno funcionamento duas escolas polonesas com um número de 104 alunos. Atualmente, já não existem mais escolas particulares de poloneses.
"As escolas primárias, no dizer de Edmundo Gardolinski, passa­vam a ser mantidas quase que exclusivamente com os recursos dos pró­prios colonos. Enquanto um abnegado doava o terreno, outros recolhiam o material necessário, e finalmente, todos reunidos, no maior espí­rito de colaboração, levantavam a casa destinada à instrução de seus filhos". Vemos, portanto, a heroicidade destes homens que longe de sua pátria pensavam criar filhos dignos à nova nação.
Ainda na vida cultural de Ijuí temos um outro fato a assinalar. 0 primeiro meio de comunicarão organizado da história do município foi fundado pelos poloneses. Em janeiro de 1909, Adam Zgraja (colono) iniciou o mensário "Kolonista1, mantido pela "Cooperativa Editora". Tiragem inicial, 300 exemplares. A impressão se fazia na casa paroquial sob a orientação do Padre Antoni Cuber.

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Foi suspenso em fins de 1910. Ressurgiu em 1914 sob o título de "Kolonista-Polski", a prin­cípio quinzenal e depois semanário. Este jornal durou até 1917, mas a sua publicação era feita em guarani das Missões sob o título "Se­manário das Associações". Adam Zgraja publicou,também, dois calen­dários anuais "Kolonisty", e uma História do Brasil em polonês pa­ra as escolas polonesas.
Como vimos, a obra social e cultural polonesa das primeiras décadas de Ijuí foi imensa. É certo que foi algo que aos poucos se realizou, e imigrante quando chegou, como já afirmei acima, não ti­nha vida social e nem estava dotado de nível cultural apreciável, mas deu generosamente o que tinha e os resultados não se fizeram esperar. 0 primeiro deles foi o desenvolvimento da consciência de sociedade no meio dos próprios imigrantes. A cultura também se difundiu e pre­parou uma geração de homens mais capazes de construir o Brasil. Ain­da mais esta vida social e cultural influiu nos outros imigrantes e possibilitou a aquisição dos seus valores. 0 que faltou,talvez, para que este aspecto do Imigrante Polonês continuasse a crescer no ritmo começado, segundo uma conclusão que cheguei, foi a carência de apoio na difícil década do vinte. Outra causa pode ter sido o deslocamento de boa leva de imigrantes para outros municípios. Fa­tos evidentes, porém, aí estão a testemunhar ainda hoje a grande contribuição polonesa.
b)- Vida Econômica - Economicamente o Imigrante Polonês foi bastante deficiente nos primeiros anos. Em primeiro lugar, a sua pre­paração era industrial. Depois, o ambiente de Ijuí da época de colo­nização não estava preparado para receber logo uma fábrica de tece­lagem, no caso polonês, ou de armamento, para os austríacos. Ainda mais, o polonês não tinha crédito suficiente para construir tão im­portante obra.
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0 maior erro, contudo, foi o governamental, pois não ofereceu as devidas condições para um florescimento econômico de que eram capazes os poloneses. A exata compreensão deste ponto é neces­sária para ver as implicações que gerou. A pobreza, por exemplo, em que se debateram os primeiros imigrantes, tanto poloneses como aus­tríacos, é algo decorrente deste fato.
A obra econômica de Ijuí é própria de outras etnias e se de­senvolveu muito depois da chegada dos pioneiros. Mesmo assim, os imi­grantes das velhas colônias do Vale dos Sinos, do Vale do Taquari, do Vale do Rio Pardo e da Serra, devem em grande parte o seu desen­volvimento econômico à obra dos primeiros poloneses e austríacos.
As atitudes básicas do ijuiense já estavam delineadas no seio dos inexperientes imigrantes europeus. Eles vieram para trabalhar e a falta de recursos os obrigou a se dedicar com todo o ardor na busca do alimento cotidiano. A natureza adversa possibilitou este hábito de trabalho. A iniciativa particular, tão característica no homem de Ijuí, se desenvolveu com a possibilidade que os imigrantes tinham de adquirir a sua terra. Portanto, iniciativa particular e dedicação no trabalho já eram característicos dos pobres colonos de 1900.
Com a imigração das colônias velhas, estas atitudes se desenvol­veram ainda mais, pois encontraram condições que possibilitavam me­lhores resultados, Cultivando a terra já preparada eles fizeram cres­cer em si o gosto pelo trabalho próprio, que criou o grande surto progressista do município. A economia atual da região deve algo aos heróis pioneiros.
Tenha isso sucedido desta forma e não de outra já é fato consu­mado. 0 certo é que, se o imigrante sofreu e demorou adquirir expe­riência agrícola, mais tarde o elemento polonês contribuiu no desen­volvimento econômico por meio da agricultura. Neste campo, aliás, ain­da hoje se nota a sua ação. Logo que chegaram, alguns derrubaram as matas, semearam, plantaram e, quando parou a ajuda governamental, já tinham seus frutos.

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Esses não conheceram a fome. Os outros que trabalharam nas estra­das viam-se obrigados a comprar os gêneros de primeira necessidade em Cruz Alta. Uns terceiros viviam da ajuda governamental, que lo­go parou. Quando sobreveio a fome, houve muitos roubos, embriaguez e até desavenças.
0 pior mal para os colonos e mesmo os grandes responsáveis pe­lo  atraso técnico das plantações foram os comerciantes. Segundo um testemunho do Padre Antoni Guber, os colonos plantavam e colhiam, mas os frutos de toda a população eram amontoados no bolso dos co­merciantes. Eles faziam os preçua e a paga era em objetos, roupas de pouco valor, ou, pior ainda, anotavam crédito sem juro em favor do colono. Pouco dinheiro parava na mão do agricultor. Em 1897 pagava-se oito mil-réis ao saco de milho, o feijão, a vinte oito mil-réis. Como se ve, era uma bagatela considerando o valor do produto. Este é um esclarecimento que não pode ser esquecido pela conseqüência que acarretou, isto é, o imigrante, de modo especial o polonês, não tra­balhava para si mas para o comerciante.
Aos poucos, porém, os colonos foram se livrando deste grilhão e começaram a crescer economicamente tendo, já depois da criação do município,uma posição média. 0 Imigrante Polonês se destacou no cultivo do trigo, milho e feijão. Desenvolveu um progresso apreciá­vel na suinocultura.
c) Vida Religiosa - 0 Imigrante Polonês, sendo profundamente religioso, necessitou desde a sua chegada a presença do sacerdote e um templo para a oração. A importância da igreja entre os colonos é enorme. Em terno dela os imigrantes se sentem unidos. Nos primeiros tempos toda a vida social e cultural gravitou ao redor do templo e do Padre. É o que, em sociologia, chama-se a sociedade piramidal. Ho­je, a vida se tornou pluralista, mas assim mesmo a religião é o estímulo interior de cada filho de poloneses.

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A minha opinião é que a nova geração assume a religião como um dado vital de seu existir e não tanto com aquele  caraterístico de fanatismo. Ijuí é um dos poucos municípios do Rio Grande do Sul com uma tão grande diversidade de religiões. São ao todo nove ritos. E esta diversidade de cultos provém desde a época da colonização. Como fa­to cocprovante temos a vinda de um pastor protestante antes de um sacerdote católico.
Num tal meio se achou a vida do Imigrante Polonês . Com uma milinar vivência crista e católica, o homem polonês necessitou do contato direto com Deus. Por isso, uma das primeiras preocupações foi construir a igreja.
0 primeiro templo católico de Ijuí foi edificado entre os anos de 1894 a 1896. O material foi cedido por José Wolski. 0 terreno foi doado pelo governo bem ao lado da praça construída pelos pclonses. No mesmo lugar se encontra atualmente a Igreja da Natividade . É interessante notar que as portas do atual templo são as mesmas do antigo e que foram esculpidas por José Pittas (um dos primeiros imi­grantes ) .
Em 1895, chegou em Ijuí o primeiro sacerdote católico Pe. Antoni Cuber, procedente da Alta Silésia. Homem sábio, experiente  , compreensivo e de grande vivência religiosa. Ele conseguiu realizar uma obra social magnífica e seu nome está ligado à história de Ijuí. Foi excelente educador. Durante vários anos ajudou os profescores da escola polonesa. Soube orientar os colonos na construção de suas ca­sas. Difundiu entre o povo princípios de higiene e aconselhou o uso de roupas mais confortáveis e asseadas. Foi também um dos idealizadores do primeiro jornal da colônia, o "Kolonista". Ficou nestes lu­gares até que a sua débil saúde permitiu. Foram ao todo uns vinte anos de trabalho em prol do futuro da então colônia Ijuí. Em 1903, chegaram os padres da Congregação das Missões.

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Mais tarde,  quando saiu o Pe. Antoni Cuber (1915),  deu assistência reli­giosa o Pe. Stanislaw Golabowski. Depois, ainda aparecem os nomes dos padres.Wiktor Skraba,  Jacenty Miesopust e Jan Zygmunt  (1918  a 1924).
Nos núcleos do interior da colonização polonesa aparecem vários templos, mas que merece eepecial destaque é a igreja de Santa Ana na Linha 1 Leste. 0 ponto em que está situada a igreja 6 de importância apreciável, tanto assim que está para ser fundada uma paróquia a mais neste município, sendo ela a cotada para eer a igreja matriz.
Como nos interessam de momento os fatos dos primeiros imigran­tes, considero suficientes os dados acima apresentados para compreen­der a participação religiosa polonesa na forma grão de um elemento no­vo - o homem brasileiro. Hoje o cristianismo é uma caraterística religlosa de Ijuí, fruto da vivência cristã de uma enorme heteroseneidade de pessoas entre as quais está o Imigrante Polonês com sua viva fé.
e) Conseqüências de cortas atitudes do Imigrante Polonês.  Analisando sob o aspecto negativo, isto é, do que poderia ter feito e não fêz, a vida do Imigrante Polonês nas primeiras décadas pode eer apresentada com os seguintes conseqüências: - 1°- 0 Polonês era agarrado às tradições e costumes não só no que eles tinham de positi­vo, mas até nos seua aspectos um tanto estruturais. Isto dificultou a troca e a assimilàção de valores culturais das outras etnias, ape­sar de ele ter criado um ambiente de civilização. - 2o- 0 Polonês apresentou-se muitas vezes vingativo. A paixão pela liberdade é uma realidade acentuada em eua vida, mas assumiu formas por vezes desperonolizantes.  - 39- 0 Imigrante Polonês esqueceu em certas ocasi­ões, a sua condição de membro dum novo país e portanto devedor de respeito, gratidão, além do mais, amor pátrio.

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Digo isto com refe­rência a educação onde o estudo mais aprofundado da língua portuguêsa e da Nação Brasileira no contexto das outras naçõs do mundo às vêzes; foi desleixado. 
- 4º -0 Homem Polonês deixou-se vencer, em determinados lugares e ocasiões, pelo conformismo. 0 mundo era acei­to como se apresentava e ele não se preocupou impor o humano, o ra­cional. Este fato foi de poucos, mas afetou o grupo todo.
Estes eram os pontos que julguei importantes transcrever e ana­lisar. A feição acima apresentada é despersonalizante, mas necessária numa pesquisa sociológica, onde se busca a verdade expressa na reali­dade. Não quero, porém, que se confundam alhos com bugalhos e, por ter apresentado os dados acima, não quero dizer que o Polonês nada é e nada fez. O que quis mostrar foi a sua verdadeira contribuição no princípio da colonização. Para a compreensão de sua participação foi necessário lembrar e sua omissão.
f) Influências causadas e sofridas.- Os valores, os costumes, as práticas impostas ao meio são outro fato que comprova a integra­ção de um elemento estranho determinada no meio social. Na assimila­ção conjunta não há somente troca de valores, mas existe também uma criação de terceiras formas mais próprias e adequadas à vida integra­da. É um feixe de fatores psíquicos e culturais próprios dum povo e, mais particularmente de um indivíduo, que entram em ação com os outros fatores reforçativos ou recalcadores destas possibilidades. Surgem, então, na nova realidade social, outros costumes e formas de viver.
A principio, os poloneses introduziram a carroça no meio ru­ral. Este instrumento de locomoção se desenvolveu espantosamente en­tre todos os imigrantes. 0 lugar em que foram introduzidos, por outro lado, ofereceu tração mais reforçada a assim as carroças se tornaram maiores o mais práticas para as viagens longas.
No que se refere a agricultura, os poloneses introduziram a triticultura e o plantio do soja, hoje altamente desenvolvidos.  0 soja I o principal produto da região. Quanto aos costumes que o Imigrante adotou à sua vida, aparecem o chimarrão do gaúcho, alguns preparos alimentares aos italianos... etc...

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0 feitio das roupas também foi mudando à medida que cres­cia a integração. Como já disse, é neste campo que se notam as maio­res transformações. Não vou me ater a uma análise detalhada devido à extensão da matéria. Valores criados em conjunto temos as primeiras cooperativas.
4 - Atual Participação do Imigrante Polonês em Ijuí.
0 mundo e a história caminham passos largos. Com eles vai o homem, o seu verdadeiro intérprete e construtor. Com as transforma­ções sentidas nas últimas décadas, tornou-se evidente a necessidade de uma maior participação de todos na solução dos próprios problemas.
Ijuí é um município a caminho da integração. Com a descoberta da nova dimensão do universo, o homem ijuiense viu-se na obrigação de colaborar na construção dum mundo mais vivificado pela consciên­cia, mais justo, mais cheio de amor e paz como nos diz o Evangelho de Jesus Cristo.
Nesta contingência, os homens de Ijuí se depararam com a gran­de necessidade de resolver de modo conjunto os próprios problemas. Surgiu, então, o Movimento Comunitário, do qual já fiz uma referên-cia nas primeiras páginas deste trabalho. Experiência única do Brasil, o Movimento Comunitário de Base engloba hoje todo o município. Operários e agricultores, industriais, jovens e velhos, todos, em fim se sentem respenoáveis por sua comunidade, a base da grande Comuni­dade: o Brasil. Por isso, procura-se despertar uma consciência comu­nitária que promova o homem. No interior está sob a forma de Frente Agraria. Para o grande efeito deste movimento, desde 1961 estão sen­do feitas reuniões em pequenos grupos básicos com lideranças próprias. Daí está surgindo o que sera amanhã o município de Ijuí. Nele uns se engajaram imediatamente, outros demoraram e uns terceiros se recu­saram.

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Mas ninguém pode parar. É o processo de integração social que se desenvolve e exige esta participação. Em tal situação é que vamos passar a uma rápida análise na participação do Imigrante Polonês, ou melhor, de seus filhos neste processo.
Em primeiro lugar, desde que se queimou a sede da Associação Tadeusz Kosciuszko", a vida social e cultural pareceu cair entre os poloneses. Os meios de comunicação, a facilidade de encontro e as inúmeras escolas permitiram que tal não acontecesse. Em junho de 1962 surgiu um Centro Cultural Polonês, que ainda hoje existe. Duran­te dois anos foram feitos programas radiofônicos semanais com grande proveito para todos. O Centro tem por finalidade levar os poloneses com sua cultura a uma participação mais valiosa e profunda na vida brasileira. Quer cultivar o coração brasileiro-polonês nesta realida­de que é a nossa Pátria. Tem a sua inspiração no Movimento Comunitá­rio.
É com pesar que o pesquisador nota uma reserva dos filhos dos imigrantes poloneses com referência ao movimento Comunitário. Na zo­na rural surgiram grupos básicos formados por poloneses, mas a parti­cipação é reduzida. São apenas uns poucos núeleos comparados com o restante, como se vê no mapa anexo (mapa nº 2).
0 despertar se deu em todo o município, mas houve uma certa re­tirada por parte da zona polonesa, coisa aliás muito normal. 0 Movi­mento promove cursos, preside reuniões, difunde conhecimentos técni­cos no meio rural.
Neste novo rumo que toma Ijuí há necessidade de participação para uma integração social mais profunda e vital. Nele já se inseriu o Centro Cultural Polonês. É este Centro que procura atualmente realizar o despertar das consciências dos polonesas. 0 colono descendente de poloneses está fundamentado, como os outros agricultores, na pequena propriedade rural.

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Com o aumento da população,  comegou-se fazer sentir a falta de terra. Famílias in­teiras se deslocaram, então, para o Paraná e Sul de Mato Grosso. Para evitar este êxodo rural, empreendou-se em todo o município uma campanha em prol da mecanização da lavoura. Todo o colono, porém, é reservado às novas descobertas científicas. Isto se deu também na zo­na polonesa onde o emprego de técnicas agrícolas é ainda muito defi­ciente.
A outra resposta foi criar uma consciência de comunidade antre os colonos. Nesta já houve mais adesão, mas é apenas o comego da caminhada em busca de uma legislação de defesa do colono.
Nesta situação o descendente do Imigrante Polonês também se encontra. A sua contribuição, contudo, é pequena. Olhando mais pro­fundamente já é um passo na defesa de seus direitos de agricultor .
Nos últimos anos, alguns poloneses se vêm destacando na vida de IJuí. Ha alguns filhos de colonos que hoje são duma posigão social respeitável, outros, estudaram e agora contribuem com a sua ciência na difusão da cultura.
Necessário, porém, seria a participação concreta e profunda de todo o descendente dos imigrantes poloneses no atual momento histó-rioo que vive o município. Não quero dizer que ele nada está fazendo,
mas sim que poderia dar-se mais para que quanto antes apareça um Brasil como todo social  único.
Mas quando o pesquisador analisa a atual participação do ele-mento polonês, ve imediatamente um problema maior, a Nova Geração, isto se dá também com as outras etnias. Ha necessidade de viver o Movimento Comunitário, mas a integração se dá aos poucos. Sp a no­va geração está inteigamente aberta aos problemas do mundo de hoje.
5 - A Nova Geração .
0 momento histórico em que vivemos é caracterizado pela tran sigão.

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Todo ma complexo de valores considerados imperecíveis estão hoje cedendo a uma ordem das coisas. Novas direções são tomadas. As visões convergem para o mesmo ponto, porém, de um modo quase to­
talmente diverso. A vida vem marcada por esta missão a cumprir. Is­to tudo é Nova Geração.     Dentro desta visão por ela assumido surge um problema que atinge as raízes da atual estrutura social. 0 jovem de hoje quer ser autêntico. Neste prisma de autenticidade ele vê também, a missão histórica que deve realizar. Para formar esta consciência de história ele deve vivificar o passado no presente e no futuro.
Mas, como ele está inserido numa determinada realidáde social, difícil se torna realizar os dois aspectos de sue vida: ser auténtico consigo mesmo e ser fiel à missão histórica começada por seus avós. É neste plano que se acha a nova geração.
Entre os descendentes, esta nova tendência dos jovens, é mer­cante entre os poloneses. 0  jovem polono-brasileiro quer ser au­têntico consigo mesmo, quer ser mais brasileiro do que polonês. Nesta visão de autenticidade ele vê que é necessário ser fiel à mis­são histórica que seua avós criaram, pois nela existem valores pere­nes à espera duma resposta franca e leal. Só o jovem pode realizar estes dois planos. 0 problema, porém,  é profundo levando em conta o ambiente em que se acham integrados estes jovens.
Nas observações feitas, notei que o jovem descendente do Imigrantie Polonês antes de aceitar o que muitos de seus pais querem, prefere romper completamente com o passado e viver só o que acha de bom no presente.
Torna-se necessário, então, a difusão do que realmente é vida e é missão a cumprir. Os nossos avós poloneses nos legaram um patri­mônio histórico para que o desenvolvovéssemos . É toda a nação polo­nesa que palpita em nossos peitos e suplica fidelidade, não à sua causa, mas sim fidelidade ao Brasil no qual a Polônia tem a sua parte.

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Oa filhos da Pátria Polonesa vieram representar um povo de vivência histórica milenar e hoje nos pedem, ao lado da autenticidade, esta consciência de responsabilidade daquilo que nos cabe como brasilei­ros integrados. 0 Brasil será mais humano e cristão se nós respondermoe num plano de missão histórica, como fizeram nossos avós.
A nova geração e dinamismo, força construtora também entre os polonêses. Torna-se, sòmerte, necessária a exata compreensão por par­te dos jovens da sua situação e da necessidade que tem os outros das suas vidas.

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CONCLUSÃO
Como conclusão do presente trabalho, faço três breves reflexões: 1) - Ijuí espera atualmente que o polonês responda completamen­te ao chamado de união e de formação de comunidade. Estamos caminhan­do e construindo e formando um povo: o Brasil de amanhã. Torna-se pre­mente a necessidade de todos partipiparem mais ativamente. 0 polonês deve hoje pôr à disposição o seu grande feixe de valores. 2) - No processo de integração sojial de Ijuí o Imigrante polonos atuou ora em um sentido ora em outro, mas sempre procurou estar presente. A sua história em Ijuí é uma verdadeira epopéia. Hoje, apesar das dificuldades existentes, oc filhos e notos dos primeiros imi­grantes poloneses já procuram colaborar de modo mais concreto. Prova disso é o aumento gradual de descendentes de poloneses que freqüen­tam cursos superiores ou se especializam em vários ramos profissionais. No início a participação foi por meio da enxada, mas atualmente é por meio do preparo científico e técnico. Ainda há muito por fazer. 0 pesquisador sociológico sempre se sente satisfeito ao notar que al­go nasceu, pois todo o fato social é vital e, portanto, suscetível de crescimento. Eu digo, no final desta pesquisa, que muita coisa apren­di com este estudo e que ele we deixa feliz, pois assim vi a grande ação dos pioneiros, a obra de meus país; e a possibilidade que tenho de fazer algo.
3 -A minha terceira reflexão está fundada no homem brasileiro, fruto da integração social de diversas etnias. É para ter um Brasil para os brasileiros e dos brasileiros que nós damos a nossa contribui­ção. Nenhum descendente de europeus se pode dizer verdadeiramente in­tegrado no meio em que vive. Ha ainda alguma coisa por fazer. 0 Imigran­te Polonês integrado no município de Ijuí acarreterá uma vida social mais profunda, o ambiente cultural elevado e uma consciência de comu­nidade. Além do mais, se integrando ele realizará suas aspirações: ser homem livre, vivendo em felicidade e paz juntamente com os outros,
Jjuí, 13 de junho de 1966.

4 comentários:

  1. Excelente trabalho parabens!!

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  2. boa tarde.
    me chamo lorena rosa, minha avó nasceu em ijui, no inicio do seculo passado, chamava-se johanna radziwill, o pai dela chamava-se jorge radziwill.
    gostaria de mais informações sobre eles e/ou como descobrir mais sobre meus antepassados.
    vocês podem me ajudar?

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  3. Com referência ao embarque, temos um testemunho de José Wolski, que integrou uma leva de 100 famílias polonesas vidas ao Brasil. 0 tre­cho que cito se encontra no precioso tratado sobre Imigração e Coloni­zação Polonesa do Engenheiro Edmundo Gardolinski. (Enciclopédia Rio-Grandense - vol. 59). - "No dia vinte e cinco de novembro de 1880, no porto de Bremen (Alemanha), embarcaram no navio "Bismark" cerca de 100 famílias polonesas com destino ao Brasil. Provindas das vizinhanças de Warszawa e Kalisz. Aportaram no Rio de Janeiro em 25 de dezembro do mesmo ano. Poucas dias após, seguiram viagem, via marítima, até Porto Alegre, onde foram embarcados de trem até Santa Maria. Daí fo­ram encaminhados para "Silveira Martins" onde permaneceram quatro me­ses. Desta localidade, alguns seguiram em carroças e a maioria a pé, com destino a Ijuí. A sua chegada ao término da viagem foi assinalada em 3/5/1991. Permaneceram na Vila, cerca de um mês. Deixavam as esposas, filhos e haveres no "barracão dos imigrantes", enquanto os homens seguiam a pé para o mato, a fim de tomar posse das colônias (prazos)". Aqui esclareço novamente que algumas famílias vieram do centro da Polônia, uma das quais era a dos Wolski, mas a maioria absoluta era do "governement" de Lodz.
    asdatas
    1880
    1991
    Nao-há-equívoco
    NÃO seria 1890 e 1891?

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  4. Interessante esse trabalho; parabenizo autor...

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